O Mundo Para Lá dos Espelhos

...Ficaste parado, como por encanto enquanto eu passava por ti. Nada disseste e eu nada fiz para te tirar dessa espécie de letargia em que te encontras.
Sabes como passo as noites?
Lembrando e reconstituindo cenas, descodificando os teus sinais. Passearam-se pelo véu que me cobria o corpo, sentia-o leve, muito leve e a maciez bailava no meu corpo que se encontrava lado-a-lado com as estrelas esvaídas a nossos pés. Lembro-me bem do teu sorriso, sempre que me aconchegava num manto dourado que me conduzia sempre para o mundo para lá dos espelhos. Reflexos de um mundo onde coabitava a dor entre os escombros. Há um perigo eminente em cada esquina dobrada, em cada mácula disfarçada, em cada momento calado, em cada corpo mal amado e em cada rosto mal tratado. Já nem o nada me aceita nestes submundos onde habita a minha alma disfarçada, mas há nesta cidade, um caminho íngreme que se põe sempre a descoberto. È só aprender a escalar montanhas, e a facilidade com que o dobramos é aos olhos de mundo pintura abstracta, em rostos sem nome.

Tento que a minha sede seja saciada, quando te encontrar nesses recantos onde dormes há já tantos anos passados. Não me lembro de nada que me faça voltar a temer por gestos inconsequentes, quando ainda era só centelha vazia no fundo da tua alma. Foi ela que me lembrou, que saí deste ventre imaculado. Sabes que há certezas que nos alimentam esta vontade de ir ao fundo, e estes submundos acorrentados já me acolheram em tantos voos, que mesmo sem vontade, deambulo sem destino. A luz que me alumiava o caminho está frouxa e eu não sei como abrir as portas à luz que amortece no meu olhar. Se quisesses seríamos a lucidez e paralelamente alguma certeza de cairmos nos braços de uma noite só nossa. Crescem-me nas mãos as flores que pisaste, quando interrompeste o nosso destino e há caminhos soltos na aridez das fragas soltas que se cobrem de gotículas roxas que carregas nesse fardo leve.

Há nesta cidade uma cegueira enfileirada lá para os lados da nascente. Eu, aqui me encontro ensaiando as dores do desejo que por ti escorre. Jaz no meu corpo. Quase sempre saio á rua para sentir esta combustão que arrasto nas pupilas dos meus olhos...

(A Voz do Silêncio)

Submited by

Tuesday, November 3, 2009 - 13:44

Prosas :

No votes yet

ÔNIX

ÔNIX's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 13 years 48 weeks ago
Joined: 03/26/2008
Posts:
Points: 3989

Comments

Angelo's picture

Re: O Mundo Para Lá dos Espelhos

É bom ler o que é belo, este texto é sem dúvida nenhuma prova disso mesmo, continue, pois adorei muito.

Um BJ

ÔNIX's picture

Re: O Mundo Para Lá dos EspelhosP/Angelo

Angelo, gata pela sua visita

gostei muito

Bjs

RobertoEstevesdaFonseca's picture

Re: O Mundo Para Lá dos Espelhos

Amiga Matilde.

Teus trabalhos são sempre lindos, poemas ou prosas.

E este também é ótimo.

Adorei.

Parabéns,
REF

ÔNIX's picture

Re: O Mundo Para Lá dos EspelhosP/REF

Adorei que tivesse lido REF
Um abraço carinhoso

Anonymous's picture

Re: O Mundo Para Lá dos Espelhos

A tua prosa é sempre envolvente
bela.
Deixa-nos sempre amarrados à envolvência
poética das palavras que falam do teu sentir.
Muito, muito belo.
Beijo
Vóny Ferreira

ÔNIX's picture

Re: O Mundo Para Lá dos EspelhosP/VonyFerreira

Obrigada Vony pela atenção e carinho que depositas nas minhas palavras

Bjs

poesiadeneno's picture

Re: O Mundo Para Lá dos Espelhos

ÔNIX,

Apreciei o teu mundo de espelhos.
Grato pela partilha.

Bj

ÔNIX's picture

Re: O Mundo Para Lá dos EspelhosP/Poesiadeneno

Poesiadeneno

Obrigada pela visita. Espero que te sintas confortável aqui neste espaço

bjs

Mefistus's picture

Re: O Mundo Para Lá dos Espelhos

ÔNIX;
Que bom que é te ler. Que ideia genial, esse Mundo de espelhos.
Que divinal o excerto..."Crescem-me nas mãos as flores que pisaste, quando interrompeste o nosso destino "...

Muito bom!!!

ÔNIX's picture

Re: O Mundo Para Lá dos EspelhosP/Mefistus

Mefistis,

És um querido...muito obrigada por tudo

Bjs

Add comment

Login to post comments

other contents of ÔNIX

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Prosas/Contos Nus de Espanto Numa Triste Avenida 10 1.491 02/22/2010 - 13:29 Portuguese
Poesia/Dedicated Tu Mulher 9 1.180 02/16/2010 - 21:30 Portuguese
Poesia/Meditation Ciclos de Vida e Morte 11 1.356 02/16/2010 - 21:23 Portuguese
Prosas/Romance Um Nada Dentro de Tudo O Que Existe no Céu 4 1.393 02/16/2010 - 21:14 Portuguese
Poesia/Love Tentas-me (Dueto Matilde D'Ônix e Octávio da Cunha) 14 1.543 02/15/2010 - 13:50 Portuguese
Fotos/Nature Minha Filha 1 1.968 02/14/2010 - 18:41 Portuguese
Fotos/Faces Eu 1 1.786 02/14/2010 - 18:31 Portuguese
Poesia/Sadness Cansaço 10 1.543 02/12/2010 - 09:17 Portuguese
Poesia/Love Saudades de Amor 12 1.472 02/12/2010 - 09:14 Portuguese
Poesia/Sadness Há Cansaços Assim 9 1.599 02/11/2010 - 20:19 Portuguese
Poesia/Sadness Puro Mel 11 1.513 02/11/2010 - 20:15 Portuguese
Prosas/Others Náufragos 3 1.439 02/09/2010 - 22:12 Portuguese
Fotos/Bodies Muros de Silêncio 1 2.127 02/08/2010 - 15:20 Portuguese
Fotos/Bodies Pérolas 2 1.759 02/08/2010 - 15:15 Portuguese
Prosas/Contos Uma Questão de Fé 12 1.760 02/08/2010 - 10:43 Portuguese
Prosas/Others Sedução das Águas 6 1.792 02/08/2010 - 10:42 Portuguese
Poesia/Meditation Penso, Crio, Existo 10 1.293 02/06/2010 - 22:37 Portuguese
Poesia/Meditation Ultimatum 10 1.306 02/06/2010 - 22:33 Portuguese
Fotos/Nature Lusco-Fusco em Castro Daire 1 2.295 02/06/2010 - 14:52 Portuguese
Poesia/Meditation Seremos Iguais a Ti (Desafio Poético) 8 1.351 02/05/2010 - 10:05 Portuguese
Poesia/Meditation Olhares Cativos 7 1.015 02/05/2010 - 09:49 Portuguese
Poesia/Meditation Cativeiros 10 2.191 02/05/2010 - 09:41 Portuguese
Poesia/Dedicated Ulysses, encontro-me no tempo da saudade 10 1.364 01/29/2010 - 09:30 Portuguese
Prosas/Tristeza No Meio do Nada 10 1.899 01/28/2010 - 12:51 Portuguese
Poesia/Fantasy Avatar 8 1.508 01/28/2010 - 12:42 Portuguese