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ESTRANHA MADRUGADA (Continuação)

                                                                                 A Revolução

A caminho para o trabalho Francisco reparara que haviam carros de assalto tanques e muitos soldados à entrada da vila. Eram sete horas da manhã quando ele chega à garagem. Como habitualmente ele liga o rádio para ouvir o noticiário. Mas tudo o que se ouvia era musica militar. A um momento dado um longo silêncio que terminou pela difusão de uma canção de Zeca Afonso que era proibida em Portugal: "Grândola vila morena". Logo a seguir as informações:
“Bom dia, depois da meia noite de hoje a queda da ditadura velha de cinquenta anos està a decorrer”.
Uma junta de capitães se serviu de duas canções como senhas para iniciar o golpe de estado que os democratas portugueses esperavam depois de vadias décadas. Eis a cronologia dos acontecimentos desta noite!
22h55 – A primeira senha para o início da Revolução foi ouvida nos Emissores Associados de Lisboa. A voz do locutor João Paulo Diniz anuncia a canção “Depois do Adeus de Paulo de Carvalho. É a palavra de ordem combinada para que o 10. º Grupo de Comandos assalte o Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina, para transformá-lo no posto de comando do Movimento das Forças Armadas”.
00h20 – É hora da segunda senha. A Rádio Renascença passa o tema "Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso. Os movimentos de tropas começam um pouco por todo o lado.
02h00 – Uma coluna motorizada sai do Campo de Tiro da Serra da Cargueira com o objetivo de ocupar a Emissora Nacional, na Rua do Quelhas.
04h20 – O Aeroporto da Portela é tomado e controlado.
04h26 – É emitido o primeiro comunicado à população pelo posto de comando do MFA instalado no Rádio Clube Português. Neste comunicado, o Movimento das Forças Armadas apela à calma e ao recolher da população às suas casas, para que se evitem confrontos com as Forças Armadas.
05h00 – O director geral da PIDE telefona a Marcelo Caetano a informá-lo de que a revolução está na rua. Para salvaguardar a segurança do chefe de Governo, é decidida a sua ida para o quartel da GNR do Carmo.
05h15 – O MFA adverte as forças do regime para a responsabilização que lhes será imputada caso enveredem pela luta armada. Há apenas algumas horas alguns Generais aderiram também ao movimento dos capitães, o Movimento das Forças Armadas ja està em marcha.
Segundos as ultimas informações algumas unidades do exercito, da PSP e da GNR ainda resistem às forças revolucionárias”. Tendo ouvido suficiente Francisco desligou o aparelho e foi às suas ocupações. Entretanto meditava no que tinha acabado de ouvir. A política nunca foi o seu forte, mas ele achava que tal evento iria mudar muita coisa no país. Por um lado este golpe de estado ia pôr fim à ditadura, mas significaria também o fim da guerra colonial. E ele estava bem situado para compreender a situação, três anos da sua vida tinha vivido essa guerra terrível. Embora ele pessoalmente só tivesse tido um ferimento ligeiro num braço, alguns dos seus amigos tinham sido mortos e outros ficaram mutilados. Participar nessa guerra o marcara para toda a vida embora poucas vezes estivera na frente dos combates. Ele sempre achou que a terra pertence àqueles que por gerações lá nasceram e lá vivem. Para Francisco essas guerras são sempre fomentadas por nações poderosas sedentas de domínio econômico e territorial. Enquanto reparava um motor de um caminhão uma pergunta lhe veio à mente: "Teriam os desaparecimentos de ontem, alguma coisa a ver com o golpe de estado?" Seria bem possível tal eventualidade. Mas o que ele nunca poderia explicar era para onde foram, tanto a viatura como o barco.
Cinco dias mais tarde festejava-se o 1 ° de maio o país estava em festa. O MFA conseguira derrubar o regime ditatorial de Salazar e começava a dar os primeiros passos em direção à democracia. De norte a sul de Portugal por todo o lado nas ruas repletas de populares que encorajam os soldados e lhes colocam cravos vermelhos nos canos das G-3, festejando assim a recém encontrada liberdade. Como o banho de sangue pode ser evitado este golpe de estado ficou conhecido como a Revolução dos Cravos. O único sangue derramado foi diante da sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, os agentes do regime dispararam das janelas, em direção ao povo que manifestava ali, fato que resultou em cinco mortes – as únicas de toda a revolução! Mas alguém que não estava festejando isso era Francisco, nesse 1° de maio era meio dia quando ele foi no seu rochedo favorito para pescar algo para o almoço. Ele estava sozinho como ele gostava para pescar à vontade. Ele não gosta de falar com ninguém enquanto pesca. Estava um dia lindo cheio de sol e fazia calor. O mar estava calmo, raso como terra firme. Tempo ideal para pescar. De repente a linha esticou e era puxada para o mar devia ser um grande peixe. Ele pensou: "Acho que vou ter de comer para três dias." Com efeito, era um pargo enorme, como ele nunca tinha pescado um assim. Ele colocou peixe no cesto arranjou a cana e a linha. Mas algo o prendia ali estava como que pregado ao chão. Obcecado ainda pelos desaparecimentos dos quais fora testemunha ele decidiu de descer o mais perto do mar possível. Inspecionou bem todas as saliências das rochas, mas nada, não havia nenhum rastro, nenhum sinal. Chegando a casa começou a preparar a carpa escamando-a e tirando as tripas e cortando-a em postas. Ao jogar as tripas na lixeira viu algo que brilhava ele pegou e era uma aliança em ouro. De repente ele empalideceu ele acabava de ler no interior da aliança: "Francisco 24/5/67". Tirou a sua do dedo e leu: " Maria 24/5/67". Angustiado por esta descoberta ele não sabia o que fazer. Ele tinha o numero do telefone do hotel onde Maria trabalha. Subiu na mota e se dirigiu no bar que fica nas portas da vila par lhe telefonar. Na recepção do hotel lhe responderam que Maria estava em férias e não voltaria senão na segunda feira da semana seguinte.
Que chatice era quarta feira e tinha ainda de esperar cinco dias para ter noticias da esposa. Inquieto volta para casa e retornando a aliança entre os dedos ele se fazia muitas perguntas. Como foi possível este anel estar no ventre da carpa? Teria acontecido algo de grave a Maria? Porque razão ela teve necessidade de apanhar férias nesta altura do ano? Tanto mais que as férias grandes das crianças ainda não tinham começado, são só começam em julho. Ele se sentia muito perturbado com todas estas coisas estranhas que lhe tinham acontecido ultimamente. Então decidiu responder à ultima carta de Maria:
- "Minha querida Maria, estou feliz de poder responder à tua carta. Me senti feliz em receber noticias tuas e de, sobretudo, em saber que os nossos filhinhos vão bem. Sobre nós nunca falas e há muitas coisas que eu gostaria de saber com respeito à nossa relação. Gostaria muito de saber se um dia voltas ao nosso lar. Faz ja dois anos que não te vejo nem as crianças. Sinto imenso a vossa falta. Nestes últimos tempos coisas estranhas me aconteceram. Uma viatura e um barco se volatilizaram diante dos meus olhos. Isto no dia vinte e quatro de abril na véspera da revolução. E para acabar com o meu moral no 1° de maio encontrei a tua aliança nas tripas de um pargo. Com tudo isto me sinto muito perturbado. Por favor, logo que recebas esta carta liga-me na garagem. Beijos para ti e para as crianças. Sempre teu. Francisco." Nesse mesmo dia à noitinha ele foi de novo à "Varanda de Pilatos". O mar trazia força e rugia um pouco. A noite estava negra, no entanto, o céu estrelado estava mesmo belo. Ele ficou ali a olhar as estrelas e as luzes dos barcos que navegavam ao largo. Nada de estranho se passou. Ele meditava e pensando à aliança da esposa nas tripas do peixe sentia um frio na coluna. Não lhe saía do pensamento que alguma coisa tinha sucedido a Maria.
Segunda feira dia em que Maria devia recomeçar o seu trabalho Francisco ligou para Paris na recepção do hotel. Não ela não estava trabalhando hoje, pois tinha enviado um atestado médico de doença. Estava com baixa por quinze dias. Então perguntou se não havia maneira de comunicar com sua esposa. Não ela não possui telefone em casa. Inquieto ele não sabia o que fazer. Ir a Paris? Deixar a garagem? Impossível depois que ele tinha comprado a garagem, a clientela duplicou, e ainda por cima com a revolução, nesta altura ele não a podia abandonar. É também verdade que o seu pessoal é muito competente, mas não podia se ausentar agora. Teve então uma idéia. O seu amigo Julio de Sousa, "Juca"para os amigos, acabara de abrir uma agência de detetives privados em Paris. Quando ele veio a Peniche visitar a família no ultimo Natal, dera a Francisco o seu cartão de visita. Assim ligou para ele e explicou a situação fazendo parte da sua inquietação a respeito de Maria. Juca tranqüilizou Francisco dizendo que ficasse descansado ele ia pessoalmente de ocupar do caso. Certamente amanhã ja se saberá algo sobe ela e as crianças. Na manhã seguinte, Juca ligou, mas estava aflito. Maria ja não habita no endereço indicado por Francisco há mais de seis meses. A porteira do prédio faz seguir o correio de Maria para o hotel. No hotel lhe disseram que ela habitava sempre no mesmo endereço.
– Francisco lhe diz: "Por favor, te pagarei o que fôr necessário, mas encontra-a. Aqui estou morrendo de inquietude."
– Juca diz: "Isso não será muito fácil, mas confia em mim, a minha equipa e eu vamos fazer tudo para a encontrar."
Francisco dormiu muito mal essa noite. Várias questões lhe vinham à mente sem cessar: Onde estará Maria e os filhinhos? Que faz ela durante estas férias? Como foi possível a sua aliança ir parar nas tripas do peixe? E que querem dizer os estranhos desaparecimentos? Estas perguntas sem resposta não o deixavam dormir. Dois dias mais tarde o seu amigo Juca lhe ligou. Maria não està em França ela pegou o avião da TAP em vinte de abril às oito e trinta da manhã em direção a Lisboa. Mas viajou só os filhos não estavam com ela. O seu bilhete tem a validade de três meses. Por outro lado ela não reservou nenhum quarto de hotel em Portugal. Francisco ficou de boca aberta. Indignado mesmo! Ela estava depois de duas semanas em Portugal e não o tinha contatado. Que està Maria fazendo em Portugal nesta altura do ano? A resposta teve-a nessa mesma noite. Francisco não tinha televisão em casa, mas tinha o hábito de ir num bar para ver o telejornal todas as noites, pois era a única emissão que lhe interessava. Ele nunca soube explicar porquê, mas ele sentia que nessa noite tinha de ver o telejornal. A noticia mais importante da noite era a chegada à estação de Santa Apolônia dum dos mais importantes lideres políticos portugueses da oposição que tinha estado exilado em França vários anos. Era o secretário geral do partido socialista no exílio. Com a instauração da democracia ele voltava ao país. No decorrer da reportagem dessa chegada num grande plano do homem político, Francisco caiu das nuvens ali bem à direita estava Maria. Ela estava acompanhando tal homem. Ele reparou que haviam outras pessoas que o acompanhavam, mas uma coisa era certa Maria fazia parte da comitiva desse político. Como podia ser isso? Ele não encontrava explicação para tal coisa. Maria sempre detestou a política e como de um dia para o outro se tornara socialista? Apenas há dois anos era impensável tal coisa! Mas o que fazer para a contatar? Iria dar em louco por todas as coisas estranhas que lhe estavam acontecendo? Outras pessoas presentes no bar também reconheceram Maria e manifestaram a sua surpresa. Francisco não entendia mais nada da sua vida, estava numa confusão total. No dia seguinte na hora do almoço tocou o telefone, era Maria. Ele se sentiu aliviado. Ela pediu ao esposo para não se inquietar a seu respeito. Ela reprovou a Francisco o fato de ter colocado detetives atrás dela. também não se devia inquietar pelas crianças, elas estavam bem entregues. Depois de um ano que ela fazia parte do estado maior do partido socialista no exílio em Paris. Este partido estava secretamente ao corrente da preparação do golpe de estado em Portugal depois de algumas semanas. Maria tinha sido encarregada pela direção do Partido de organizar, entre outras missões, o regresso a Portugal do secretário geral. Para cumprir o seu trabalho ela tinha chegado a Portugal cinco dias antes das revolução. Não podendo dar outros pormenores ela prometeu ao esposo vir em Peniche antes de regressar a França. Ele ficou feliz que ela o viesse ver, mas por outro lado ele apreendia isso. Sua esposa fazendo parte de um partido político! Quem ousaria crer nisso dois anos antes? Como uma mulher fraca e deprimida que ele conhecera chegara a tal posição?
No domingo seguinte ela chegou à hora do almoço. Tinha vindo sozinha de carro.Com os olhos cheios de lágrimas o casal se beijou terna e longamente. Durante o almoço ela falou dos filhos, eles estavam bem, uma amiga militante do partido se ocupava bem deles durante esta ausência. Depois ela começou a contar a sua história. Em Paris ela tinha recomeçado os estudos interrompidos pelo casamento. Um dos seus professores era membro ativo do PS francês, tal como a sua esposa, com o tempo a convenceram a aderir ao partido. Logo foi posta em contato com os socialistas portugueses no exílio. Francisco então perguntou porque razão ela não o tinha informado antes dessa situação. Ela respondeu que em pouco tempo começou a ter responsabilidades no seio do partido, por isso a PIDE começou a vigiar as atividades dela. Tinha sido seguida muitas vezes por agentes dessa policia e uma vez tinha escapado à justa a um atentado preparado por eles. Por esta razão ela não podia correr o risco de informar a família em Portugal. Enquanto ela falava, ele a olhava com ternura porque estava muito feliz de a ter junto dele. Então os seus olhos se pousaram sobe o anular da mão esquerda dela, e reparou que ela tinha posta a aliança. Então ele começou a contar o que se tinha passado com ele no tocante aos desaparecimentos e também sobre a aliança encontrada no peixe. E lhe fez parte da inquietude a respeito dela e a razão de ter feito apelo a Juca e à sua agencia de detetives em Paris. Primeiro Maria deu uma grande gargalhada e disse que fossem diante da porta. – lá ela pergunta: "Foi este carro que tu viste desaparecer na madrugada do 24 de abril?" – Depois de bem inspecionar o veículo ele respondeu: "É verdade que fazia escuro nessa madrugada, mas é bem possível que fosse este carro." – Rindo muito ela explicou: "Era bem eu ao volante, conduzia dois membros importantes do partido. Quando no retrovisor eu vi a mota, depois da curva abrandei e apaguei os faróis e entrei no recinto do farol e fui até ao fundo e aparquei ao longo do muro. Com a cumplicidade do faroleiro nós íamos ter ali uma reunião importante pelas sete horas da manhã. Militantes do PS francês e espanhol eram esperados nesta reunião. Nós ficamos aflitos quando alguém bateu à porta do farol chegamos a pensar que tínhamos sido denunciados. Eu não te reconheci nessa ocasião. Devido ao processo de democratização em curso eu ainda nada te posso dizer sobre o conteúdo dessa reunião." – Francisco então lhe retorquiu: “Eu reconheço bem a minha ingenuidade, devia ter entrado no”. recinto”. do farol para verificar; mas para mim o carro se ia despenhar no abismo. E sobre o submarino e o pneumático sabes algo?" – Maria: " Pelo momento não te sei dizer nada sobre isso, mas é bem possível que tenha algo a ver com o golpe de estado." – Francisco: "Bom vem no interior te quero mostrar algo. Vê se esta aliança é bem a tua!" Ela empalideceu, seu semblante carregou e os olhos ficaram ùmidos. Depois de um longo silêncio ela respondeu: " Sim essa é bem a minha aliança esta que trago é uma copia que fiz fazer. Tinha-a emprestado a Brigitte uma companheira de luta que devia se fazer passar por mulher casada embora fosse solteira. Com um amigo eles tinha recebido uma importante missão em Portugal. No decorrer desta missão ambos desapareceram sem deixar rasto." Ela tinha os olhos cheios de lágrimas. Até ali ela pensava que eles estivessem presos pela PIDE mas agora tinha quase a certeza que tinham sido mortos e os corpos lançados no mar! De nacionalidade francesa Brigitte era um membro importante do PS francês. Mas muitas vezes trabalhou estreitamente com o PS português executando vadias missões em Portugal. Ela falava o francês sem sotaque porque sua mãe era portuguesa e lhe tinha ensinado a língua portuguesa. O seu amigo Arnaud, era belga e não falava uma palavra de português. A ultima missão recebida consistia a se infiltrarem no meio financeiro português. Eles deviam-se passar por um casal franco-belga que se vinha instalar em Lisboa. Como possuíam imensos capitais, iriam investir em vários sectores financeiros do pais. Isto tinha o objetivo de trazer dinheiro fresco à economia portuguesa arruinada pela guerra colonial. Mas a sua verdadeira missão era fazer justamente o contraio. Preparando operações financeiras ruinosas eles iriam levar o Estado Português à falência. Desta maneira seria mais fácil se tentar um golpe de estado! Para Maria eles tinham sido presos torturados e mortos, embora só a aliança no ventre do peixe não era uma prova disso. Em breve quando os arquivos da PIDE forem abertos então se verá mais claro isto lhe dava alguma esperança de que o pior não tenha acontecido aquele casal amigo. – Mudando de assunto Francisco lhe diz: - "Ficas aqui esta noite ou tens de partir?" – Maria respondeu: " Por agora tenho três dias livres e como temos muito a contar um ao outro eu ficarei contigo as duas próximas noites. Isso te fará feliz não é verdade?" Oh como ele estava feliz de ter a sua esposa as duas noites seguintes, mas o seu maior desejo é que ela ficasse ali com ele para sempre. Como ele a ama do todo o coração, a separação tem sido muito penosa para ele. Maria também o ama muito, mas viver aqui neste lugar é impossível para ela. Ela não foi feita para este modo de vida. Por outro lado em Paris com o seu trabalho e as atividades poéticas ela se sente feliz. Ela o assegurou que do ponto de vista afetivo e sexual Francisco era o único homem da sua vida. Durante os dois anos de separação ela nunca o tinha traído. Nesse aspecto Francisco também lhe tinha sido fiel. Durante um bom momento se olharam nos olhos longamente e puderam assim sentir quanto amor eles sentiam um pelo outro. Nessa tarde decidiram de ir às Caldas da Rainha visitar os pais de Maria, que ficaram surpreendidos por esta visita da filha e do genro. E mais surpreendidos ainda pelas as atividades políticas da filha, tinham ficado de boca aberta quando viram Maria no telejornal na reportagem da chegada do secretário geral do PS a Lisboa. Durante o jantar Maria impressionou a família falando das suas atividades políticas em Paris e em Portugal. No final do jantar os pais dela e Olinda a irmã ainda solteira de Maria estavam orgulhosos desta militante corajosa. ja era noite quando o casal voltou para casa. Nessa noite o tempo estava bom e estava calor mesmo, o mar estava calmo, então foram na Varanda de Pilatos. Maria não queria ir, aliás, nunca lá tinha ido, porque tinha medo de descer no buraco. Mas Francisco carinhosamente a tranqüilizou e ajudou a se instalar na janela sobre o mar. Ela reconheceu então que mesmo de noite se estava bem ali. A vista sobre o mar calmo para ela era algo de repousante. Logo ele começou a contar como viu surgir do mar aquele submarino e mostrou para ela o local exato onde isso aconteceu. E lhe mostrou qual a trajetória do pneumático e como depois desapareceu sem deixar rasto. Explicou também a Maria que ele vinha regularmente neste local para meditar na sua vida de separados e muitas vezes chorava amargamente. Ela disse que às vezes também chorava quando pensava nele! Mas a partir de agora a vida deles iria mudar, iriam falar seriamente e tomariam uma decisão. Depois voltaram em casa. Aquela noite foi verdadeiramente memorável para aquele casal que a vida tinha separado, mas que nunca tinham deixado de se amar. No dia seguinte à mesa durante o jantar ela falou seriamente.
– Maria diz: "E se tu vendesses a garagem e viesses comigo em França? Certamente la tu encontrarás facilmente trabalho e as crianças ficariam felizes de ter o seu papai com eles. Daqui a dez dias tenho de retomar o meu trabalho no hotel. Se bem que ainda tenho vadias atividades em Lisboa, isso me lavará dois ou três dias, poderei ainda vir alguns dias a Peniche.”.
– Francisco: " Por minha parte vou ver se consigo vender a garagem ou encontrar um gerente que se ocupará dela. Do que estou seguro é que não posso mais viver sem ti e os nossos filhos. Sinto necessidade da minha família e eles precisam do seu pai junto deles. Durante as férias anuais viremos passa-las aqui. Pedirei ao meu tio Paulo que se ocupe da casa. Està decidido nós vamos para França juntos!"
No dia seguinte Maria visitou a garagem e apreciou as transformações realizadas por seu esposo. Também ficou surpreendida pela enorme clientela que ele tinha. Logo Maria se despediu beijou seu esposo e partiu para Lisboa. Nessa manhã Francisco estava feliz de poder de novo formar uma família. No entanto tinha vários assuntos a resolver antes no que concerne a sua empresa. E o tempo era escasso só tinha alguns dias para arranjar tudo. Por causa do novo regime político a venda ou o aluguel da garagem ia-lhe colocar vários problemas. Os comunistas vinham de conseguir o controle sobre os sindicatos e queriam também pôr a mão sobre as empresas do país. O lema deles era: "O fruto do trabalho aos trabalhadores". Francisco ainda não estava ao corrente que Artur un dos mecânicos tinha sido nomeado delegado sindical pelo Partido Comunista. Depois do almoço ele reuniu os dez membros do seu pessoal e os colocou ao corrente dos seus projetos em relação à sua ida para França e o futuro da garagem. Artur então pediu a palavra e disse que em caso do patrão partir, o pessoal tinha o direito de constituir uma sociedade cooperativa sem ele. Estava evidente que neste caso Francisco ia ficar sem nada do que ele tinha construído com o suor do seu rosto. Deste modo a empresa ficaria a propriedade dos trabalhadores. O MFA tinha avalizado este modo de se controlar e apropriar das empresas. Então seria necessário que o pessoal votasse afim de que se formasse a cooperativa ou não. Artur o mais recente empregado na empresa não sabia o quanto Francisco era prezado pelos seus empregados. Ele tinha sido sempre um bom patrão e o seu pessoal nunca se tinha queixado dele. Por isso o resultado do voto foi desfavorável a Artur e ao Sindicato: Um contra nove. Assim a cooperativa não se formaria. A maioria do pessoal fora favorável ao seu patrão. Sendo um homem justo e generoso então propôs a participação de todos operários numa sociedade anônima que eles iam criar juntos. Ernesto o chefe bate-chapa seu homem de confiança e padrinho do seu filho, seria administrador delegado e acionário com 15 % das partes . Francisco seria acionário majoritário a 20% . Todos os que votaram a favor partilhariam entre si as 65 partes restantes. Nestas condições Artur na tinha outra alternativa se não demissionar para não ficar isolado no seio da nova sociedade. No dia seguinte a acta notarial foi redigida e assinada! Parecia que Deus estava do seu lado, num só dia o mais difícil fora solucionado. Agora ele podia acompanhar a esposa para se juntar aos filhinhos em Paris. Dois dias mais tarde, ela estava de volta, mas trazia más noticias. Como o PC estava controlando todos os postos chaves no aparelho de estado do novo regime o seu partido tinha necessidade dela. Por isso a viagem de volta para França tinha de ser adiada. Ela tinha sido designada para organizar o PS na região centro do pais. Esse trabalho ia levar algumas semanas, mas tinha a vantagem de poder cumprir tal missão a partir de Peniche. Como o PS não tinha uma sede naquela vila, Francisco preparou na garagem um escritório com telefone para que Maria pudesse levar a bem a sua missão. Embora a viagem tivesse sido adiada de algumas semanas, eles estavam felizes por estarem juntinhos um do outro. Desta maneira se podiam amar como no principio do seu casamento. Assim ele também poderia pôr em ordem todos os detalhes da nova sociedade antes de partir. Dois meses depois eles embarcavam no avião para. Paris. Á chegada alguns amigos bem como Ernesto e Aurélia os esperavam ansiosamente. Francisco emocionado chorava e as crianças agarradas a ele também choravam. Quando chegaram a casa estavam bem felizes de estarem de novo unidos como família. Mas agora com mais um membro o apartamento de Maria ficou pequeno, assim eles decidiram de mudar de casa. O professor de Maria e sua esposa lhes arranjaram uma casa em Ivry a alguns kilômetros de Paris. Como ela tinha perdido o seu emprego no hotel, foi nomeada secretária na sede do PS em Paris. Uma amigo português empregou Francisco na sua garagem. Embora ele compreendesse algo de francês, falava pouco, assim Maria com muita paciência o ensinou a dominar a língua falada, escrita e lida. Durante seis meses eles aprenderam a viver juntos como família de novo e podia-se dizer que agora eram uma família unida e feliz. Nesse ano o inverno foi muito rude em França. Mas o verão de 1976 foi excepcional assim eles decidiram de aproveitar as férias para fazer alguns trabalhos na casa. Como os filhos partiram com a tia de Maria passar as férias em Portugal, desta maneira para o casal era como se fosse uma segunda lua de mel. No fim de Agosto Maria recebeu uma longa carta do presidente do PS português. Ele lhe agradecia a devoção que ela tinha mostrado à causa do socialismo em Portugal. Graças ao esforço dela em parte os comunistas tinham perdido a credibilidade junto do povo. Nas próximas eleições o PS ia certamente se afirmar como o verdadeiro partido do povo português. Também lhe deu uma noticia que a aliviou, Brigitte estava em vida! Porem de Arnaud só se sabia que tinha sido preso e torturado no Forte de Peniche e como era de saúde frágil talvez não tenha sobrevivido às torturas. Mas o seu corpo desapareceu e nos arquivos do forte não constava o seu nome. Certamente foi jogado no mar. Quanto a Brigitte ela estava entre as presas do forte de Caxias. A sua cela era muitas vezes inundada pelo mar e na maré baixa tinha correntes de ar. Devido à humidade, ao frio e às correntes de ar ela contraíra uma pneumonia. Estava muito fraca e magra era só a pele e o osso. Depois de receber cuidados médicos durante algumas semanas no hospital, Brigitte tinha recuperado e ja em plena forma estava bastante ocupada na sede do partido. Ela seria candidata pelo partido nas próximas eleições. Em breve a campanha eleitoral iria começar! O presidente terminava por estas palavras: " Venha para Portugal Maria, precisamos muito de você para nos ajudar a organizar a próxima campanha. Se desejar será candidata às Municipais e às Legislativas a Maria tem uma capacidade enorme de organização e precisamos de si ! No entanto um grande obrigado por tudo." Ela escreveu ao presidente uma carta onde ela gentilmente recusou a amável proposição alegando que estava habituada à França e para ela viver em Portugal era muito difícil devido ao clima. O clima úmido e frio na península de Peniche não lhe convinha, pois ali ela fazia depressão sobre depressão. E também os filhos dificilmente se adaptariam a uma nova escola. Por todas estas razões ela não voltaria a Portugal. Fins de setembro Maria foi nomeada membro da direção do PS francês. Esta nomeação iria trazer uma enorme mudança na sua vida e da sua família. As suas novas funções lhe iam ocupar imenso tempo. Em certas ocasiões ela teria que se deslocar só ou acompanhada de outros membros da direção do partido. Este aumento de trabalho ia separá-la muitas vezes da família.

(Continua)

 

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sexta-feira, março 25, 2011 - 19:31

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