mais do que chuva

tens de experimentar fazer algo maravilhoso: parar o tempo, o teu tempo. sentas-te na relva e bebes um pouco de ar, umas gotas bastam. o céu encarrega-se de te embriagar o corpo de paz de espírito e acabas por sentir as tuas mãos voarem com o vento que te toca na pele das pálpebras, como quem dança, e é das mais livres sensações que podes haurir em toda a tua vida. por escassos momentos, é o mundo que faz parte de ti, e não o contrário. é como quando estás prestes a adormecer e sabes exactamente que esse instante está a chegar, e o conforto que tens na alma sobrepuja qualquer verso transformado em sentimento do que é belo e puro; pois, não conseguirás evitar bajular o fim de tarde escarlate que se abate nos vales que vês ao longe, do sítio onde estás sentado. a magia é incerta, digna de menções de poeta e inclinação do coração, e as tuas mãos ainda voam, saboreando esses últimos raios vaidosos de um sol que se vai, mas volta cedo. o teu peito escuta cada som da natureza, sorvendo-os devagar, para mais tarde deixá-los fugir com um beijo dado bem de perto.