COM SENTIDO(S)

I

Sentidos embriagados,

Ilusões e memórias repassadas,

Olhos semicerrados... atentos, mas desfocados.

 

Nariz de faro desorientado,

Odores intensos, misturados...

Como uma mancha

criada de várias nódoas que caíram sistematicamente,       no mesmo lugar,       massacrando o tecido...

uma após outra (...)

 

II

Ouvidos inundados...

Não escutam o silêncio...

                                               já se olvidaram de o gostar.

 

[ A estrada da informação ... rádio, música e televisão... telemóveis, computadores, espaços virtuais...

... tudo necessidades banais. Já são coisas demasiado "normais"  - (indispensáveis!) ] 

 

O barulho que continua,

vem da parede comum aos vizinhos da "gaveta" ao lado.

(o segundo ponteiro pouco mexe)

E ainda se ouve alarme, buzina, sirene.

(mesmo com a janela fechada!)

 

III

Sabor ausente em paladar distante...

 

Depressa se come,

O estômago não reclama fome,

                                                         mas digere e rumina preocupação

                                            (... essa pré-ocupação que se ocupa antes de tempo...)

                                            (... compasso disperso e distante do momento...) 

 

Depressa se come,

Depressa se aprecia,       o vapor da saborosa refeição

Mais que o gosto de iguaria

Mais que palato apurado      de especiaria...

...         Corre o sabor da evaporada digestão.

 

IV

Emoções vividas na violência da correria,

Mão que toca e não sente...

 

      No fim, as mãos tremem...

os braços acusam formiguenta parestesia até aos dedos

Culpam-se os nervos.

 

V

... Desliga-se tudo.

 

Os olhos fecham-se.

O silêncio é    total.

                                    («respira-se bem, afinal»)

 

A  saliva renovada,

Lava a lingua e o palato,

As mãos repousam sobre o peito...

                                                                  ... volta-se a sentir Tudo

                                                                   no centro do sono mais profundo.

(nas profundezas do sonho fundo) 

 

Reeditado

in Coisas Ingénuas

Ricardo Rodeia

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Friday, August 19, 2011 - 02:35

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