Quando olho não me conheço…

Quando olho pra mim não me reconheço,
Nem neste angustiante peito de Filisteu
Externo, sem lugar entre dois céus tornados
Em chuva rija, tornando sempre cheia

Em rio aquilo que em mim acrescento,
Sensações que me embalam e eu deixo
Que aconteçam, sem que mova um dedo
Ou um caniço da margem do rio do “tanto-

-se-me-deu” – tampouco é o meu amor
Próprio de navio Almirante, logro, laico
Lasso, louco, que no mar assumi os olhos
E o sorriso como defeito, quando olho pra mim,

Assomo um existir que não aprovo, amaino
Estratagemas de um eu que não soube ser vida
E obra que desse vista a cegos e alma a hostes
De sentires diferentes destes outros, ocos,

Delirantes . A luz me lembrará em branco,
Distante o mar, arrefecido o horizonte, rarefeito
O ar, assim eu que me fabrico de agua e ágoras,
Me resigno ao olhar dos dedos de pele e veias,

Olhar o céu não me dá emoção, nem espero
Dele a gazua que me abra como se fosse acaso
Alguém do real mundo, que aliás desprezo,
Reprovo e abomino. Anseio pela harmonia

Que o universo dá a tudo e não pela unidade
De medida que deposito no coração caniço,
O qual olho e não conheço .

Jorge Santos (29/04/2015)

http://namastibetpoems.blogspot.com

Submited by

Friday, February 23, 2018 - 12:47

Ministério da Poesia :

No votes yet

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 20 hours 31 min ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 43158

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Água turva e limpa 28 219 12/11/2025 - 21:26 Portuguese
Poesia/General Escrever é pra mim outra coisa 26 322 12/11/2025 - 21:24 Portuguese
Ministério da Poesia/General Mãos que incendeiam sóis, 18 98 12/11/2025 - 21:23 Portuguese
Poesia/General A morte tempera-se a frio 18 123 12/11/2025 - 21:21 Portuguese
Poesia/General Atrai-me o medo 33 119 12/11/2025 - 21:21 Portuguese
Poesia/General Não sendo águas 23 104 12/11/2025 - 21:20 Portuguese
Ministério da Poesia/General Nunca fiz senão sonhar 27 280 12/11/2025 - 21:19 Portuguese
Ministério da Poesia/General O Ser Português 29 216 12/11/2025 - 21:18 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sou homem de pouca fé, 25 280 12/11/2025 - 21:18 Portuguese
Ministério da Poesia/General Às vezes vejo o passar do tempo, 19 67 12/11/2025 - 21:17 Portuguese
Ministério da Poesia/General Meia hora triste 19 53 12/11/2025 - 21:16 Portuguese
Ministério da Poesia/General Não fosse eu poesia, 24 132 12/11/2025 - 21:15 Portuguese
Ministério da Poesia/General No meu espírito chove sempre, 27 91 12/11/2025 - 21:13 Portuguese
Ministério da Poesia/General Salvo erro 19 62 12/11/2025 - 21:13 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sal Marinho, lágrimas de mar. 23 66 12/11/2025 - 21:11 Portuguese
Ministério da Poesia/General O sonho de Platão ou a justificação do mundo 20 74 12/11/2025 - 21:11 Portuguese
Ministério da Poesia/General Horror Vacui 34 416 12/11/2025 - 21:09 Portuguese
Ministério da Poesia/General Dramatis Personae 20 64 12/11/2025 - 21:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Adiado “sine die” 20 62 12/11/2025 - 21:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General “Umano, Troppo umano” 21 58 12/11/2025 - 21:07 Portuguese
Ministério da Poesia/General Durmo onde um rio corre 20 190 12/11/2025 - 21:06 Portuguese
Ministério da Poesia/General Deito-me ao comprido 33 188 12/11/2025 - 21:05 Portuguese
Ministério da Poesia/General Me dói tudo isso 16 66 12/11/2025 - 21:04 Portuguese
Ministério da Poesia/General “Ave atque vale” 31 77 12/11/2025 - 21:03 Portuguese
Ministério da Poesia/General Da interpretação ao sonho 23 129 12/11/2025 - 21:02 Portuguese