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Ai, ai, Bruno Sanctus - indagou consigo mesma, enquanto franzia o cenho e o rosto vertia-se em sulcos de lembranças - por que você é tão complicado? Deste um giro de 720° em minha vida; foste o primeiro a acalentar-me entre os braços, com tamanha força e segurança que senti-me acolhida, sem que os músculos esboçassem vontade alguma de quebrar meus ossos. Fez-me conhecer lugares que jamais imaginei conhecer: cidades, países, artistas, filmes, livros, personagens, poemas. Sua voz é metrificada. Sua cabeça uma confusão: cheia de cores, imagens, frases, idéias, personagens. Você subverte toda a ordem. Faz todo o discorrer parecer com Xerazade, e eu, ai de mim, imploro para que não pare de falar, pois seus suspiros dão vida à noite oxidada, e espero que esta nunca termine. Ai, ai, Bruno Sanctus - mordeu de leve o lábio inferior e voltou a dissertar - ah poeta, o que tens n'alma? Sempre soube quando contornar a atmosfera com palavras ou quando deixar de ausência as mesmas. Você tem o espirito multifacetado: é homem, é menino e senil. O rosto da vicissitude. Mas, para quê os enteogenos? Eu te quero são. Te quero compartilhando a preguiça de segunda-feira, de pantufas, sob cobertores, inalando o vapor de chá quente, assistindo algum filminho que por ora, torna-se desnecessário citar nome, comigo enlinhada em seus traços. Quero você, entorpecendo as luzes de neon dos motéis pelos quais tenhamos passados nas noites de domingo. Eu, contorcendo-me sobre você, gemendo alto e desmedidamente, desmetrificada, arranhando-o, mordendo-o. Ensopando os lençóis numa enxurrada de gozo e luxuria. Quero ouvir-me reclamando da sua barba hirsuta, enquanto, exausta, tento dormir e a sinto roçando-se em minha nuca. Quero brigar: "pára, mô, minha boceta já está ardendo! Você não cansa?" Ai, ai, poeta maldito, quero você empinando pipa com meus filhos, jogando bola, vídeo-game, ensinando-os a andar de bicicleta, surpreendendo-os a cada dia das crianças e sendo surpreendido a cada dia dos pais. Discutindo com eles sobre desenho, sobre quem será o Batman, todavia quando brincam, quando travam guerra de travesseiro, bagunçam a sala, pulem no sofá, na cama e eu apareça xingando alguns nomes, para ver se consigo impor ordem e depois, rio para mim mesma: "parece uma criança", analisando o quão bobo você é. Quero aquele gosto de poesia que você tem nos lábios mesclado ao cheiro de álcool vínico do seu suor, aquele olhar de utopia, de pesquisa e convicção. Eu quero, por ora, apenas quero, quero que sinta, assim como eu... como eu te amo!
Dedicado a Paloma Oliveira.
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