Lembro-me

Lembro-me quando as árvores eram filósofos e os carros do lixo iam a cem á hora pela avenida.

Lembro-me dos semáforos serem agentes secretos, tristes e abandonados como os livros que ficam por ler

Lembro-me daquela perseguição, da bala atravessando a parede, a poeira dos pneus nos olhos e os ouvidos encostados ao peito do medo desejando não morrer.

Lembro-me da luz azul e da farmácia de serviço, de uma bíblia manchada de rum e de tabaco.

A dose de acido foi de mais, já não vejo Lisboa e todos os policias tem o andar dos pássaros.

Os miúdos na praia cheiram cola e a poesia só serve quando a solidão parece uma publicidade.

Por favor Deus sai da tua igreja, olha como estão os olhos de quem se anestesia.
Depois do amor aquele homem perdeu a vontade e só foi capaz de dar mais um nó na corda.

Lembro-me de correr como um comboio, qualquer aventura termina quando o mundo nos parece frágil como um trapézio.

Lembro-me de andar dias sem dormir, de algumas horas deitado contigo no chão. Talvez todas as respostas toquem um dia o coração dos homens.

A dose de acido foi de mais, já não vejo Lisboa, só uma nuvem ao longe nos meus olhos.

Lobo 010

Submited by

Thursday, July 8, 2010 - 17:29

Poesia :

No votes yet

lobo

lobo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 17 weeks ago
Joined: 04/26/2009
Posts:
Points: 2592

Comments

vitor's picture

Re: Lembro-me

Uma nostalgia de recordações poéticas.
Sem dúvida! Um quadro com pinceladas contemporâneas inesquecíveis.

Gostei muito de ler. E igual a todos porque de vez em quando aparece um diferente... que é obra de arte.

Vitor.

nunomarques's picture

Re: Lembro-me

Um poema para ler, reler e reter.

Abraço
Nuno

Add comment

Login to post comments

other contents of lobo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated Quando o sol se derrete 0 2.873 12/27/2011 - 19:14 Portuguese
Poesia/General Eu não sei nada 0 1.992 12/27/2011 - 15:15 Portuguese
Poesia/Dedicated Com fome não se faz a sopa 1 2.433 12/26/2011 - 18:39 Portuguese
Poesia/Dedicated Ó sol preciso dos teus raios 1 1.765 12/26/2011 - 18:29 Portuguese
Poesia/Aphorism Ao redor do fogo 0 1.372 12/26/2011 - 15:50 Portuguese
Poesia/General Atrás da porta eu fico 0 1.512 12/24/2011 - 18:34 Portuguese
Poesia/Dedicated Não vou ficar com a tristeza 0 1.593 12/23/2011 - 14:48 Portuguese
Poesia/General Como se faz a casa 0 2.135 12/23/2011 - 11:52 Portuguese
Poesia/General Aquece as palavras 0 1.421 12/19/2011 - 16:03 Portuguese
Poesia/General Esperamos a solidão 0 1.849 12/17/2011 - 21:29 Portuguese
Poesia/Dedicated Agora já não vou fazer planos 0 1.702 12/16/2011 - 12:43 Portuguese
Poesia/General Dentro das páginas 1 2.325 12/16/2011 - 03:19 Portuguese
Poesia/General Carta 0 1.563 12/15/2011 - 15:36 Portuguese
Poesia/General O mar vê-se dos teus olhos 1 1.743 12/15/2011 - 00:41 Portuguese
Poesia/General A cidade... 0 1.845 12/14/2011 - 17:19 Portuguese
Poesia/General Nós fazemos a viagem 0 1.539 12/13/2011 - 11:50 Portuguese
Poesia/Intervention O mar é o teu animal 0 1.740 12/05/2011 - 01:08 Portuguese
Poesia/Dedicated Na poesia do prato da fruta 0 1.936 12/05/2011 - 00:06 Portuguese
Poesia/Aphorism O barro moldado na transpiração 0 2.349 11/30/2011 - 18:23 Portuguese
Poesia/Aphorism Agora nada me está faltando 0 2.479 11/30/2011 - 12:23 Portuguese
Poesia/Intervention O velho caminho ferroviario 0 2.769 11/29/2011 - 12:37 Portuguese
Poesia/Song A árvore que está no meio 0 2.021 11/27/2011 - 21:41 Portuguese
Poesia/Dedicated se a água corta-se 0 2.013 11/27/2011 - 21:37 Portuguese
Poesia/General Dá-me o teu lado inquieto 0 1.766 11/23/2011 - 17:19 Portuguese
Poesia/General Se tu soltares a lua 3 2.559 11/22/2011 - 20:28 Portuguese