A Revolta dos Sonhos

A desilusão.
Quando batemos de frente e sem amortecedor na realidade, o choque é desastroso para quem embala tanto os sonhos.
De noviço se começa a planear o mundo. Da fantasia de gaiato vemo-nos dentro da mais bela magia que nos acalenta as visões futuras e despreocupadas. E crescemos nelas e para elas…
Construímos uma casa como a imaginamos e deitam-na abaixo... Construímos uma mais modesta e rebentam com ela… Construímos uma de palha e pegam-lhe fogo… É mesmo no relento, exposto aos astros da sorte da crua realidade que deves pernoitar a tua imaginação. Apostamos forte no início mas o jogo obriga-nos a baixar a fasquia.
Os sonhos primordiais – os mais antigos e de natura – revoltam-se e, como anjos caídos, interpelam a sabedoria do criador. Desprendem-se do carinho e da resistência. Tombam em cachos, de expectativa em expectativa, por patamares de desacreditada esperança, cada vez mais minguados e estreitos.
E no fundo, bem no buraco da despedida, perdem em definitivo a áurea de luz das asas brancas e o sorriso do pensamento solto pelos mares da aventura. São sonhos que se transfiguram em demónios da consciência, impondo-se como predadores de novos sonhos. Devastam e assolam os panorâmicos vales do ideal com pesados medos de novos fracassos, novas desilusões. O ideal pode ser utopia, mas não há nada que nos ampare a decepção do sonho, quando se revela que o ideal não pode ser cumprido.
Os sonhos perdidos lançam a sombra e ferem a luz. Sombras para o que arde em sois de negro. Revoltam-se, quando novos sonhos se assomam à vontade do criador. Os anjos caídos não gostaram da criação do Homem; os sonhos veteranos, não substanciados, revelam-se contra a imprudência de novos projectos.
E quando cai o criador?! Ele cai com os sonhos… As lágrimas do anjo noviço, de asas chamuscadas, em corrente pelo pescoço franzido que orienta a cabeça para cima, após a queda flamejante dos ninhos do céu. Vai dormir ao relento…

…agora, apetecia-me adormecer e só acordar quando renascesse a sonhar…

Andarilhus “(ªVª)”
X : V : MMVII

Lírica: Mission: Dream On

Submited by

Tuesday, June 3, 2008 - 22:36

Prosas :

No votes yet

Andarilhus

Andarilhus's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 12 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 868

Comments

MariaSousa's picture

Re: A Revolta dos Sonhos

Eu também gostava de adormecer e só acordar quando renascesse a sonhar...

Mas a vida não é só sonho. Também existem essas "realidades de obstáculos" que nos fazem crescer.

Um bom texto.

Bjs

Anonymous's picture

Re: A Revolta dos Sonhos

Estás acordado!- má notícia.

a afirmação altera a posição de centralidade do texto, mas ao manter-se as estrelas, a lua...salvaguarda-se a possível harmonia planetária do ser. (a cada nova experiêncis corresponderá a 1 grau de certeza crescente)...e tua escrita é sem margem de dúvida crescer.

Veiga's picture

Re: A Revolta dos Sonhos

Um homem sem sonhos
É como coca-cola sem gaz
Cerveja sem alcool
Chocolate sem açucar

Mas será que os perdeste?

Não! Claramente não.

Pois permaneces a sonhar acordado em acordar quando voltares a sonhar.

Permaneces a sonhar nem que o unico sonho que tenhas seja voltar a sonhar.

Boa... gostei mesmo.

Add comment

Login to post comments

other contents of Andarilhus

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism Despertar 1 915 05/23/2008 - 22:46 Portuguese
Prosas/Others As Mutações da Máscara 3 1.048 05/19/2008 - 18:58 Portuguese
Prosas/Ficção Cientifica Yoanna 4 1.439 05/16/2008 - 22:39 Portuguese
Prosas/Contos Desfazer o Mundo 4 1.105 05/13/2008 - 01:28 Portuguese
Poesia/Disillusion Das certezas II 5 978 05/10/2008 - 21:20 Portuguese
Poesia/Meditation Das Certezas 4 766 05/09/2008 - 23:43 Portuguese
Prosas/Others Rosa-dos-ventos 2 1.037 05/07/2008 - 00:50 Portuguese
Poesia/Passion Ao Vento 1 1.099 04/23/2008 - 23:27 Portuguese
Prosas/Contos A Carta 3 1.130 04/22/2008 - 22:01 Portuguese
Prosas/Contos In mea limia 1 1.252 04/19/2008 - 12:01 Portuguese
Poesia/Meditation Sina... 2 1.250 04/18/2008 - 22:49 Portuguese
Prosas/Contos Iniciação 2 1.334 04/14/2008 - 18:03 Portuguese
Prosas/Contos Mare Nostrum 2 1.058 04/12/2008 - 23:26 Portuguese
Prosas/Contos SantAna Vitae Maestra 1 870 03/31/2008 - 22:30 Portuguese
Prosas/Contos O Circo da Vaidades Perdidas 2 1.246 03/31/2008 - 00:05 Portuguese
Prosas/Contos Santos e Mártires 2 851 03/29/2008 - 15:46 Portuguese
Prosas/Fábula Epifania 2 1.656 03/28/2008 - 23:30 Portuguese
Poesia/Sadness Desfiar o Castigo 1 1.068 03/28/2008 - 22:37 Portuguese
Prosas/Others Saudade 2 1.298 03/28/2008 - 01:16 Portuguese
Prosas/Contos Os Lugares do Nunca 2 1.229 03/26/2008 - 22:39 Portuguese
Poesia/Love Predilecta 1 809 03/26/2008 - 01:53 Portuguese
Prosas/Contos Afortunados os pobres de espírito 2 1.616 03/22/2008 - 16:03 Portuguese
Poesia/Intervention Aquele que... 1 1.291 03/21/2008 - 15:45 Portuguese
Prosas/Contos O Meu Jardim Presépio 1 1.144 03/19/2008 - 20:56 Portuguese
Poesia/Disillusion Transvaze para a fonte do ser 2 1.537 03/19/2008 - 20:12 Portuguese