NO RIO DA MEIA-NOITE


Grito como vento depenado
na esquina insone de uma pedra
que o tempo apagou do dedo calejado do calendário.

Entra o alho do choro dos olhos
pelas casas adentro do estar do pensamento,
desaguado nos covis do amor que ficou nas flores
aos pés de uma estátua cinzelada no mamilo de um não.

Ira esquiva que o ninguém da sombra
ousa roncar a palavra em olhos de noite
em silêncio de unhas pintadas na polpa do sol-pôr.

Línguas como tentáculos de polvo
numa panela desparasitada de tempestades
na boca que sofre as cáries da dentada da ânsia.

Quietudes de um livro de picaretas
qual morto em dieta masturbe o deserto
da saudade nas mangas arregaçadas da cova.

Unta-se a lua bocejada no rio da meia-noite.
uivada pelas rugas da solidão que rema o barco
do infinito qual meninice moa as folhas dos lábios.

De árvore vai mascarado o eco
dos ossos da alma aos trambolhões
pelos incolores famintos da rua que o mar voa.

Laico vai o sorriso do inverno
na cama da distância que separa o peixe
da ilusão das pontes da carne tricotada de pernas abertas.

Lenta vai a janela às moscas
na surdez do sono que pinta a insónia
com cardumes de açaimes calados na voz do poeta.

Babada vai a terra de fome
cuspida às gaivotas no cio de um sol fêmea
pelo pénis da loucura que sodomiza o ventre do verbo ser.

A chuva do poema foge às cavalitas da estrada
por escrever no formigueiro do corpo quando a musa
se despe em beijo qual rosa desabroche nas nesgas do peito.

 

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Domingo, Mayo 15, 2011 - 17:51

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Henrique

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