Separação
E então vejo que ela se foi.
Sinto-lhe, ainda, o perfume,
que não se renovará.
Como sempre tão delicada ...
tanto me alertava para sua partida ...
- olha, benzinho, talvez uma mulher mais próxima...
- Não saia de sua rotina, não ...
E eu, meu Deus, abriguei-me na tolice
de não ouvir o que ela me disse.
Como a morte, Vinicius*,
o adeus chegou-me pelo telefone.
Punhal inacreditável.
Punhal doloroso,
que me rasga peito e alma
e me devolve para o horror
que mistura solidão, angústia e dor.
Por tudo que já passei
não me assalta a ira.
E até agradeço, entre um e outro choro,
os inúteis gestos de consolo.
E até retribuo com um automático "estou bem",
sem sequer saber a quem.
Continua-me a certeza
que só ela amei.
E essa tanta tristeza,
que só eu sei...
As horas da noite já não me trazem sua voz.
Vôos atrasados, não mais. Só esse silêncio atroz.
Mas ainda sinto o seu corpo
e bebo de sua alma.
E vivo essa saudade
que nada acalma.
Essa agonia de saber,
que junto a ela,
foi-se meu motivo de viver.
Mas não penso, filho, em suicídio.
Pois de morte já tenho o bastante.
Em tantas outras vezes
vi o meu chão se abrir
e só por teimosia continuei a ir.
Mas, talvez agora, aquele excesso de seguir
impeça-me outra caminhada
e acentue esse gosto do nada.
*da poética de Vinicius de Morais.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 2231 reads
Add comment
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Vagos | 0 | 3.090 | 08/21/2014 - 22:37 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada na Sabedoria | 0 | 5.641 | 08/20/2014 - 16:07 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada no Saber | 0 | 5.213 | 08/19/2014 - 16:33 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitas | 0 | 5.330 | 08/18/2014 - 14:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Pobres velhos... Tristes tempos... | 0 | 6.277 | 08/16/2014 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | A dor de Cesária | 0 | 2.039 | 08/16/2014 - 01:38 | Portuguese | |
Poesia/Love | As Histórias | 0 | 6.504 | 08/14/2014 - 16:54 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte X - Matéria e Mente | 0 | 4.809 | 08/14/2014 - 16:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Ana e Flávia | 0 | 2.008 | 08/13/2014 - 15:50 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IX - Deus e a Natureza | 0 | 4.480 | 08/12/2014 - 23:51 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os Pais | 0 | 3.175 | 08/10/2014 - 14:53 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - A Ética - Livro III, IV e V - A Moral Geométrica | 0 | 5.750 | 08/10/2014 - 03:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - Livro II (Da Mente) o Homem | 0 | 1.607 | 08/08/2014 - 15:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - A Ética - Preâmbulo e Livro I | 0 | 4.773 | 08/07/2014 - 15:13 | Portuguese | |
Poesia/General | Saguão | 0 | 3.263 | 08/05/2014 - 16:35 | Portuguese | |
Prosas/Others | Jorge Luis Borges - O OUTRO - Resenha | 0 | 7.412 | 08/05/2014 - 15:40 | Portuguese | |
Poesia/Love | Demiurgo | 0 | 3.864 | 08/03/2014 - 16:43 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - O Progresso do Intelecto | 0 | 3.665 | 08/02/2014 - 22:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte V - Tratado sobre a Religião e o Estado | 0 | 6.865 | 08/01/2014 - 16:42 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IV - após a expulsão | 0 | 7.423 | 07/30/2014 - 14:42 | Portuguese | |
Poesia/Love | Cristais | 0 | 3.078 | 07/29/2014 - 01:44 | Portuguese | |
Poesia/General | Temporal | 0 | 5.396 | 07/26/2014 - 21:24 | Portuguese | |
Poesia/General | Livres | 0 | 3.941 | 07/26/2014 - 01:05 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitastes | 1 | 2.896 | 07/25/2014 - 23:49 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte II - A formação do jovem Baruch | 0 | 4.937 | 07/24/2014 - 16:08 | Portuguese |
Comments
Re: Separação
Pai,
Lindo teu poema, eis que nós ressalta o quanto é fragíl a relação entre seres humanos.
Abraços
De sua filha
Re: Separação
Caro amigo.
Ótimo poema, desde a forma até ao conteúdo.
Um abraço,
REF
Re: Separação
LINDO, GOSTEI!
MEUS PARABÉNS,
MarneDulinski