VERBO DE QUEM SOLETRA A MARÉ CHEIA

Expedito,
suscito ao corpo o correntio
que me chama ao calvário da alma.

Óbolo escoriado de frio.

Peixe num aquário sem alimento
tal o meu corpo na água do tempo sem pão.

Sem margem onde roçar a mão do sorriso.

Essa côdea de paixão outrora éden.

Pele que foi sol,
agora migalha de um Verão por encontrar.

Carne que foi barro cru,
agora um jarro de arrastos em caracol.

Face em espiral
de quem procura mais um lugar
para sepultar os ossos de outros lugares.

Verbo de quem soletra a maré cheia.

Remo interior de quem
da lua cheia faz a sua casca de noz
para navegar em farol pela borrasca da vida.

Maré perdida num ataúde de sóis.

Vezes contadas por entre os canaviais
que albergam as pedras usurpadas ao rio do ser.

Acontecer em ruga,
tal uva pisada num lagar de sabores e saberes.

Ires que em flor foram atirados
em murcha trova aos relâmpagos da idade.

Viver é ir e voltar…