Ópio dos poetas

I
Estou viciado no ópio,
Naquele vil fumo ondulante.
É constante este sacrifício
Em que vivo em cada instante

Da minha vida! Vivo cansado,
Perdido por entre a escuridão.
Sou como uma sombra do passado,
Um velho corpo sem coração.


Mas o opiário é forte
E torna mais doce a nossa morte
E menos real a nossa vida.

Vejo a ilusão prometida
Secando o sangue de minhas veias
E eu, preso a humanas teias,

II
Sinto tonturas estonteantes;
Sinto espasmos incoerentes.
Sei que nada sou que era antes
E que vejo por olhos ausentes.

Que a minha vida era outra, mas
A tristeza tomou posse de mim,
Fez-me andar sem olhar para trás,
Fez-me desejar o meu triste fim.

Minhas veias abertas derramam
O liquido da vida e clamam
Põe algum ópio ou morfina

Que retire a dor da minha sina.
Vejo o fumo em que se torna a vida
E vejo que a minha ‘stá perdida.

III
A vida tenho desperdiçado,
Co’o fumo do prazer eu perdi-a.
Olho para trás, pr’o meu passado,
E vejo que a bela luz do dia

Foi sempre como uma vil miragem
P’ra mim, sempre me queimou os olhos!
Não me recordo da imagem
Das mais belas flores, em mil molhos

Nem dos olhos de quem eu conheço.
Olho p’ro céu e, louco, eu peço
Um fim rápido pra o corpo meu.

O fogo apagou-se, mas ardeu
O coração. Vejo o sentido
De tudo e sei que ‘stou perdido.
 

Submited by

Tuesday, March 29, 2011 - 00:35

Poesia :

No votes yet

gaudella

gaudella's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 12 years 42 weeks ago
Joined: 03/26/2011
Posts:
Points: 346

Comments

MarneDulinski's picture

Ópio dos poetas

Lindo e triste texto!

Depois de entrar nessa, para sair, com muita vontade de seu personagem, tratamento há!

MarneDulinski

Add comment

Login to post comments

other contents of gaudella

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Sonnet Ser ou não ser, eis a questão 1 734 03/29/2011 - 19:58 Portuguese
Poesia/Sonnet Neve branca e fria com fogo quente 1 740 03/29/2011 - 14:16 Portuguese
Poesia/Sonnet Teu nome, loira desconhecida 0 854 03/29/2011 - 03:10 Portuguese
Poesia/Sonnet Quem te pôs a cara machucada? 0 701 03/29/2011 - 03:00 Portuguese
Poesia/Sonnet Amor 0 595 03/29/2011 - 02:43 Portuguese
Poesia/Sonnet Vagueio sobre esta triste praia 1 523 03/29/2011 - 02:41 Portuguese
Poesia/General Um dia no campo 0 553 03/28/2011 - 18:02 Portuguese
Poesia/Love Renascer 0 657 03/28/2011 - 00:37 Portuguese
Poesia/Sonnet Mas o que é que estou a fazer aqui? 0 641 03/27/2011 - 23:39 Portuguese
Poesia/Sonnet Xanana, Xanana. Foste vendido 0 529 03/27/2011 - 23:36 Portuguese
Poesia/Sonnet Uma passagem para a outra margem 0 577 03/27/2011 - 23:30 Portuguese
Poesia/Sonnet Timor 1 619 03/27/2011 - 23:02 Portuguese
Poesia/Love Entre Anjos 1 806 03/27/2011 - 20:50 Portuguese
Poesia/General Fim do Império 2 516 03/27/2011 - 14:08 Portuguese
Poesia/Sonnet Essência de um Poeta 1 817 03/26/2011 - 10:41 Portuguese
Poesia/Sonnet É de manhã. Já a prima esfera 0 646 03/26/2011 - 01:59 Portuguese
Poesia/Sonnet A força da pena vai-se perdendo; 0 719 03/26/2011 - 01:56 Portuguese
Poesia/General Eu Rebelde 0 747 03/26/2011 - 01:54 Portuguese
Poesia/Sonnet De que serve ganhar o mundo? 0 563 03/26/2011 - 01:50 Portuguese
Poesia/Sadness Saudade 0 665 03/26/2011 - 01:49 Portuguese
Poesia/Love Leonor foi à fonte 1 827 03/26/2011 - 01:48 Portuguese
Poesia/General Os olhos choram o dano 0 724 03/26/2011 - 01:47 Portuguese
Poesia/Sonnet Fim 1 575 03/26/2011 - 01:43 Portuguese
Poesia/Sonnet Viana, meu suave degredo. 0 701 03/26/2011 - 01:43 Portuguese
Poesia/Sonnet Traição 0 652 03/26/2011 - 01:39 Portuguese