A República das Mal Amadas

A REPÚBLICA DAS MAL AMADAS
Jorge Linhaça

Era uma vez...
Em uma certa cidade, de um certo estado, de um certo país...
Um grupo de mulheres independentes financeiramente, que se reuniram para formar uma irmandade.
A princípio tudo corria às mil maravilhas, até mesmo homens eram bem vindos ao seu grupo, desde que ficasse ali quietinhos, no papel de meros observadores, sem se meter muito nas decisões do mulherio.
Com o tempo, no entanto, as coisas foram se modificando...cada homem ou mulher, que por algum motivo fosse visto como uma ameça, por alguma das fundadoras, era imediatamente vítima da língua ferina e da intriga de bastidores.
O interessante de se notar é que , embora nas aparências e nos discursos, casais fossem bem vindos, bastava começar qualquer das reuniões para que os mesmos fossem separados entre si...sempre havia algo a ser tratado especificamente com a mulher do casal.
E isso não ocorria só nas reuniões formais não, acontecia também por telefonemas e em visitas informais.
Talvez pelo fato da maioria não ter a quem amar, ou as poucas que o tinham, gostarem de alardear que o melhor de um relacionamento era cada um na sua casa, fizesse com que se sentissem de certa forma desconfortáveis com um casal que estivesse sempre junto.
Claro que o discurso oficial sempre era..."que lindo o amor de vocês..." mas ao mesmo tempo ocorria o que já relatei...
Verdade que algumas vezes até faziam o papel de conciliadoras nos relacionamentos...procurando por panos quentes....mas bastava uma reunião por menor que fosse, para dividir a casal cada um para o seu lado...
O tempo foi passando e as pessoas se afastando, outras foram na verdade chegando, mas sem chegar muito perto de fato...e a cada homem com opinião própria que se achegava, lá vinha a língua ferina, após a reuniões, fazer o seu nefasto papel.
Claro que o discurso da independência financeira é contagiante, que o discurso de "não preciso de ninguém emocionalmente", apesar de mentiroso, é capaz de seduzir um ou outro...e claro que, a união de forças, com dinheiro na bolsa dá uma sensação de poder pra lá de interessante.
É claro que a algumas só interessava ter no grupo, quem pudesse ratear as despesas que se criavam.
Claro que o discurso da independência financeira é contagiante, que o discurso de "não preciso de ninguém emocionalmente", apesar de mentiroso, é capaz de seduzir um ou outro...e claro que, a união de forças, com dinheiro na bolsa dá uma sensação de poder pra lá de interessante.
É claro que a algumas só interessava ter no grupo, quem pudesse ratear as despesas que se criavam.
O clube das recalcadas presseguiu seu caminho, um "alegre" grupo de viajantes senhoras, crente de que faziam sucesso por onde passavam, mas cuja língua não poupava ninguém.
Faziam-se de pregadoras da paz, da lealdade, e da amizade,
mas não faziam senão buscar aos próprios interesses e posar de vítimas indefesas de circunstâncias.
Sentiam-se traídas pelos que não compactuavam com com seus métodos de alcançar visibilidade a todo custo.
Mas, como, nem tudo o dinheiro é capaz de comprar, principalmente a paz de espírito, aos poucos os olhos foram se abrindo, as máscaras se diluindo, e cobra foi querendo comer cobra, afinal, sempre alguém tem que aparecer mais do que outros.
O grupo foi se dissolvendo aos poucos e hoje percebe-se que afinal, não passam de mulheres mal amadas e com medo do amor, buscando substituir suas carências emocionais com homenagens feitas entre si mesmas.
E lá vai a caravana das mal amadas....singrando o deserto de suas próprias almas, afastando o amor e buscando o aplauso ilusório do mundo...

* Este texto é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais será apenas mera carapuça vestida.
 

Submited by

Saturday, May 21, 2011 - 18:05

Prosas :

No votes yet

Jorge Linhaca

Jorge Linhaca's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 5 weeks ago
Joined: 05/15/2011
Posts:
Points: 1891

Add comment

Login to post comments

other contents of Jorge Linhaca

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Disillusion Quem me dera 0 1.040 05/30/2011 - 13:00 Portuguese
Poesia/Intervention Quem Diria 0 1.452 05/30/2011 - 12:58 Portuguese
Poesia/Sonnet Presságios 0 1.427 05/30/2011 - 12:54 Portuguese
Poesia/Sonnet Piratas 0 1.965 05/30/2011 - 12:50 Portuguese
Poesia/Meditation Perigosa Infância 0 1.500 05/30/2011 - 12:47 Portuguese
Poesia/Meditation Preocupação 0 1.584 05/30/2011 - 12:46 Portuguese
Poesia/Love Pater Nostro 0 1.587 05/30/2011 - 12:44 Portuguese
Poesia/Intervention O Palácio da Injustiça 0 1.571 05/30/2011 - 12:42 Portuguese
Poesia/Meditation Os Poemas que Não Escrevi 0 1.326 05/30/2011 - 12:41 Portuguese
Poesia/Meditation Os Filhos do ódio 0 1.494 05/30/2011 - 12:39 Portuguese
Poesia/Meditation Os Filhos do Abandono 0 1.589 05/30/2011 - 12:38 Portuguese
Poesia/Meditation O Último Guerreiro 0 1.136 05/30/2011 - 12:36 Portuguese
Poesia/Intervention O Show deve Continuar 0 1.659 05/30/2011 - 12:35 Portuguese
Poesia/General O nome do poema 0 1.559 05/30/2011 - 12:33 Portuguese
Poesia/Meditation O elogio da fome 0 970 05/30/2011 - 12:30 Portuguese
Poesia/Disillusion O Crime nosso de cada dia 0 2.243 05/30/2011 - 12:28 Portuguese
Poesia/General Nosso Parquinho 0 1.363 05/30/2011 - 12:26 Portuguese
Poesia/Meditation Natureza 0 1.494 05/30/2011 - 12:19 Portuguese
Poesia/Disillusion Ontem eu Morri 0 1.650 05/30/2011 - 12:18 Portuguese
Poesia/Disillusion Morta Viva Severina 0 1.523 05/30/2011 - 12:15 Portuguese
Poesia/Joy Maria Manguaça 0 1.161 05/30/2011 - 12:14 Portuguese
Poesia/Meditation O CANTO DO LOBO 0 1.977 05/30/2011 - 12:13 Portuguese
Poesia/Dedicated Lavras da Solidão 0 1.163 05/30/2011 - 11:55 Portuguese
Poesia/Meditation Integração 0 1.570 05/30/2011 - 11:53 Portuguese
Poesia/Disillusion Infância Prisioneira 0 1.311 05/30/2011 - 11:52 Portuguese