Strange II - O combate e a dúvida final
-Não o promovas. -Ouviu-se a voz enfadonha
de um ser desleixado em cima do armário.
O rosto afogado atrás de uma gravata enrugada
semicerrou os olhos e não disse nada,
mostrando-se pouco interessado nas palavras
proferidas dentro da sala.
O cão atirou-se da janela sem ter tempo de observar
a paisagem e caiu na piscina, já cheia de lodo e rãs.
O papagaio humedeceu as patas no bebedouro
e com perícia abriu a porta da sua gaiola violeta
- tarde se apercebeu da ventoinha ligada pousada
no chão.- espalharam-se as penas pelo ar modificado
pelo fumo de um cigarro e de um outro ainda.
Até se colarem no tecto como aviões alcançando
o tecto do mundo que não existe.
- Tanto faz. - disse de novo a voz ainda mais
perturbada e distante. O ruído de um motor
ressuou na porta da entrada em que batiam.
O rosto no corpo já dormecido acordou resignado
deparando-se com o cão engessado,
e o papagaio quase uma múmia da nova geração.
Afundou-se ainda mais na cadeira, após ter bebido
um golo de café amargo e frio que mais parecia
ter vindo numa corrente de ar. A janela fechou-se sozinha.
O rapaz do outro lado da secretária ajeitou os óculos,
colocou umas folhas na pasta branca, tossicou
baixinho, e voltou a acordar o ser na outra cadeira.
Ouviu-se um riso estridente. O bombo soou.
O rapaz colocou a protecção nos dentes
mais uma vez. O adversário cerrou os punhos;
soco da esquerda, soco da direita e o mesmo
riso. Gente a gritar. Acordou da ilusão,
e só nessa altura em que ficara ko,
percebeu porque estava ali...
porque afinal tinha sido despedido.
Não sabia ainda se ficaria vivo.
rainbowsky
2002
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1137 reads
Add comment
other contents of rainbowsky
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | Soluços | 1 | 1.228 | 01/01/2011 - 14:21 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Mesmo quando não sabes... | 1 | 2.102 | 01/01/2011 - 14:15 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Sismo à chuva | 0 | 1.031 | 12/31/2010 - 18:52 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Filtro | 0 | 1.958 | 12/31/2010 - 18:39 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A impossibilidade | 3 | 1.236 | 12/31/2010 - 13:57 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Sem espaço para o pouco que disse | 1 | 1.019 | 12/29/2010 - 23:34 | Portuguese | |
Poesia/General | Preversa Timidez | 1 | 810 | 12/29/2010 - 23:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Luz | 1 | 1.449 | 12/29/2010 - 22:50 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | O dilúvio do pássaro da nossa esperança | 0 | 1.419 | 12/29/2010 - 21:42 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A luz | 0 | 1.167 | 12/28/2010 - 03:48 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A última lágrima | 1 | 1.006 | 12/27/2010 - 23:42 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Água e fogo | 1 | 793 | 12/27/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Ternura | 1 | 1.258 | 12/27/2010 - 23:37 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Aquele olhar | 2 | 1.619 | 12/27/2010 - 22:26 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | X - 2 - Não vieste | 0 | 1.603 | 12/27/2010 - 19:12 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Arestas | 0 | 1.273 | 12/24/2010 - 20:41 | Portuguese | |
Poesia/General | O corpo no copo do Olimpo | 1 | 1.342 | 12/22/2010 - 23:00 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Olhos de nafta | 0 | 1.377 | 12/21/2010 - 20:59 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Respirar | 1 | 2.315 | 12/20/2010 - 23:01 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Agnosia | 1 | 2.026 | 12/20/2010 - 22:58 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Profile | 3394 | 0 | 2.752 | 11/24/2010 - 00:55 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3203 | 0 | 2.772 | 11/24/2010 - 00:53 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3061 | 0 | 2.965 | 11/24/2010 - 00:53 | Portuguese |
Ministério da Poesia/General | Soldado do coração | 0 | 1.798 | 11/19/2010 - 19:27 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Passion | Tens de ler-me | 0 | 1.366 | 11/19/2010 - 19:27 | Portuguese |
Comments
Um texto
Um texto interessante,
bastante bem idealizado.
Gostei de ler.