O Mestre e o Rio

Assim com um rio que acolhe afluentes, vertentes
e se disponibiliza para refletir o horizonte,
deixa em seu percurso a mostra da sua riacheza...

Assim o mestre que acolhe seus colegas e docentes,
e de forma entusiástica contagia ao corpo discente,
deixa em sua trajetória, marcas de sua grandeza...

Ora, diga-me, pois com quais instrumentos podereis medir este estado de riacheza?

Se as turbulências das intempéries, acaso comprometam este espelho d'água...

Se as influências de outras correntes, acaso comprometam sua chegada ao mar...

Ora, diga-me, pois com qual compasso, régua e esquadro podereis medir esta grandeza?

Se a franqueza dos destemperos, acaso comprometa este espelho d' alma...

Se a estreiteza dos homens te atinja, acaso comprometam sua chegada ao lar...

Espelho d'água em analogia ao espelho d' alma,
ser rio e ao mar pertencer e para ele caminhar,
atravessando pântanos, vales, planícies, construindo cidades, dando vida a vilarejos,
permitindo-se servir, sem se privar de suas fontes.

Espelho d' alma em analogia ao espelho d' água.
Ser mestre, pertencer à comunidade, ensinar,
planejar, edificar saberes e lançar novos valores.
Abrir-se a novas idéias, sem abrir mão das convicções,
do precioso conhecimento, dos princípios (tão caros), da ética, de suas vias de incentivo.

Se a riacheza de um rio não pode ser medida por sua extensão ou profundidade física,
também a grandeza de um homem não pode ser medida por sua estatura ou idade cronológica.

a esse estado de riacheza que simboliza a nobreza do espírito do rio

a esse espírito de grandeza que simboliza a humaneza do estágio que alcança a vida humana

a esse estado de coisas que nos tocam se nos permitimos tocar, sem prévios julgamentos, ou apanágios

a esse estado de espírito que nos
permitimos enlevar, com prévios adágios,

Isso nos possibilita entender,
compreender os limites finitos da existência humana

Como nos entusiasma a indagar, a buscar
a infinitude de possibilidades da convivência humana:

que o mestre assim como o rio continue a seguir sua missão

que as lembranças das ações, idéias e pensamentos continuem a fomentar a discussão,

que o raciocínio rápido, o andar ágil, o deslumbramento ante o novo, o engajamento social continue a orientar a nossa função,

que suas palavras sejam medidas de um aprendizado, de um conhecimento que se passa como quem efetivamente se doa, para a lição,

Missão esta, tua e minha, assumida como nossa, no "andante continuum" dessa orquestração

Discussão, de um diálogo teu e meu, nosso, posto na concretude do crescimento da ideação

Função, de educadores e, médicos por profissão, mas seres humanos por vocação

Lição, de mestres, de colegas, de alunos, de pacientes, no eterno ciclo de nossa formação...

AjAraújo, homenagem ao professor Alfred Lemle, UFRJ, em Abril de 2003.

Submited by

Thursday, February 18, 2010 - 20:29

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 15 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Comments

AjAraujo's picture

Assim com um rio que acolhe

Assim com um rio que acolhe afluentes, vertentes
e se disponibiliza para refletir o horizonte,
deixa em seu percurso a mostra da sua riacheza...

Assim o mestre que acolhe seus colegas e docentes,
e de forma entusiástica contagia ao corpo discente,
deixa em sua trajetória, marcas de sua grandeza...

MarneDulinski's picture

Re: O Mestre e o Rio

LINDÍSSIMO TEXTO, EM HOMENAGEM AO PROFESSOR ALFRED LEMLE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO/BRASIL!
Meus parabéns,
Marne

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated As folhas secas 0 2.236 07/15/2011 - 11:04 Portuguese
Poesia/Intervention O que restou? 0 3.074 07/15/2011 - 02:16 Portuguese
Poesia/Intervention Onde se encontra? 0 2.310 07/15/2011 - 02:01 Portuguese
Poesia/Acrostic Angústia 0 4.088 07/15/2011 - 01:45 Portuguese
Poesia/Intervention A poesia é minha terapia 0 3.818 07/15/2011 - 01:30 Portuguese
Poesia/Intervention Canto de Esperança 0 7.777 07/15/2011 - 01:07 Portuguese
Poesia/Meditation Para os que virão (Thiago de Mello) 0 5.204 07/15/2011 - 01:06 Portuguese
Poesia/Meditation Fases (Hermann Hesse) 0 2.192 07/15/2011 - 01:05 Portuguese
Poesia/Love Diferenças (Alexander Pushkin) 0 3.183 07/14/2011 - 18:40 Portuguese
Poesia/Intervention O Homem que Outrora Fui... (Alexander Pushkin) 0 7.891 07/14/2011 - 18:35 Portuguese
Poesia/Dedicated Aos meus amigos (Alexander Pushkin) 0 1.271 07/14/2011 - 17:19 Portuguese
Poesia/Intervention Elegia (Alexander Pushkin) 0 6.139 07/14/2011 - 17:15 Portuguese
Poesia/Love Queima o sangue um fogo de desejo (Alexander Puchkin) 0 1.601 07/14/2011 - 17:10 Portuguese
Poesia/Meditation Versos anunciam mudanças: estações do ciclo vital 0 4.192 07/14/2011 - 13:13 Portuguese
Poesia/Intervention Verborragia poética 0 1.839 07/14/2011 - 13:11 Portuguese
Poesia/Haiku Enseada e Cortina (Seleções de Haikais: III-V) 0 3.366 07/14/2011 - 13:08 Portuguese
Poesia/Dedicated Vassouras: beleza da serra 0 1.621 07/14/2011 - 13:06 Portuguese
Poesia/Meditation Canção (Bertolt Brecht) 0 2.347 07/14/2011 - 10:38 Portuguese
Poesia/Meditation Canção do Remendo e do Casaco (Bertolt Brecht) 0 8.058 07/14/2011 - 10:34 Portuguese
Poesia/Intervention Andavam de noite (Fernando Pessoa) 0 1.640 07/14/2011 - 10:28 Portuguese
Poesia/Intervention Mar (Sophia de Mello Andresen) 0 2.946 07/14/2011 - 10:25 Portuguese
Poesia/Meditation Água que a água torna (José Saramago) 0 3.843 07/14/2011 - 00:43 Portuguese
Poesia/Intervention Poema à boca fechada (José Saramago) 0 4.157 07/14/2011 - 00:40 Portuguese
Poesia/Meditation Fala do Velho do Restelo ao Astronauta (José Saramago) 0 2.432 07/14/2011 - 00:35 Portuguese
Poesia/Love Intimidade (José Saramago) 0 3.321 07/14/2011 - 00:33 Portuguese