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A verdade incómoda

Ontem desenhei-te com as mãos,

de olhos fechados, memória em alerta

Os meus dedos flutuaram no ar explorando os teus traços

e os meus lábios humedeceram a cada descoberta

 

És feito de ar e de ar que provém dos sonhos

e por tal, não existes!

Ainda que pense em ti sem qualquer fundamento

Ainda que utopicamente respires dentro de mim

 

Ontem, eras uma ideia fixa, um devaneio

Vi-te de olhos fechados, memória desperta

O meu corpo sucumbiu e o meu espírito deslizou no infinito

Ainda que não existindo, encontrei-te!

 

Ao ver-te, recordei como são feitos de ar todos os meus sonhos,

fluidos que persistentemente respiro

Ilusões que cultivo apenas para meu consumo,

Meio pelo qual mudo a forma e evaporo.

 

Ontem, fecharia os olhos a todas as tuas faltas,

selando-as com o lacre contido nos meus beijos

Na memória evitaria a sobrecarga e esquecendo

as tuas impurezas, receberia os teus desejos.

 

Mas eu vivo em torno do ar, alimentando o meu vício,

sem traficar sonhos, nem qualquer ilusão

A verdade torna-se incómoda e os traços desenhados

são linhas poucos seguras, perdem a coesão.

 

Ontem, pintei-te com os dedos,

a memória revelou os seus segredos

Hoje, o ar está impuro e contaminado sufoca

A verdade incómoda: o Amanhã já não importa!

 

Publicado no Blog Broken Wings e no Blog da PEAPAZ

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terça-feira, março 15, 2011 - 12:02

Ministério da Poesia :

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Ema Moura

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