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QUANDO O AMOR É O CALÃO DE TODOS OS SENTIDOS
Na ponta dos dedos do tempo,
direcções são unhas de culpa cujo gume
é um olhar cego para trás das costas.
Traseiras onde o espaço é um livro
cujas letras são inocências perdidas
qual agulha fosse poesia perdida
no palheiro da voz.
Um livro
onde os parágrafos socalcam os olhos
que não se sabem ler sozinhos.
Olhares analfabetos
ao que a alma escreve
qual estrela cadente rasgue a noite
sem que seja vista.
Cada página
é uma lufada de ar ilustrada em frescuras
qual suspiro jorrasse água fria aos rios do rosto.
Rios de lágrimas que o corpo sente correrem
num grito onde o prazer é amargo.
Gritos são aragens cujo sopro
são ventos do norte do ego qual barco
seja ferido por derivas tatuadas numa âncora
de tiquetaques como se de um relógio
de instintos se tratasse.
Olhos lêem cores,
distâncias e reflexos,
tornam a curva do arco-íris numa recta
cujo final é um engolir a seco os charcos
da esperança moldada saudade
qual ai fosse a bigorna do peito.
Mãos lêem formas,
desenham tamanhos,
agarram cordas cujos fios
ligam os filamentos do quotidiano aos sonhos.
Ouvidos lêem chamamentos dos horizontes
qual silêncio fosse uma derrocada de vozes
cuja rouquidão fossem epifanias sorumbáticas.
Pés lêem caminhos,
dragam entrelinhas entre o nascer e o pôr-do-sol
qual reflexão fosse uma pedrada no cérebro.
Corpos lêem palavras
em anagliptografia escondida sob a pele
quando o amor é o calão de todos os sentidos.
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