Ode ao Avatar
Neste jardim tridimensional a que chamamos humanidade
Pronunciam - se palavras amontoadas no sacramental gesto numeral.
Trazem um milhão de recados ao segundo,
Sussurrados ao ouvido, repercutindo o sonho de Bell,
por gerações e sempre e sempre e já vamos a 3G e PDA e iPHONE.
Ver, ouvir, falar, escrever
Sentir de perto o tão doce toque das expectativas
Premir mágicos botões com múltiplas funções
Qual lâmpada de Aladino!?
E nesta roda-viva desenfreada que tudo se eleva para se estar "in"
Interrompe-se o sossego em nome do frenético quotidiano
Ressoam implacáveis toques,
Design com materiais da última moda,
Para abraçar o abraço da futilidade com laços de novidade.
Já que o tempo sem tempo para ter tempo
Desenha na retina SMS despersonalizados
Com dialécticos de “Ks”e “Xs”
Em formato virtual mais – que – perfeito!
Interface sem face a fazer as delicias dos mais descuidados
Ao pagarem factura com valor acrescentado!
Ai! Como é bom sentir na alma a carne dos afortunados!
Escolher confuso tarifário!
De slogans apelativos:
“Now” “Vive o momento” “Até já”…
e eu que não consigo esperar!
Um momento por favor, vou ter que atender...
Alô??... Trim-trim!! Polifónico.
Ecrãs a cores de alta definição!
Alô! Soberano do Mundo – Meu!
Das epopeias das telecomunicações…!
Tudo o que És contêm o que meus coração não alcança!
No que meus lábios não beijam
No que as minhas mãos não suportam!
Oh! Pudera eu ser tua semelhança!
Andar nas bocas do mundo
Nas promessas dos amantes
No fervor das alegrias
Em todas…todas as equações da vida.
Oh! Como te odeio
Odeio-te por te querer tanto
Embora odiando, celebro:
“É tarde meu amor para salvar-me”
Rendo-me à hipnótica modernidade que És
Envolvo-me no impulso dos teus magnéticos fios
Com que teço o meu canto.
No teu sémen que corre a minha mente desvairada
Na minha alma alucinada
Viciada!
Escrava!
Dependente…
De mim? De ti?
Não sei!
Mas não me arrependo - jamais!
Apenas lamento…
Minha voz rouca, magoada
destas poucas palavras que te aclamam.
Tendo como inspiração a "Ode Triunfal" de Fernando Pessoa no heterónimo Álvaro de Campos, foi-me feito o desafio de escrever um texto, então saiu este.
“… sobre mim teve, porque tudo tem influência em mim…”
Fernando Pessoa
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Comments
Re: Ode ao Avatar
Envolvo-me no impulso dos teus magnéticos fios
Com que teço o meu canto.
Forte ode!!!
:-)
Re: Ode ao Avatar
Conseguiste fazer um poema diferente de ti, ou do teu estilo habitual.
Quanto ao tema, agrada-me muito, porque ainda não percebi se gosto do progresso. Por outras palavras, não gosto, mas não me estou a ver a comentar os teus poemas por carta manuscrita...
O poema está óptimo e não deixa de questionar o que é questionável.
bjo
Re: Ode ao Avatar
:pint: Bebo à tua poesia
Soberba esta ode ao avatar. É mau? Talvez, mas até que sabe bem :-P
Bjo
Re: Ode ao Avatar p/ Treva
É sempre tempo de Te ler!
Beijo
Re: Ode ao Avatar
Está lindo Treva.
Inspiraste bem no mundo actual e no Álvaro de Campos. No que respeita aos sons. Mas ele não era muito virado para o amor.
O teu verso «É tarde meu amor para salvar-me» é mais típico do Ricardo Reis.
Enfim..... é só uma inspiração, o resto é teu! O que é óptimo.
:-)
Catherina
Re: Ode ao Avatar P/Sanders
Sim, Álvaro de Campos não era muito virado para o amor, mas se bem conheces a "Ode Triunfal" levarás em conta a exaltação, caracteristica essa pertencente a todas as odes e,neste caso em particular, combina a exautação com o roçar do sarcasmo social. Óbvio e longe de mim querer imitar Fernando Pessoa em qualquer dos seus heterónimos, mas enfim...como dizes e bem é só inspiração, o resto é meu, o que é "Optimus" (não resisti ao comercial) e, como disse, um desafio que aceitei de bom grado lançado por uma operadora de telecomunicações pelo lançamento de um dos seus produtos no mercado e para o qual fui convidada a participar a título de animadora do evento. A ideia era essa mesma, tentar transmitir o quanto somos dependentes e por vezes irracionais ( o amor quanto a mim e creio que para Álvaro de Campos é o estado supremo da irracionalidade, um manancial de potencialidades de abordagem.)
Muito obrigada pelo teu comentário (cousa rara! o que me deixa deveras babada de contentamento).
Beijo
Re: Ode ao Avatar P/Treva
Podemos dizer que estamos na era que Álvaro de Campos vivia (interiormente) e adorava poder estar.
Não te preocupes que não vais imitar Fernando Pessoa, porque ele era o poeta mítico e ninguém o alcança. E tu tens a tua maneira de ser e escrever, logo não conseguirás imitar ninguém. Porque és tu mesma, quando escreves.
Mas tudo isto, não quer dizer que não possamos aprender com os outros poetas, as suas técnicas, interpretações de sentimentos, etc.
Tens razão, é raro eu comentar. Pois é algo que o meu pc não me deixa fazer. Muitas vezes, quase "arranquei" os meus cabelos pelas tentativas de postar alguns comentários. E por fim fui desistindo de tentar.
Ultimamente tem me permitido comentar.... então tento aproveitar a possibilidade que tenho. :lol:
Bjs
Cat