A Quimioterapia (Republicado)

Eis que se troca a Esperança
pela Espera.
A dor me desespera
e a vida me onera.

O frio me entorpece,
a comida não me apetece
e a maldita "quimio" que nunca desce.
O que foi riso desaparece
e do resto, a gente esquece.

Inútil pensar no carinho que enternece.
Na voz que antes me excitava e agora aborrece.
E no outro corpo que já não me aquece.

Ao meu lado outra vida desaparece.
Um anjo que fenece,
um lírio que falece
(eu queria rezar, mas não sei a prece).

Voltei para a conhecida Estrada.
Caminho do Nada
e sem alivio d'alguma parada.
Tento lembrar da moça bonita
e dos planos que sonhamos
(e que nunca realizamos).

E pensar que ela,
ao entrar em minha vida
compensou esse caminho
de pedra não polida.
Neo, novo, Neolítico...
que me anda qual paralítico.

Aumentam-me a dose e a inconsciência.
Mas ainda masco a impotência
que me sobrou de tua ausência
(favinho de mel,
se tu soubesse o quanto houve de Céu
nos momentos em que me tirastes do Léu...).

Atrás do vidro
revejo meu reflexo moído.
E o quão doído
é esse sofrer sem sentido.

Noutro poema escrevi
que muita vida já comi.
Agora, é chegado o momento
de findar o sofrimento.
De chorar o último lamento,
de sorrir o penúltimo contentamento
e de fingir que nada foi em vão.

Tomei a vida por usucapião
e vivi meu o quinhão.
Agora, eu queria breve
o derradeiro não.

Submited by

Wednesday, February 1, 2012 - 10:02

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 9 years 11 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General A Dor 0 3.576 12/11/2015 - 13:27 Portuguese
Poesia/General Quem dera 0 4.007 12/08/2015 - 18:30 Portuguese
Poesia/Love A Gueixa 0 3.656 11/25/2015 - 13:49 Portuguese
Prosas/Others Kant e o Idealismo alemão 0 11.251 11/21/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/General Vidas 0 3.448 11/08/2015 - 13:57 Portuguese
Poesia/Love Tempos 0 1.453 11/07/2015 - 13:21 Portuguese
Poesia/General Nihil 0 3.291 11/05/2015 - 13:43 Portuguese
Poesia/Love A Moça e o Luar 0 3.483 11/02/2015 - 14:05 Portuguese
Poesia/Sadness A Atriz 0 4.205 10/24/2015 - 12:37 Portuguese
Prosas/Others Lula, Dilma, Cunha e a "Banalidade do Mal" 0 8.456 10/21/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Dedicated Mestres 0 3.414 10/15/2015 - 13:24 Portuguese
Poesia/Dedicated As Cores de Frida 0 3.214 10/12/2015 - 15:24 Portuguese
Poesia/Love Crepúsculo 0 3.345 10/08/2015 - 14:23 Portuguese
Poesia/Love A Inquietude 0 3.967 09/20/2015 - 15:44 Portuguese
Poesia/Sadness A Canção de Budapeste 0 4.963 09/18/2015 - 14:13 Portuguese
Prosas/Others AS BODAS DE FÍGARO - Óperas, guia para iniciantes. 0 7.960 09/18/2015 - 00:10 Portuguese
Poesia/General Húngara 0 2.939 09/12/2015 - 16:07 Portuguese
Prosas/Others ORLANDO FURIOSO, Vivaldi - Óperas, guia para iniciantes 0 4.135 09/10/2015 - 20:39 Portuguese
Poesia/Sadness O Menino Morto 0 2.381 09/03/2015 - 14:23 Portuguese
Prosas/Others FIDÉLIO, Beethoven - Óperas, guia para iniciantes 0 7.279 09/03/2015 - 13:36 Portuguese
Prosas/Others DR. FAUSTO, Gounod - Óperas, guia para iniciantes 0 4.943 09/01/2015 - 13:37 Portuguese
Prosas/Others NORMA, Bellini - Óperas, guia para iniciantes 0 4.901 08/27/2015 - 20:27 Portuguese
Prosas/Others OTELO, Verdi - Óperas, guia para iniciantes. 0 5.304 08/24/2015 - 20:14 Portuguese
Poesia/Dedicated A Canção de Roma 0 3.821 08/23/2015 - 16:37 Portuguese
Prosas/Others TURANDOT, Puccini - Óperas, guia para iniciantes 0 5.640 08/20/2015 - 23:43 Portuguese