O elogio da fome

O Elogio da Fome
Jorge Linhaça

São vidas secas ou enlameadas
nas ruas, maguezais ou no sertão,
São mortos vivos, são almas penadas
panelas vazias, em busca do pão.

São faces tristes da gente aviltada
crianças cegas pela inanição
São classes cegas de gente abastada
matando à fome seu próprio irmão.

As lautas sobras das mesas tão fartas
lixo lançado aos ratos humanos
Sobras da vida, que a gente aparta

Olhos fechados no torpe engano
O que não vemos também não maltrata
Fingindo não ver, a dor ocultamos.

*****
O Elogio da fome II
Jorge Linhaça

Segue o barco entre as palafitas
colhendo n'água a esmola cedida
pífia esperança das almas aflitas
mãos que agarram um resto de vida.

Entre os urubús, moscas e os ratos,
gente disputa o lixo "servido"
comido à mão, sem garfos nem pratos,
falso banquete do irmão excluído.

A fome campeia nos braços da morte
São gêmeas irmãs, filhas do descaso,
ceifando almas na roda da sorte

Não há poesia, adeus ao parnaso,
Só há a dor, lancinante, bem forte,
crianças mortas em sepulcros rasos.

*****