POEMA FEITO DE FEITIOS

Pensamento descompensado,
momento que a mão escreve em desamor.

Maldizer em muro,
matraquear mirabolante
no aceno de uma mão cheia de nada.

Desabafo em espera, em carência.

O sal da vida sugado até eternidades desidratadas.

Estranha visão,
o serão como eirado desse suspiro pálido.

Como floresta dentro de mim, o poema.

Espanto desencadeado,
o uivo sem asa no olhar cai.
Sai numa conversa submersa em pranto.

Forma em branco onde morrem os pássaros,
zero onde as medidas do firmamento são cinzas.

Feito de feitios,
o barro fresco como pilar do caminho,
ponte em pântano como último andar.

Chão sem piso,
o prado como vestido do passo,
desencontrado do laço que une o céu ao mar.

Como bandeira de ninguém, sem terra.

O imaginário guerreado no verbo do vento.

A teimosia como Outono
esquecido no palmo demasiado,
arrazoado rendilhar de conchas
onde se fecha a horta do ser coisa.

Coisa nenhuma como ser.

Arredor alterado sem contorno,
repovoado como forno sem velocidade, sem clima.

Mergulhado linguajar morno em respigo, visceral.