Guerra e uma pequena flor
Para quem gostou do meu primeiro poema sobre a guerra aqui fica o segundo e último da saga
Explosões de um trémulo dourado
abrem fendas de luz sépia na beleza do mundo.
O deserto é uma âncora gretada
nas margens de um rio radioactivo pintado de bege.
.
Ouvem-se os gritos de loucura rosa choque
e dançam nos céus estilhaços de células de bronze;
corropios de silêncios talhados a quente
numa bandeja prateada aquecida por umas mãos
para onde escorrem lagartas de ferro fundido
no precipício da detonação íntrínseca.
.
A carabina volátil despeja balas nos meus olhos,
esmeraldas que o passado fez com que doesse mais,
no sôfrego alimento onde já viviamos sepadados.
.
O horizonte é cobre medonho a cada passo que dou.
Já não há arranha-céus de verde vivo
oxigenando os pulmões dos transeuntes.
.
O sol queima a alma frágil
e a sede é um mar fúchsia na cavilha de uma granada
marcando o destino da terra enterrada no abismo.
.
O vazio é de um tom salmão sem coração,
arame farpado que me veste de grená nas noites frias
onde o tic-tac dos relógios é um negócio de lavagem de sonhos.
.
A guerra passou no primeiro desafio imposto ao olhar.
O mundo índigo abriu-se em mil imagens de fantasia
e eu fui testemunha da tortura rumo à desolação total.
.
Mas do corpo carmim, seco até aos ossos descalssificados
resistiu ainda uma lágrima que caiu:
forte como a determinação, imensa como o mar,
infinita como o universo.
.
Nasceu uma flor com um perfume fresco de sabor a maresia,
porque sempre balançou dentro do meu peito
a seiva bruta de conquistar a tranquilidade.
.
No ritmo das pétalas
só o vento cúmplice as arrancará
sem ciúme nem crueldade,
para uma viagem à paixão pela vida...
numa busca infindável:
Desabrochada em flor.
rainbowsky
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1349 reads
Add comment
other contents of rainbowsky
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | Do olhar perene a teia física | 1 | 2.492 | 04/24/2011 - 22:03 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | O fermento do engano | 2 | 1.695 | 04/21/2011 - 02:52 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Caí | 3 | 2.142 | 04/13/2011 - 16:11 | Portuguese | |
Poesia/General | DUETO - Tanto me fazia que fumasses um cigarro | 1 | 1.419 | 04/09/2011 - 00:00 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | O tempo e o tom | 1 | 1.128 | 04/07/2011 - 18:08 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Ficcionem-me | 1 | 2.674 | 04/07/2011 - 02:10 | Portuguese | |
|
Fotos/Nature | Pôr-do-sol | 3 | 2.037 | 04/05/2011 - 02:51 | Portuguese |
Poesia/Thoughts | Labiríntica sensibilidade | 4 | 2.049 | 04/05/2011 - 02:46 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | PaisAGEM | 0 | 1.018 | 03/30/2011 - 01:29 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Only you | 1 | 1.676 | 03/23/2011 - 23:10 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Joy | Ser poema | 3 | 2.764 | 03/11/2011 - 16:01 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Borboleta | 2 | 1.764 | 03/01/2011 - 15:44 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | As cidades respiram | 2 | 1.847 | 02/27/2011 - 02:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A vida que há em noz - poema e fotografia | 2 | 1.542 | 02/27/2011 - 02:27 | Portuguese | |
|
Fotos/Others | A vida que há em noz - fotografia e poema | 0 | 2.341 | 02/25/2011 - 22:20 | Portuguese |
Poesia/Comedy | Patético I | 1 | 1.575 | 02/22/2011 - 06:16 | Portuguese | |
Poesia/Comedy | Patético III | 1 | 1.368 | 02/21/2011 - 02:44 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | E ali, julgo ser eu | 1 | 1.732 | 02/19/2011 - 09:22 | Portuguese | |
Poesia/Comedy | Patético VIII | 1 | 1.284 | 02/19/2011 - 01:34 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Aceitas? | 2 | 1.492 | 02/18/2011 - 06:55 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | O teu olhar | 1 | 1.664 | 02/15/2011 - 16:15 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | EXTENSO POEMA SOBRE O AMOR | 7 | 2.210 | 02/14/2011 - 22:53 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Dissoluções | 0 | 1.232 | 02/12/2011 - 13:21 | Portuguese | |
|
Fotos/Others | Tenuidade plácida | 0 | 3.491 | 02/09/2011 - 13:00 | Portuguese |
Poesia/Sadness | Gestos | 0 | 1.404 | 02/09/2011 - 01:42 | Portuguese |
Comments
Re: Guerra e uma pequena flor
A tua descrição é impressionante.
A guerra é um fenomeno social que me arrepia.
Prefiro a paz "deesabrochada em flor".
:-)