A vida são dois dias
Torcia saias lavadas com sangue…
Quem sabe aldeias recortadas em livros no fundo do rio, mulher.
A chuva chora uma estátua com dinheiro a dias pingados na escada…
E o céu toca tambor num rufo ruivo exaurindo horas extras.
A urgência árida de um fôlego recurva os seios num golpe de rins…
Torcia saias lavadas com sangue na escada dos rios da cidade, mulher.
Tinha dias suspensos com aniversários esquecidos.
Lúgubres soalhos urbanos encerando novelas ao fim das escadas.
O corpo de uso soturno alugado ao amor no quarto minguante.
O berço e o braço partido de Milo orvalhado em mercúrio de Vénus na terra do nunca mais erguer o trabalho em comício, em cansaço em saias torcidas na cama de sangue, mulher.
Processava penal o ventre de rio no reflexo do mármore, mascarada…
E tinha Cristos e anjos com pobrezas de prata beijadas no lixo e no carnaval comia maças.
Recortam nos livros então marinheiros e corsários…
A noite é um sábado em reunião ordinária com formigas nas pernas.
O copo tem hálito de sangue e de fumo na saia torcida.
E baba um riso de gruta com tangos e tangas de engate.
Esfrega detergente debaixo das solas da gente…
O rádio anuncia horários prementes.
E o átrio do corpo é cais de abrigo de marujos náufragos nos bares da cidade.
Pensava a liberdade com asas de revista.
Voava delírios encantada como Ícaro para o sol.
Derretidas as asas encerava escadas na cidade, mulher.
Ensopava saias com sangue quando caía do sonho.
Torcia saias lavadas com sangue…
Quem sabe aldeias recortadas em livros no fundo do rio, mulher.
A chuva chora uma estátua com dinheiro a dias pingados na escada…
E o céu toca tambor num rufo ruivo exaurindo horas extras.
Torcia saias lavadas com sangue…
No carnaval comia maças.
No carnaval comia...
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1501 reads
Add comment
other contents of Lapis-Lazuli
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Aphorism | Nos olhos de Irina | 3 | 796 | 05/06/2010 - 21:27 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Fabrica das gabardines | 5 | 7.476 | 05/05/2010 - 22:54 | Portuguese | |
Poesia/Love | Querer | 7 | 1.140 | 05/03/2010 - 00:24 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Magnitude Absoluta | 4 | 1.233 | 05/01/2010 - 21:02 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Zé, pá... | 3 | 943 | 05/01/2010 - 12:30 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Relembranças do mundo ausente | 3 | 1.036 | 04/30/2010 - 12:06 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Indestino | 1 | 1.001 | 04/29/2010 - 01:00 | Portuguese | |
Poesia/Love | "Do Amor e Outros Demónios" | 6 | 880 | 04/28/2010 - 03:39 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Incorporal | 3 | 968 | 04/24/2010 - 00:36 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Desnascimento | 1 | 1.307 | 04/24/2010 - 00:10 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Homem do nada | 4 | 1.312 | 04/23/2010 - 00:53 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Tudo passa ás vezes | 2 | 828 | 04/22/2010 - 23:19 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Viagem breve de ti | 3 | 1.291 | 04/19/2010 - 09:44 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Poemas de Amor | 7 | 1.058 | 04/17/2010 - 12:20 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Mãos | 2 | 1.067 | 04/16/2010 - 01:25 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Balão Mágico | 3 | 1.008 | 04/13/2010 - 20:46 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Always the sun | 6 | 1.169 | 04/12/2010 - 17:20 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Querer não é poder | 1 | 1.036 | 04/12/2010 - 10:00 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Barriga cheia de nós | 2 | 1.116 | 04/11/2010 - 21:52 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Ladaínha | 1 | 1.073 | 04/11/2010 - 17:29 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Aspirina | 3 | 1.101 | 04/10/2010 - 18:25 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Lisboa toda | 4 | 917 | 04/09/2010 - 17:56 | Portuguese | |
Poesia/Love | À espera de nós | 3 | 2.164 | 04/06/2010 - 18:07 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O Evangelho segundo o desejo | 3 | 716 | 04/06/2010 - 17:35 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Na cara dos homens | 4 | 924 | 04/06/2010 - 17:06 | Portuguese |
Comments
Re: A vida são dois dias
...é-me difícil comentar os teus poemas, porque me faltam sempre palavras, porque eles são verdadeiras obras, grandiosas, tal o sentimento nelas contido e só por isso, e por tudo, todas as palavras são pequenas...
A chuva chora uma estátua com dinheiro a dias pingados na escada…
...
Pensava a liberdade com asas de revista.
Voava delírios encantada como Ícaro para o sol.
Derretidas as asas encerava escadas na cidade, mulher.
Ensopava saias com sangue quando caía do sonho.
é...
Um abraço