SUSTO

Era primavera.
O sol raiava e o calor era grande. Acordara com o som das maritacas na árvore em frente. Abri a janela e parei para admirar o dia. Eu queria mesmo que o sol batesse direto em mim e dissolvesse aquele sentimento que me oprimia. Eu queria sair dele.
Às vezes, você me vinha à cabeça, mas eu afastava imediatamente: o tempo seria dado, mesmo que fosse o tempo do resto de nossas vidas. O movimento que eu tinha que fazer já havia feito, agora só restava fechar as portas e partir em frente.
Quando chegava a sua lembrança, vinha tão carregada de tristeza, indignação, susto! Um grande susto! O seu discurso se repetia e eu era um estorvo em sua vida. NÃO SERIA MAIS!
Pensava que, diferentemente do que eu conhecia, você era capaz de me deixar só naquele momento, talvez o mais difícil dos últimos tempos...Eu não era perspicaz, você me sinalizava há dois anos e eu não via...era absolutamente infantil e iludida. Suportei, só, tudo aquilo. Conjecturei sobre tantas coisas: morreria? Tudo se acabaria naquele momento? O que viria pela frente? O que me reservava a vida?
Contei com outras pessoas por perto, mas uma tristeza me acompanhava: Como você tinha sido capaz? Onde você escondia este lado tão frio?
Minha capacidade de sentir a sua falta estava totalmente abalada, não conseguia sentir nem uma ponta de saudade.
Saí da janela, tomei um café e resolvi dar uma caminhada. Daria uma volta à beira-mar, respiraria aquele ar marítimo, pensaria no infinito...fitaria o horizonte, sentaria na areia e olharia o mar. Perguntaria à Sereia:

- Como conseguiu se afastar exatamente neste momento?
- Senhora, por favor, me responde, como?????

Lila Marques.