Memórias no Hospital I

Trabalhava na instituição há já 5 anos e, num fim de semana, de visita à terra, uma pessoa amiga pediu-me para acompanhar a tia que estava internada no hospital.
A memória já me falha e o seu nome não me recordo. Recordo-me apenas das emoções que vivi e da experiência, de partilhar na dor, a presença do amor.
Não conhecia a senhora, pelo que a primeira vez que a visitei perguntei-lhe se não se importava que a continuasse a visitar (a mesma só consentiu visitas do marido, das filhas e dos genros).
Foram semanas de sofrimento, de angústia e incapacidade, que desgastaram a família. Aquele marido, isolado nos seus sentimentos, não concebia a ideia da perda. Mas, nada aparentava o final, pois sempre se mostrou sereno.
Criámos laços e a amizade instalou-se. Nunca mo disse, mas soube-o depois, que ela me chamava de seu anjo.
Morreu na sua paz, e o marido não aguentou a dor. Tirou a sua vida uma semana depois…
Satisfaz-me pensar que estão os dois juntos…