CETICISMO - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
CETICISMO – do grego SKEPTIKÓS = aquele que investiga. É a corrente filosófica que prega ser o Conhecimento do Real (ou da Realidade Verdadeira) impossível de ser apreendido, ou captado e entendido, pelo Homem. A Razão (ou capacidade de raciocinar) Humana, segundo essa doutrina, é incapaz de compreender a Essência da Realidade, chegando, quando muito, na maior Verdade possível sobre o Fenômeno (ou aparência ou o que pode ser percebido pelos Sentidos) da Coisa estudada. Por isso, o Homem deve renunciar a qualquer Sentimento de que “tem certeza” sobre qualquer coisa, principalmente quando essa coisa não é material, concreta, física. Quando, consequentemente, o estudo e a pesquisa têm como alvo o que é Metafísico (ou Sobrenatural), como, por exemplo, a Alma, Deus etc. Deve o Homem abster-se de emitir qualquer julgamento (ou Juízo) sobre as Coisas que estão além de sua capacidade de entendimento (o que, na verdade, é tudo se se considerar que em tudo há uma Essência). Deve submeter toda afirmação ou negação a uma dúvida constante. O Ceticismo teve inicio na Filosofia Clássica com PIRRO de HÉLIDA, mas é uma Tendência que se divide em varias sub-tendências, cada qual com seu primeiro pregador. O filósofo SEXTO EMPÍRICO foi seu principal Sistematizador adotando o ponto de vista da chamada “Nova Academia” e que preconizava o seguinte: se a Certeza é impossível (de ser Conhecida) deve-se fazer como fizeram os Céticos PIRRÔNICOS (de PIRRO, acima citado) que mesmo reconhecendo a impossibilidade de se chegar à Verdade das Coisas, não abandonavam as pesquisas e os estudos relativos. O motivo dessa continuidade estaria muito mais ligado à esperança de que exercitando a inteligência lograriam aumentá-la, do que chegar ao Verdadeiro Conhecimento. Normalmente o Ceticismo é dividido em três etapas: 1. EPOCHÉ – a suspensão do Juízo (a retirada de qualquer julgamento), ou a recusa em afirmar ou negar qualquer definição sobre o objeto, conceito, doutrina, comportamento, método etc. estudado. Recusa oriunda de se saber impossível atingir-se à Verdade ou a Essência. 2. ZÉTESIS – a busca incessante da Certeza, da Verdade, da Essência, mesmo admitindo-a inalcançável. 3. ATARAXIA – a imperturbabilidade ou tranqüilidade resultante da resignação de se aceitar que a Verdade, a Certeza, a Essência é inacessível ao Homem. Também é a paz decorrente da postura de se colocar acima das medíocres (porque só atingem os Fenômenos) disputas humanas. O Ceticismo ao reconhecer a impossibilidade Humana de atingir patamares mais elevados reduziu a especulação ou o Pensar Filosófico ao rés do chão da vida cotidiana, da vida prática, física, concreta. Já no Pensamento Moderno, principalmente com os Humanistas do Renascimento, dentre os quais MONTAIGNE, o Ceticismo foi usado para atacar os Dogmas da Filosofia Escolástica e por extensão natural os Dogmas Religiosos, Sociais e Morais. Ao combater “as certezas/Verdades” pregadas pela Igreja e Instituições Civis e Governamentais e os “Ensinamentos Sagrados” doados por Deus para uso dos Homens, o pensamento Cético prega um tipo de Ateísmo*, na medida em que dúvida da existência do próprio Deus religioso. Porém, paradoxalmente, também floresce nessa Época a Corrente Filosófica chamada de CETICISMO FIDEÍSTA cuja argumentação principal era a de que se a Certeza ou a Verdade não pode ser conhecida racionalmente, ou através da Razão; que, então, fosse aceita por intermédio da Fé que seria o instrumento para se chegar à Verdade das Coisas, dos Fatos, dos Sentimentos etc. Mas essa tendência não prosperou, pois por menos inteligente que alguém fosse poderia ver facilmente que o que aceitasse seria apenas a Verdade de quem a pregou e nunca a Realidade Verdadeira. Prevaleceu, destarte, a primeira versão e é possível observar a sua importância quando se vê que foi essa Tendência que ensejou, por exemplo, a Filosofia de Kant que em sua “Critica da Razão Pura” investiga o potencial da Razão concluindo que ela é insuficiente para se atingir Conceitos Metafísicos, ou as Essências. Também Descartes bebeu nessa fonte para compor seu Sistema, o qual tem por base precisamente o ato de Duvidar, embora em sentido diferente do Cético, como apoio para se confirmar a Existência. E essa mesma persistente pesquisa, a EPOCHÉ, foi resgatada hodiernamente pelos estudiosos da Fenomenologia (vide item). Atualmente a atitude critica e questionadora do Ceticismo é utilizada nas questões da “Relatividade do Conhecimento (o saber será sempre relativo porque não atinge a essência do objeto estudado)” e nas pesquisas sobre os limites da Razão e os da Ciência.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 5916 reads
Add comment
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Others | MARX, Karl Heinrich - Filósofos Modernos e Contemporâneos | 0 | 4.696 | 10/13/2012 - 17:03 | Portuguese | |
Poesia/Love | Calar | 0 | 1.957 | 10/10/2012 - 12:27 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Ernesto CHE Guevara | 0 | 3.836 | 10/08/2012 - 15:50 | Portuguese | |
Poesia/General | Tempo, tempo | 0 | 2.788 | 10/07/2012 - 13:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Calabouço | 0 | 4.557 | 10/06/2012 - 12:35 | Portuguese | |
Poesia/Love | Prismas | 0 | 2.966 | 10/05/2012 - 10:55 | Portuguese | |
Poesia/General | Olhares | 0 | 2.740 | 10/01/2012 - 12:42 | Portuguese | |
Prosas/Others | O Ipê Vermelho | 0 | 4.724 | 09/26/2012 - 11:35 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Insiste | 0 | 3.227 | 09/23/2012 - 15:34 | Portuguese | |
Prosas/Others | Antonio GRAMSCI - Filósofos Modernos e Contemporâneos | 0 | 7.045 | 09/21/2012 - 12:29 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Estações | 0 | 3.623 | 09/10/2012 - 14:24 | Portuguese | |
Poesia/General | O "7 de Setembro" - Republicado | 0 | 3.736 | 09/07/2012 - 15:43 | Portuguese | |
Poesia/Love | Uma Musa | 0 | 3.098 | 09/05/2012 - 12:34 | Portuguese | |
Prosas/Others | Georg LUKÁCS - Filósofos Modernos e Contemporâneos | 0 | 7.808 | 09/03/2012 - 12:29 | Portuguese | |
Poesia/Love | Fome | 1 | 2.270 | 08/31/2012 - 14:38 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Versos de Cabral | 0 | 2.080 | 08/29/2012 - 12:57 | Portuguese | |
Poesia/Love | Alameda | 2 | 4.061 | 08/26/2012 - 23:40 | Portuguese | |
Prosas/Others | Louis ALTHUSSER - Filósofos Modernos e Contemporâneos. | 0 | 6.383 | 08/26/2012 - 13:29 | Portuguese | |
Prosas/Others | Friedrich NIETZSCHE - Filósofos Modernos e Contemporâneos | 0 | 6.854 | 08/19/2012 - 13:20 | Portuguese | |
Poesia/Love | No Sul | 0 | 2.181 | 08/17/2012 - 12:16 | Portuguese | |
Poesia/Love | Na Bienal | 0 | 3.083 | 08/15/2012 - 12:40 | Portuguese | |
Poesia/General | Face | 0 | 3.903 | 08/13/2012 - 15:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | São Petersburgo da Soprano | 0 | 3.136 | 08/12/2012 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia/Love | Princesa do Mundo | 0 | 3.402 | 08/10/2012 - 12:12 | Portuguese | |
Prosas/Others | Jean Paul SARTRE - Filósofos Modernos e Contemporâneos | 0 | 5.501 | 08/08/2012 - 23:33 | Portuguese |
Comments
Re: Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
Parabéns pelo belo texto.
Um abraço,
REF