Estive num poema morto


Parti sem mim próprio,
deixei-me ficar num poema morto.

Baptizei-me de adeus com nomes perfeitos,
vozes eleitas pelo choro do horizonte na minha face.

Errei enquanto caminhei pelo meu coração,
mesmo aí caminhei sozinho sem mim próprio.

Trouxe às minhas páginas guerras ao que acreditava,
recebi o que não quis dar e parti vazio.

Ensinei o frio às minhas lágrimas,
vesti os ombros com trevas de palácios ocos
onde o brilho que me restava era arrependimento.

Escondo-me em ilhas onde os dias não nascem,
onde as flores nascem mortas
e o tempo são areias evaporadas ao nada.

Preciso de morrer para sentir o verdadeiro adeus.

Deixei-me para trás para sarar feridas,
mas algumas feridas ainda não foram feitas
na carne virgem da minha esperança.

Por entre um milhão de mundos,
sou como que um fantasma a navegar
em barcos sem nome em busca de um lugar.

Ventos e velas foram sepultados nas valas do inverno
que me cobre a pele.

Desculpo a mim próprio a vergonha
que nasce do silêncio e morre no meu medo.

Sou vidro frágil, o lobo que a floresta dos meus olhos
esconde nas suas entranhas.

Com tanto pelo que viver, deixo-me para trás sozinho.
Com tanto pelo que morrer, vou procurar-me onde nunca estive.

Chegarei a contos de fadas para as desmentir,
serei as sombras dos seus lares mágicos.

Chegarei ao infinito para lhe pôr um fim,
irei trazer de lá os mais belos olhos
que caminharão na minha poesia.

Deixei-me para trás para ser o eclipse das almas
que me chamam louco.

Quando morrer serei sepultado num jardim
onde os mortais estão proibidos de entrar.

Serei o deus que em mim vou encontrar
para lá dos desejos da noite no funeral do Eu.

 

Submited by

Friday, May 13, 2011 - 05:00

Ministério da Poesia :

Your rating: None Average: 5 (1 vote)

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 25 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation A morte é o museu da memória 5 5.329 05/24/2012 - 16:21 Portuguese
Poesia/Passion TREMORES DE PRAZER 8 3.511 05/24/2012 - 16:19 Portuguese
Poesia/Disillusion DESEQUILÍBRIO 2 2.991 05/24/2012 - 16:18 Portuguese
Poesia/Love DEUSA 2 3.361 05/24/2012 - 16:12 Portuguese
Poesia/Sadness LÁGRIMAS EM BRASA 2 2.876 05/24/2012 - 16:11 Portuguese
Poesia/Fantasy RESSUSCITAREI DOS MORTOS 5 1.626 05/24/2012 - 16:10 Portuguese
Poesia/Meditation A MERDA QUE NÃO SOU 3 3.674 05/24/2012 - 16:08 Portuguese
Poesia/Erotic DESPE-ME 6 2.459 05/24/2012 - 16:06 Portuguese
Poesia/Love TROVA DE AMOR 10 1.367 05/24/2012 - 16:05 Portuguese
Poesia/Intervention AMOR SEM BRIGAS... 3 7.516 05/24/2012 - 16:04 Portuguese
Poesia/Meditation Sonhos... 2 4.545 05/24/2012 - 16:01 Portuguese
Poesia/Passion À DERIVA 5 3.161 05/24/2012 - 16:00 Portuguese
Poesia/Meditation O SABER DA IDADE 3 1.493 05/24/2012 - 15:59 Portuguese
Prosas/Thoughts DOPADO DE SONHOS 4 5.263 05/24/2012 - 15:58 Portuguese
Prosas/Thoughts VOZ DO ACREDITAR 2 3.373 05/24/2012 - 15:57 Portuguese
Poesia/Love ÉS OÁSIS, ÉS MULHER 8 913 05/24/2012 - 15:56 Portuguese
Poesia/Passion JARDIM PERFEITO 3 3.027 05/24/2012 - 15:55 Portuguese
Poesia/Love ESCRITA DE BEIJOS 2 3.091 05/24/2012 - 15:54 Portuguese
Poesia/Meditation DESASTRE DA PERFEIÇÃO 2 2.995 05/24/2012 - 15:53 Portuguese
Poesia/Meditation SOMOS IGUARIA DE UMA COVA 4 4.933 05/21/2012 - 03:55 Portuguese
Poesia/Love AMOR, TEMPESTADE E BONANÇA 2 3.116 05/21/2012 - 03:50 Portuguese
Poesia/Sadness BEIJAR UMA ROSA MURCHA 2 1.759 05/21/2012 - 03:49 Portuguese
Poesia/Passion ESCULPIDO PELA TUA ARTE SENSUAL 2 4.134 05/21/2012 - 03:47 Portuguese
Poesia/Love ATÉ A TI 2 815 05/21/2012 - 03:44 Portuguese
Poesia/Love CORPO A CORPO 2 8.201 05/21/2012 - 03:43 Portuguese