A PRAÇA NÃO ERA ASSIM - (Homenagem ao meu amigo poeta)
Eu vejo uma cabeça de boneca
ali ao chão jogada.
Ela é irrelevante na paisagem,
ela perdeu sua menina sapeca,
por isso está triste, degolada.
Será tarde, será noite, ou lindo dia?
Este vento gelado me arrepia.
Onde está o poeta, meu amigo?
O seresteiro dos acrósticos, da alegria?
Não ouço o recitar de poemas, aplausos, gritaria.
Porque ninguém vem aqui falar comigo?
A praça parece um portal, uma janela.
As pessoas, em silêncio, de mansinho,
fluem lentamente e passam por ela.
Não percebem o banco desocupado.
Não sentem nem a falta do velhinho,
que ficava ali sentado.
Alguma coisa muito estranha aconteceu.
Será que estou vivo? Quem morreu?
O homem do realejo tem um periquito
vermelho esmagado na mão.
Alguém me disse que ele era esquisito,
um homem sem Deus, sem coração.
O fotógrafo da praça de cabeça coberta
por um pano preto, insiste,
através da lente, em me olhar.
Nervoso calculou o tempo que nem existe
e disparou a foto. Na hora certa,
a luz do flash brilhou e se congelou no ar.
Estática e triste está a praça.
Para onde foi o casal de namorados?
Porque fico eu aqui parado,
vendo o tempo que goteja devagar?
Vendo tanta coisa sem graça.
E não vejo ninguém a se abraçar.
O semáforo da esquina
travou ou se desesperançou.
Não mais reflete por entre a neblina,
as cores da vida, do movimento.
Só vejo o vermelho, o cinza e o preto.
sendo cada cor, um eterno momento.
As pessoas não se cumprimentam.
Passam, silenciosas, umas através das outras,
e outras passam por dentro de mim.
Alguma coisa muito estranha aconteceu.
Amigo, a praça nunca antes foi assim.
J. Thamiel
11.11.16
09:12h
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 2370 reads
other contents of J. Thamiel
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | QUEM DEU SIGNIFICADOS ÀS PALAVRAS? | 0 | 1.598 | 08/19/2016 - 05:07 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | FÁTIMA | 0 | 1.907 | 08/18/2016 - 12:13 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | HUMILDADE | 0 | 2.080 | 08/17/2016 - 15:35 | Portuguese | |
Poesia/Comedy | A VIÚVA DO TENÓRIO | 0 | 5.961 | 08/17/2016 - 04:33 | Portuguese | |
Prosas/Others | A ERA DE CRISTO JÁ ERA? | 0 | 2.786 | 08/16/2016 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia/Love | AME A SUA FAMÍLIA | 0 | 4.009 | 08/16/2016 - 12:10 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | O POETA É UM FINGIDO | 1 | 2.167 | 08/16/2016 - 02:44 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | QUANDO DEUS COCHILA | 0 | 2.156 | 08/15/2016 - 13:30 | Portuguese | |
Poesia/General | SURGIMENTO DA POESIA | 0 | 3.342 | 08/13/2016 - 17:06 | Portuguese | |
Poesia/General | SOFRIMENTO DE UM DEUS | 0 | 2.751 | 08/13/2016 - 01:10 | Portuguese | |
Poesia/Joy | ANJOS DA LUZ | 0 | 9.396 | 08/12/2016 - 12:47 | Portuguese | |
Poesia/Love | O SOL E A LUA | 0 | 2.529 | 08/11/2016 - 12:39 | Portuguese | |
Poesia/General | AMOR SEM CIÚME | 0 | 3.718 | 08/10/2016 - 15:12 | Portuguese | |
Poesia/General | A LÍNGUA TORTA | 0 | 8.542 | 08/10/2016 - 12:14 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | O GRILO E O PIRILAMPO | 0 | 2.356 | 08/09/2016 - 12:53 | Portuguese | |
Poesia/General | INCONVENIÊNCIA | 0 | 2.539 | 08/08/2016 - 23:33 | Portuguese | |
Poesia/General | QUANDO O POETA FICA MUDO | 0 | 2.556 | 08/08/2016 - 11:56 | Portuguese | |
Poesia/General | OSSINHOS SOBRE A TOALHA | 0 | 2.187 | 08/06/2016 - 13:32 | Portuguese | |
Poesia/General | O FIM DA POESIA | 0 | 1.860 | 08/06/2016 - 12:41 | Portuguese | |
Poesia/General | PRA QUE MADRUGAR? | 0 | 3.250 | 08/05/2016 - 18:50 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | BUQUÊ SEM ROSA | 0 | 1.955 | 08/05/2016 - 13:14 | Portuguese | |
Poesia/General | O EGO DO POETA | 0 | 3.378 | 08/05/2016 - 12:38 | Portuguese | |
Poesia/General | "PINTO NO LIXO" | 0 | 3.904 | 08/04/2016 - 15:27 | Portuguese | |
Poesia/General | O ILUMINISMO | 0 | 2.418 | 08/04/2016 - 12:33 | Portuguese | |
Poesia/General | DESABAFO - (Os Illuminatis) | 2 | 3.158 | 08/04/2016 - 11:48 | Portuguese |
Add comment