O crítico compassivo.
O velho poeta passeava incauto pela noite insone, quando é interpelado por ele, um poeminha, simplório e alegrinho, sem muita metáfora, nem muito conteúdo. Uma simplória e frouxa rede de palavras pouco assemelhadas, falando de sentimentos corriqueiros na primeira pessoa. Pontuado de forma surreal, cheio de cicatrizes em diminutivo forçando rimas, era até "bonitinho", embora desforme, oco e sorridente.
Ele não sabia se sentia repulsa, dó ou simplismente pena, do poeminha impertinente desfilando na noite insone. Realmente, era uma figurinha, uma figurinha de linguagem.
Perguntou então o poeminha.
- Velho poeta, me diga uma coisa, como posso um dia crescer e me transformar em um poema bonito, lindo, fortemente embebido de emoções e razões, um poema que fale sobre filosofia, amor e universo?
O velho poeta, se sensibilizou, com o desejo e ânsia do pequeno inestético poema, refletiu algum tempo e respondeu.
-Meu caro e pequeno poema "bonitinho", nunca crescerás tu a ponto de seres um destes que anseias, mas, deves saber, que o poeta que te foi pai, com certeza depois de ti se tornou um ser um pouco mais feliz, e isto te faz um ser cheio de luz, irradiada pelo coração aflito ou enlevado de uma alma poética que te fez de filho. Portanto a tua pequenez estética agranda a luz da alma do planeta, fazendo um ser humano feliz, e nisto reside a tua grande luz e beleza, portanto desta forma te elogio, poeminha catársico filho de um poeta diletante, que decidiu sair da estante, e ser seu próprio arauto.
- O poeminha saiu feliz, saltitante, falando de seus sentimentos no diminutivo, com a certeza de ter seu lugar no mundo.
E assim o velho poeta saiu com seu manto de letras e sua vara mágica de sabedoria e compaixão, feliz na noite, na certeza de ter tornado "um" mundo melhor.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2364 reads
Add comment
other contents of analyra
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Fantasy | Devaneios II O muso imaginado retorna... | 3 | 1.237 | 12/04/2009 - 12:34 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Prometida eu? Nada, sou Prometeu. | 10 | 1.671 | 12/04/2009 - 00:03 | Portuguese | |
Poesia/General | Fênix (duo Ana Lyra e Lila Marques) | 12 | 1.895 | 12/02/2009 - 01:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Equilíbrio. | 4 | 1.319 | 12/01/2009 - 21:34 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Roleta do destino | 14 | 2.001 | 12/01/2009 - 18:13 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Eu sou... | 14 | 1.643 | 12/01/2009 - 00:46 | Portuguese | |
Poesia/Passion | vertente de ti em mim. ( Devaneio I ) | 11 | 1.849 | 11/29/2009 - 23:59 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Apocalípse pessoal | 10 | 1.474 | 11/29/2009 - 01:43 | Portuguese | |
Poesia/Passion | E se... | 7 | 1.346 | 11/23/2009 - 13:25 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Crise existencial | 6 | 1.544 | 11/22/2009 - 18:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A Poesia | 4 | 1.586 | 11/22/2009 - 18:34 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Autofagia | 5 | 1.923 | 11/21/2009 - 23:46 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Amiga, somos pixels. | 5 | 1.440 | 11/21/2009 - 15:51 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Manhã de sol | 6 | 1.174 | 11/21/2009 - 00:28 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Simplismente humano. | 12 | 1.688 | 11/19/2009 - 01:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Nua ao sol. | 11 | 1.507 | 11/18/2009 - 23:08 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Retorno | 11 | 1.572 | 11/17/2009 - 21:34 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Acabou o carnaval. | 4 | 2.022 | 11/17/2009 - 16:37 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Auto biografia | 3 | 1.870 | 11/13/2009 - 20:44 | Portuguese | |
Poesia/Friendship | Maria, José e um café. | 5 | 1.158 | 11/13/2009 - 17:47 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Amputação | 11 | 1.457 | 11/12/2009 - 20:01 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A crítica | 7 | 1.334 | 11/11/2009 - 19:02 | Portuguese | |
Poesia/Love | Helena e o verdadeiro amor | 6 | 1.422 | 11/11/2009 - 00:26 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Companheira solidão | 7 | 1.113 | 11/09/2009 - 19:51 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sair e viver. | 3 | 1.402 | 11/07/2009 - 06:16 | Portuguese |
Comments
Re: O crítico construtivo.
"um poema bonito, lindo, fortemente embebido de emoções e razões, um poema que fale sobre filosofia e universo"
Isso, é o que os pais querem para os seus filhos... todos os poetas querem para os seus poemas...
Mas se não sabem sequer o que isso significa... como podem escreve-lo nos seus poemas..? ou pedir que os outros o encontrem..?
Não acredito na inocencia propositada, quem sabe tudo o que tem de fazer e onde tem de ir não tem desculpa para ficar parado... Por isso, não partilho inteiramente da sua opiniao sobre critica construtiva... no entanto acredito sim, na tentativa e erro e não desistir.
Aquilo que mostrou neste texto, foi "Consolo"...
Mas gostei...
Re: O crítico construtivo.
Grata pelo comentário. Como acho a flexibilidade frente a boa argumentação uma virtude, que gabo-me de tê-la, em resposta a teu comentário, perspicaz e verdadeiro, mudo o nome da prosa em tua alusão. Seja então "O crítico compassivo". Mais que consolo, o que motiva o crítico é a compaixão, pois o criticado acredita na sua genialidade, não contestada pelo crítico, não necessitando portanto de consolo.
O crítico não desconfirmando, por pura compaixão, incentiva veladamente a produção artística medíocre. Sendo esta, por natureza própria, condenada a apoptose, sabiamente o crítico vislumbra, do alto de sua experiência literária, a irrelevância deste pequeno poema a literatura. Sobrando do poema para a posteridade nada além do fugaz e pessoal momento de pseudo genialidade vivida pelo poeta transitório e superficial. Não sei se isto é bom ao universo literário e nem tenho pretensão de estabelece-lo como tal. Esta prosa é apenas uma observação que, de preferência, gere isso que gerou: uma contestação.
Grata.
Re: O crítico construtivo.
=)