trecho de A ÚLTIMA MARGARIDA
Ao entrar no seu quarto, o celular tocou. Ao atender, viu que já tinha mais duas ligações não atendidas.
_ Giúlia, onde estava?
_ Oi meu anjo! Desculpe, estávamos em uma danceteria, o barulho não deve ter-me deixado ouvir o aparelho.
_ Em uma danceteria? Danceteria Giúlia? Foi isso que eu ouvi?
_ Sim Ricardo, por quê?
_ Por quê? Você me pergunta ainda?
Ele estava furioso. Dava voltas pelo jardim esbravejando, aos berros ele mostrava toda sua indignação.
_ Eu não acredito que você estava se divertindo, dançando com Kevin!
_ Qual o problema meu amor? O que tem isso? Por favor, não comece com suas crises, não tem o menor fundamento!
_ Não, não vou começar nada. Tudo normal, não é? Quer saber de uma coisa? Divirta-se!
Desligou o celular sem se despedir. Ela ficou olhando para o aparelho, com lágrimas já lhe escorrendo pela face. Sentia uma angústia que parecia nunca ter fim.
Ele entrou na sala praguejando, chutando os móveis, passou o braço pelo aparador jogando copos e bandejas ao chão. O barulho acordou Ivana, que desceu assustada.
_ O que houve Ricardo? Meu Deus, o que é isso?
_ Desculpe. Eu tropecei e esbarrei nos copos. Vou limpar esta bagunça, pode deixar me desculpe, te acordei.
Ivana passou as mãos pelos ombros do marido. Olhou em seus olhos e fez com que ele se sentasse.
_ Ricardo, por favor, fale comigo. Seja o que for me diz, você está sofrendo, deixe que eu te ajude.
Ele atirou-se nos braços da mulher e chorou feito uma criança. Ivana alisava sua cabeça, sentindo que o marido sofria por amor. Estava realmente tudo acabado. Ele, ali nos seus braços, frágil e desamparado, era a própria imagem de amargura. Perdera de vez o homem com quem vivera mais de trinta anos, ele amava outra mulher. Teve a certeza disso, como se as lágrimas dele tivessem lhe contado.
Ricardo caiu em si e se afastou. Buscou um cesto de lixo e começou a apanhar os cacos em silêncio. Ivana não disse mais nada. Ficou ali, esperando que ele terminasse, pegou-o pela mão e subiram.
Deitaram-se lado a lado, ele procurou subterfúgios.
_ Ivana, perdoe, ando assim, nervoso, não sei se é por causa da turnê, mas estou tenso.
_ Não se preocupe, está tudo bem.
Ela estendeu o braço e ele deitou-se neles. No fundo ele sabia. Ivana o conhecia muito bem, ela já conhecia a verdade.
Ficou aninhado no conforto e calor humano daqueles braços, que outrora, apertavam-se amando, agora, eram braços amigos, como de irmãos.
Pensou no que tinha feito. Já mais calmo, analisou a situação. Mais uma vez, entre tantas, magoara Giúlia, e como se não bastasse, magoara Ivana também. Era mesmo um tolo! Perdido em seus pensamentos, adormeceu.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1777 reads
Add comment
other contents of Gisa
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | POETANDO | 3 | 724 | 10/07/2009 - 15:24 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | REVOLTA | 2 | 1.227 | 10/07/2009 - 00:16 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | SE... | 2 | 887 | 10/06/2009 - 05:03 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Ainda há tempo? | 1 | 1.878 | 10/06/2009 - 03:54 | Portuguese | |
Poesia/Love | Reencontro com o amor | 2 | 1.215 | 10/04/2009 - 20:14 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Trecho de meu livro A ÚLTIMA MARGARIDA | 2 | 1.134 | 10/04/2009 - 09:50 | Portuguese | |
Poesia/General | exigencias | 4 | 1.536 | 10/03/2009 - 21:46 | Portuguese | |
Poesia/General | Trecho de um conto de minha autoria: ERRO FATAL | 2 | 1.737 | 10/03/2009 - 21:33 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Onde está? | 4 | 1.152 | 10/02/2009 - 19:18 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | EXAUSTA | 2 | 1.591 | 10/02/2009 - 15:08 | Portuguese | |
Poesia/Love | DEMASIA | 2 | 1.597 | 10/02/2009 - 15:04 | Portuguese | |
Poesia/Passion | A ROSA AMARELA | 4 | 2.155 | 10/01/2009 - 12:04 | Portuguese | |
Poesia/General | NEM SEMPRE | 2 | 1.096 | 10/01/2009 - 05:18 | Portuguese | |
Poesia/Love | SOLUÇÃO | 2 | 1.501 | 10/01/2009 - 05:06 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | EU SONHEI | 5 | 1.244 | 09/30/2009 - 20:20 | Portuguese | |
Poesia/General | Trecho de meu livro: POEIRA E PAIXÃO | 3 | 1.618 | 09/30/2009 - 14:34 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | AMANTES | 4 | 1.624 | 09/30/2009 - 14:29 | Portuguese | |
Poesia/Love | Um trecho do meu livro A ÚLTIMA MARGARIDA | 4 | 1.958 | 09/29/2009 - 18:24 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | DOANDO-ME | 4 | 1.584 | 09/29/2009 - 17:02 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | CONVÍVIO | 2 | 1.685 | 09/29/2009 - 17:00 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Permissão | 4 | 1.219 | 09/27/2009 - 22:39 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | A caixinha mágica | 2 | 3.157 | 09/27/2009 - 17:56 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | O retirante | 1 | 2.113 | 09/27/2009 - 05:29 | Portuguese | |
Poesia/Love | Doente | 3 | 1.423 | 09/26/2009 - 22:30 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Quem é? | 2 | 1.354 | 09/26/2009 - 22:28 | Portuguese |
Comments
Re: trecho de A ÚLTIMA MARGARIDA
BELO TEXTO COMO SEMPRE, MEUS PARABÉNS!
MarneDulinski
Re: trecho de A ÚLTIMA MARGARIDA
Que belo texto, Gisa.
Sinto-me emocionada, verdadeiramente.
Gostei, muitíssimo.
:-)
Re: trecho de A ÚLTIMA MARGARIDA
Lindo texto.
Parabéns,
um abraço,
REF