O campo dos olhos verdes

Bem, eu costumava olhar para as coisas
De forma da qual elas não eram.
Ela tinha um par de esmeraldas nos olhos,
Ela usava um vestido colado em seu corpo calado,
Ela era um intenso brilho,
Ela era doce e dura,
Mas eu nunca deixei de tê-la.

É, e nós quebramos o controle da TV,
E o telefone ficou mudo,
E o rádio perdeu a sintonia,
Nada era igual.

Choveu na tarde
E milhares de diamantes quicavam no asfalto,
Corremos como loucas crianças para pegá-los,
Mas desapareciam em poucos segundos.

Ela tinha uma beleza crepuscular,
Ela sempre se escondia das pessoas,
Agora ela não é, não faz e nem está,
Ela ainda mora naquele mesmo vale da saudade.
Só eu a tive, só eu a tenho.
É, seu sorriso era meu.

Há muito, muito tempo
Éramos incapazes de existir,
Até que uma agulha caiu de ponta no chão
E eu sangrei feio,
E você chorou triste.
Em quatro anos aprendemos a brigar
E a falar o que não precisávamos falar
E a ver o que não precisávamos ver.
Agora eu acordo sem estar ao seu lado
E ela não acorda,
Nunca acorda.

É, e nós destruímos a porta.

Bem, eu não estou sofrendo,
Eu estou irresoluto,
E estou chapado.
Caminho toda manhã,
Vem o nascer do sol,
As ruas,
As pessoas,
As vozes,
Mas não vejo nada,
Não escuto nada,
Não respondo nada.
Sempre durmo no ônibus
E nunca sei a que horas chego,
E sempre perco as paisagens.

Nunca tivemos um bebê,
E nunca seguramos um,
E nunca vimos um.

Sua mãe chora pela saudade
Lágrimas de distância,
Seu pai dorme
E sempre acorda no jardim,
Já que o inverno de idade veio frio
Nevando em seus cabelos.
A irmã deixa saudades,
Já que está ausente desta vida.

A amiga a influencia
E ela, mesmo triste não se influencia.
É, ela recorda as primeiras palavras,
Os sonhos,
Os desalentos,
Do Doors no carro,
De Jim Morrison em minhas poesias,
Das viagens.

Nossa! E ela adorava beijar como criança.

Novamente
Nadamos neste Rio Grande
Até acordarmos na terra em que ela nasceu,
E tudo parece normal,
E tudo vai bem.

Só que eu, eu ainda continuo cego,
Só que você, você ainda continua sonhando,
Só que nós, nós somos cegos sonhadores.

Submited by

Wednesday, February 3, 2010 - 18:00

Poesia :

No votes yet

Alcantra

Alcantra's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 19 weeks ago
Joined: 04/14/2009
Posts:
Points: 1563

Comments

cecilia's picture

Re: O campo dos olhos verdes

Belíssima descrição da vida que vivemos sem senti-la, apenas passamos sem dar valor aos detalhes, esquecemos de prestar atenção ao nosso redor achando que a vida esta a nos servir quando na verdade servimos para vive-la.
O tempo passa e nos leva momentos preciosos que espalhados ficaram pelo caminho restando apenas perolas de saudades do que já existiu e hoje toma-nos em recordações.

Abraço.

Henrique's picture

Re: O campo dos olhos verdes

Bem, eu costumava olhar para as coisas
De forma da qual elas não eram.

Isto é ser poeta!!!

Todo o poema imerge em boa leitura, e continuaremos cegos...

:-)

ÔNIX's picture

Re: O campo dos olhos verdes

Um título que me seduziu; pela cor, pelo seu significado, pela sonante força de um mundo que entra de rompante pelos meus olhos.

Assim li este poema intenso de sentimentos e verdades que nos assistem, e nos tolhem, e nos fazem avançar, e nos fazem recuar.

Simplesmente fantástico

Beijinho para si

Matilde D'Ônix

Anita's picture

Re: O campo dos olhos verdes

Belíssimas questões de vida colocadas em toques suaves de ternura. A vida na forma crua do dia-a-dia e os contornos sentimentais que se pode criar... tu os criastes. Não precisa ser meloso, para ser romântico, não é necessário ser um pouco falso... para parecer verdadeiro. Fluis-te em letras sentidas, criadas, nascidas e vividas... e no final, ainda soube sonhar... ÉS FAVORITO EM TUA DISCREPÂNCIA!

Abraços, Anita.

Add comment

Login to post comments

other contents of Alcantra

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Ponteiros abraçados 3 1.209 10/25/2011 - 10:48 Portuguese
Poesia/General Parabolé 1 1.645 10/21/2011 - 14:51 Portuguese
Poesia/General Afresco sepulcro 1 1.642 10/19/2011 - 12:41 Portuguese
Poesia/General A moça da casa 70 2 1.533 10/17/2011 - 22:33 Portuguese
Poesia/General Dysángelo 1 1.154 10/10/2011 - 15:54 Portuguese
Poesia/General Split cabelo de chocolate 0 1.970 09/02/2011 - 03:44 Portuguese
Poesia/General Olhos Frenéticos 0 1.320 08/26/2011 - 00:48 Portuguese
Poesia/General O murmúrio dos ventos 0 1.443 08/21/2011 - 17:59 Portuguese
Poesia/Love Cume dia dor de mim 0 2.013 08/03/2011 - 23:41 Portuguese
Poesia/Disillusion O que é... O que já não é 3 1.398 07/14/2011 - 01:10 Portuguese
Poesia/Love Um destroçado sorriso 1 1.506 07/10/2011 - 04:02 Portuguese
Poesia/General Laços da língua 0 1.256 07/09/2011 - 19:14 Portuguese
Poesia/Love O manto e o inverno 0 1.569 06/19/2011 - 21:59 Portuguese
Poesia/General A Prata do Mendigo 0 1.667 05/18/2011 - 16:21 Portuguese
Fotos/Landscape Contraste 0 2.031 05/15/2011 - 16:38 Portuguese
Fotos/Faces Alcantra 0 3.534 05/15/2011 - 15:52 Portuguese
Poesia/Love Carta 2 1.486 05/10/2011 - 02:10 Portuguese
Poesia/General Lua do Sul 0 1.841 04/20/2011 - 16:08 Portuguese
Prosas/Mistério Arranhão do gozo 0 1.660 04/19/2011 - 16:30 Portuguese
Poesia/General Depois 2 1.951 04/16/2011 - 16:39 Portuguese
Poesia/Fantasy A cama e o sexo 1 1.977 04/13/2011 - 01:00 Portuguese
Poesia/Sadness O veneno da flor 0 1.781 04/11/2011 - 16:25 Portuguese
Fotos/Profile Alcantra 0 2.398 04/11/2011 - 00:46 Portuguese
Poesia/General Estar sem estar 1 1.608 04/06/2011 - 19:06 Portuguese
Poesia/General As trincas 1 1.205 03/26/2011 - 01:11 Portuguese