Oásis
Um lençol de água azul-turquesa ondulava, indiferente ao sol escaldante do deserto.
Cristalino, o riso da água em copos de cristal com perfume a chá de menta.
Largou o vestido nos arbustos, mergulhou, e o vento dançou nas palmeiras.
O cavalo descansava.
A menina nadava, sem se importar, porque amanhã não existe, e hoje, o tempo parou.
Foram dias e noites, semanas incandescentes, marcando passos lentos nas dunas onde o sol ardia mais.
Mergulhava agora, e renascia.
Lavava a alma, para todo o sempre, que é quanto dura um instante inquebrável de eternidade.
E a água levou a exaustão, o vento em pedra nos pulmões. Arritmias e quebras de tensão, no limiar da perda de consciência.
Areias lisas, moldadas pelo absoluto.
Nunca entendeu o fascínio desesperado que exercia sobre si o solo estéril, inanimado.
Os raios de sol em fogo. O ar filtrado a custo.
Tinha o deserto na pele. Inevitável. Permanente. Tatuagem ancestral.
Vibrava em todo o seu ser errante.
Havia um palácio das mil e uma noites, com jardins maravilhosos e flores encantadas que perfumam as estrelas.
Memorias de um tempo por viver. Imagens passageiras e difusas que acordavam a noite nos seus gritos.
Tudo o que deixaria para trás rumo à ilusão desconhecida de um oásis inventado.
Certo dia, um génio azul, soltou-se em nuvem numa caverna, e iluminou a escuridão, no fundo dos seus olhos.
Um desejo? Fugir de tudo o que conhecia.
Pediu-lhe um cavalo. Um cavalo árabe, todo branco, enfeitado com as moedas de ouro que as odaliscas fazem tintilar nos seus véus.
Um cavalo manso, que não a fizesse cair, mas valente e corajoso, que não temesse serpentes ou escorpiões, nem recuasse frente às fileiras de aço dos clãs rivais.
No dorso do seu desejo, conheceu o mundo desaparecido.
A esfinge e as pirâmides.
As galerias de escaravelhos preciosos.
O tesouro para sempre encerrado no mistério das areias.
As mulheres de negro desvendavam-se nas festas da princesa, filha do Sultão.
Eram belas como fadas em longos vestidos etéreos que as faziam flutuar.
Ouviu a música ao longe, já quase ao amanhecer.
O sol ardia no horizonte, devagarinho, desvendando sombras.
Desmontou.
No poço real o cavalo bebeu o seu reflexo.
Viu os convidados partir.
Homens de branco e mulheres de negro regressavam de camelo ao mundo das sombras que ditava os seus dias.
O palácio adormeceu… e a vida resplandecia no brilho novo da manhã.
Encheu os olhos daquela luz e contemplou a beleza do silêncio.
Clandestina, do seu porto seguro.
O Oásis onde seria feliz.
Largou os farrapos do vestido em pó sobre um arbusto e mergulhou num lago brilhante de turquesas.
O horizonte do seu deserto.
O génio sorriu de uma nuvem.
Ela ainda não sabia, mas tinha chegado a casa.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1287 reads
other contents of JillyFall
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | espelho meu... | 7 | 619 | 03/01/2010 - 22:02 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | um dia... | 7 | 337 | 03/01/2010 - 22:14 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | eco | 6 | 547 | 03/02/2010 - 04:07 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | cinzas | 8 | 474 | 03/02/2010 - 15:20 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | era uma vez.. | 6 | 343 | 03/02/2010 - 15:24 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | paisagem | 3 | 435 | 03/02/2010 - 16:41 | Portuguese | |
Poesia/Love | imerge das brumas | 4 | 638 | 03/02/2010 - 16:41 | Portuguese | |
Poesia/Love | sem esperança... | 3 | 335 | 03/02/2010 - 16:48 | Portuguese | |
Poesia/Love | do outro lado do abismo | 5 | 591 | 03/02/2010 - 16:49 | Portuguese | |
Poesia/Love | paramos de fingir? | 8 | 928 | 03/02/2010 - 18:26 | Portuguese | |
Poesia/Love | estranho poder.. | 4 | 734 | 03/03/2010 - 15:13 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | manhã | 7 | 1.195 | 03/03/2010 - 15:14 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | dia de rosas vermelhas | 6 | 1.455 | 03/03/2010 - 16:03 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | hoje morri | 5 | 1.490 | 03/03/2010 - 16:07 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | melodrama | 3 | 1.488 | 03/03/2010 - 16:36 | Portuguese | |
Poesia/Love | papagaio de papel | 3 | 1.423 | 03/03/2010 - 16:47 | Portuguese | |
Poesia/Love | disseste | 6 | 1.304 | 03/04/2010 - 13:28 | Portuguese | |
Poesia/General | reflexo | 3 | 1.297 | 03/04/2010 - 13:49 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | think pink! | 2 | 1.577 | 03/04/2010 - 16:11 | Portuguese | |
Poesia/Love | diz-me.. | 2 | 1.495 | 03/27/2010 - 03:58 | Portuguese | |
Poesia/Love | viagem | 2 | 1.401 | 03/27/2010 - 04:04 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Borboleta | 1 | 1.356 | 03/28/2010 - 11:47 | Portuguese | |
Poesia/Love | era uma vez... | 7 | 1.734 | 03/28/2010 - 17:44 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | saudade | 0 | 2.675 | 11/17/2010 - 18:31 | Portuguese | |
Poesia/General | fuga | 0 | 2.346 | 11/17/2010 - 18:31 | Portuguese |
Add comment