A impossibilidade
Semeei relvados de cristal
numa toalha púrpura sobre a mesa
cheia de maçãs vermelhas.
.
Vi uns olhos da cor das serras
percorrer por instantes as paredes húmidas
cobertas por bolores e teias de aranha.
.
A vela que iluminava a cozinha
apagou-se com a corrente de ar da tua boca
quando trincaste a última maçã da saudade.
.
Não houve um sorriso que fosse audível
nem as paredes se transformaram
com o peso das minhas mãos feridas.
.
Fiquei longe das janelas à tua espera
mas o chicote da cafeteira em ebulição
ardeu-me no peito de porcelana.
.
O estilhaçar das sombras foi ténue,
o brilho do teu vestido rasgou o céu
e eu não soube iniciar uma conversação.
.
Sentado numa cadeira antiga de madeira,
ouvi os teus passos em direcção à porta
que se foram tornando cada vez mais dolorosos.
.
Cada vez mais sangrentos em mim
à medida que te afastavas para longe
sem olhar uma única vez para trás.
.
As macieiras já se despiram outra vez
e as sementes de cristal com raízes
nascidas na toalha púrpura... adormeceram.
.
Fico com a companhia de um chá de aromas
tão selvagens como a tua ausência.
- O desafio é enfrentar a impossibilidade de esquecer-te.
rainbowsky
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Comments
Maravilhoso poema de amor e
Maravilhoso poema de amor
e antevisão da dor em perspectiva.
Muito belo, gostei muito.
Vitor.
Lindo poema
Muito lindo seu poema, as palavras dão sabor a leiruta....Parabens.
semeei relvados de cizal e
semeei relvados de cizal
e cânhamo, colhi molhos dele ainda verde
e húmido porque o céu despejou os olhos
sobre ele e encheu o mundo