Vem Caminhar Comigo
Quero ouvir-te em histórias antigas, mas cantadas nos telhados das novas casas, a abafar o bolor característico dos espaços fechados. Por isso, me dou às cegas pelas pradarias longínquas, onde há ecos mudos e um sol que nasce sempre que a noite é finita. Só aí, há um cântico aberto ao mundo que me escuta e que sustenta as lágrimas que se despenham nas minhas mãos. Há um misto de saudade que se esvai por entre os dedos semi-abertos e não sei já falar, desta dor que me consome o peito, quando me dou inteira a ti.
Sôfrega do mar, fugi para longe, e dirigi-me para sul. Lá os sonhos são mais azuis e as gentes vivem na calmaria de desejos mais ou menos cristalizados. Sofrem as dores de parto antes do tempo, e as forças benignas trazem cantares longínquos de outras eras, em que os registos passaram de mera informação, para uma profunda constatação dos factos reais, em que o equilíbrio, não passa já, de manufactura do acaso.
Afundei-me nesse mar que vi!
Mas, sofro neste silêncio amarfanhado, sempre que o fardo dos anos me deixa morta de cansaço e desprendo-me das horas todas, em completo desleixo. Caminho agora sem destino, e há um som perdido que me encontra sobre esta medida exacta, que é o mundo no sossego das minhas mãos. Ele diz-me sempre como chegar ao topo, mas lá, há estrelas cadentes que se esfregam nos meus olhos, e a cegueira traz-me imagens doentes de quando o mundo sofria. Sofria tanto, que até os olhares que carrego me abominam em cada círculo, geometricamente traçado à roda dos meus olhos.
Triste sina!
É fria a sua voz, e caminha cansado do destino que lhe coube á sorte. Há sortes assim! A minha ainda não foi lançada, para que no meu ventre, encontre a essência desmesurada e te entregue a noite assim, cansada de mim e do nada que fui, enquanto dormias. Assim, vou deslizando, lenta, mas caminhante, através destes movimentos obtusos, e paralisados através do medo que me rouba o sono. Os candeeiros apagam-se, e a noite finda, volta ao seu estado original. Há um protótipo do vazio esperando por nós, e na matriz, jaz o cálice da vida que carrego há tantos anos.
Quero-te muito, mas não suporto este fardo antigo. Vem caminhar comigo
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2186 reads
Add comment
other contents of ÔNIX
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | A Nua Praia | 2 | 2.001 | 02/27/2010 - 16:39 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sentir Difuso | 1 | 1.443 | 02/27/2010 - 16:17 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Questionei o Tempo | 3 | 1.586 | 02/27/2010 - 15:33 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | E o Céu Ali Tão Perto | 5 | 1.157 | 02/26/2010 - 19:00 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Reflexão | 2 | 1.512 | 02/26/2010 - 17:58 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Landscape | As Vistas da Minha Aldeia | 1 | 1.139 | 02/26/2010 - 17:36 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Landscape | E o Céu Ali Tão Perto | 1 | 2.327 | 02/26/2010 - 17:35 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | A Esfera Armilar | 1 | 2.252 | 02/26/2010 - 17:34 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Céu Perfumado | 1 | 1.747 | 02/26/2010 - 17:34 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Deusas | 1 | 1.704 | 02/26/2010 - 17:25 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Nature | Silêncios | 1 | 2.295 | 02/26/2010 - 17:24 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Cidade Colorida | 2 | 2.462 | 02/26/2010 - 17:22 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Caminhos Escusos | 1 | 2.535 | 02/26/2010 - 17:22 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Landscape | Por-do-sol | 1 | 1.563 | 02/26/2010 - 17:14 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Landscape | Mar de Emoções | 1 | 2.345 | 02/26/2010 - 17:13 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Sedução das Águas | 1 | 2.439 | 02/26/2010 - 17:03 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | Porto | 1 | 2.163 | 02/26/2010 - 17:02 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Nature | Sombras | 1 | 2.169 | 02/26/2010 - 16:53 | Portuguese |
Poesia/Meditation | Busca | 5 | 783 | 02/26/2010 - 14:33 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Se... | 2 | 2.212 | 02/26/2010 - 14:30 | Portuguese | |
Poesia/General | Certas Palavras | 2 | 1.566 | 02/26/2010 - 14:20 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | Fluídos Doces | 5 | 1.424 | 02/26/2010 - 13:15 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | No Vale | 5 | 2.386 | 02/26/2010 - 12:30 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Pulsações | 4 | 1.347 | 02/26/2010 - 12:15 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Roupagens | 3 | 1.760 | 02/26/2010 - 12:05 | Portuguese |
Comments
Re: Vem Caminhar Comigo
Hmmmm...perfeito?
Caminha comigo para que não me perca no sonho onde afundo, se delizo por este fardo sem o calor das mãos e do destino... Envergonho-me por não conseguir dizer mais nada :oops:
Favorito
Bjos
Re: Vem Caminhar ComigoP/Jopeman
João
Obrigada pela força
Espero poder continuar a caminhar lado-a-lado com a minha família, os meus amigos, os meus amores, e todos os que souberem que para um se caminhar lado-a-lado, será preciso ser-se genuino
Assim como tu
beijos
Re: Vem Caminhar Comigo
ÔNIX;
Mais que caminhar...é a doce viagem em seu Mundo, nos teus textos, na tua visão das coisas.
è uma hnra enorme partilhar estes momentos
obrigado!
Re: Vem Caminhar ComigoP/Mefistus
mefistus,
Obrigada pela companhia nesta longa caminhada
beijos...muitos
Matilde D'Ônix
Re: Vem Caminhar Comigo
Matilde.
Caminhar contigo é um privilégio.
Adorei o texto!
Parabéns,
Beijos,
REF
Re: Vem Caminhar ComigoP/REF
REF
Obrigada pelos passos certeiros que me acompanham...
Gosto de sentir que esão perto
beijinhos