NADA ME PERTENCE

NADA ME PERTENCE

 

Dizem que o país onde vivo também é meu,

Mas em nada do que ele tem não mando eu,

Se ando pela esquerda, não posso andar,

Se ando pela direita mandam parar,

Se vou pelo centro é sempre proibido,

Ando baralhado, viver neste país não consigo.

 

Nasci no meu pais e nada dele me pertence,

Farto-me de trabalhar e o cansaço me vence,

Levam-me tudo o que ganho e nada tenho,

Todos os dias acordo cedo e tarde venho,

Chego a casa, tenho a minha família à espera,

Apenas trago o cansaço e ela desespera.

 

Trabalho que nem um escravo para me reformar,

Durante quarenta anos sem parar,

Mesmo cambaleando do meu cansaço,

Tenho de correr e não andar a passo a passo,

Para não chegar atrasado posso ser despedido,

E depois fico sem casa e sem abrigo.

 

Quem manda no meu país ganha por falar,

E ao fim de poucos anos se pode reformar,

Andam bem vestidos em carros caros e vistosos,

Protegidos de tudo com ar de vitoriosos,

E eu sou empurrado pela polícia que os protege,

Quando afinal sou eu sem direitos quem os elege.

 

Se grito não me ouvem, ainda vou preso,

Por pedir o que é meu e fico indefeso,

Ando triste, velho e cansado e sem esperança,

Enquanto os meus governantes enchem a pança,

À custa do meu trabalho e nada fazem por mim,

E quando tenho a mísera reforma, chego ao fim.

 

Dizem que vivo em democracia, igualdade,

Em todos os atos há critérios de desigualdade,

Há justiça e educação para ricos e para pobres,

Sendo eu que ajudo o meu país a crescer,

Apenas tenho direito a um pedaço de terra para morrer,

Democracia assim eu não quero, muito obrigado,

Não posso gritar de indignação, sou escorraçado.

 

 

Tavira, 25 de Outubro de 2012-Estêvão

Submited by

Wednesday, March 30, 2016 - 10:53

Poesia :

No votes yet

José Custódio Estêvão

José Custódio Estêvão's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 3 years 5 weeks ago
Joined: 03/14/2012
Posts:
Points: 7749

Comments

poetadoabc's picture

Realmente...

"Nada realmente pertence a nós que não seja o tempo, que se tem mesmo quando não se tem nada mais."
Baltasar Gracián

José Custódio Estêvão's picture

Poema

Nem o tempo nos pertence, o tempo é nosso dono pois somos esravos do tempo e estamos aqui o tempo que o tempo quiser.
Faça favor de ser feliz
Obrigado.

Add comment

Login to post comments

other contents of José Custódio Estêvão

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation O MEU SONO 0 2.172 07/20/2016 - 11:19 Portuguese
Prosas/Thoughts PENSAMENTOS 0 3.058 07/20/2016 - 11:17 Portuguese
Prosas/Thoughts VIDA (19) 0 5.162 07/13/2016 - 09:55 Portuguese
Poesia/Love ROSA MORENA 0 3.144 07/13/2016 - 09:49 Portuguese
Prosas/Thoughts PENSAMENTOS 0 2.419 07/06/2016 - 10:42 Portuguese
Poesia/Love TENHO 0 3.758 07/06/2016 - 10:35 Portuguese
Prosas/Thoughts MAR DA VIDA 0 3.953 06/29/2016 - 09:53 Portuguese
Poesia/Love UM FILHO 0 3.764 06/29/2016 - 09:34 Portuguese
Prosas/Thoughts PENSAMENTOS 0 5.326 06/22/2016 - 09:29 Portuguese
Poesia/Meditation ÁRVORES NUAS 0 3.839 06/22/2016 - 09:16 Portuguese
Prosas/Thoughts MILHÕES DE ESTRELAS 0 4.441 06/15/2016 - 11:13 Portuguese
Poesia/Fantasy QUANDO OS ANIMAIS FALAVAM 0 4.130 06/15/2016 - 11:03 Portuguese
Prosas/Thoughts A MENTE 0 3.903 06/08/2016 - 10:15 Portuguese
Poesia/Love GOSTAR DE AMOR 0 2.396 06/08/2016 - 10:04 Portuguese
Prosas/Thoughts OS RIOS 0 3.042 06/01/2016 - 10:02 Portuguese
Poesia/Meditation APARÊNCIA 0 1.603 06/01/2016 - 09:53 Portuguese
Prosas/Thoughts PENSAR 0 3.373 05/25/2016 - 11:33 Portuguese
Poesia/Fantasy JANELAS DO CÉU 0 4.140 05/25/2016 - 10:58 Portuguese
Poesia/Meditation PEQUENOS E GRANDES 2 3.185 05/18/2016 - 17:13 Portuguese
Prosas/Thoughts SERPENTES HUMANAS 0 6.320 05/11/2016 - 09:51 Portuguese
Poesia/Fantasy UMA FLOR FALOU 0 3.363 05/11/2016 - 09:44 Portuguese
Poesia/Meditation MOMENTOS 0 2.605 05/04/2016 - 17:20 Portuguese
Prosas/Thoughts ONDAS DO MAR 0 2.994 04/27/2016 - 09:49 Portuguese
Poesia/Meditation PENSAR E SÓ PENSAR 0 2.121 04/27/2016 - 09:31 Portuguese
Prosas/Thoughts MELANCOLIA 0 4.562 04/20/2016 - 09:46 Portuguese