Ode a outubro!

Quisera rir de ti, ó tempo insano, algoz
Da minha alma cheia de esperança e luz!
Contudo, eu sei que tu és o mais forte (ô fado!)
E minhas asas, frágeis, não podem voar.
Ainda assim outubro veio, poderoso,
Pintar meu horizonte cinza de outro sonho...

Já vi que não dou conta em verso ou mesmo em prosa
Da praia augusta e nobre lá do Oriente;
Da terra onde pisaram eles, Faraós...

Já vi que não existe mesmo o tal destino
Porque destino meu olhar pro céu nublado
E nem enxergo um Homem Raio, meu parceiro.
Daqueles que me ajudam a subir montanhas
E delir ampulheta que se ri de mim
E diz num escorrer por dentro: “ - Tolo vate!
Teu tempo é curto e tu já viste a Lua cheia
Querer ser Sol se sabe não ser mais que curto
Quartinho que, efêmero, reflete a luz
Do rei que a domina e faz o que bem quer?
Então vê se te enxerga e aceita que teu brilho
Há muito já se foi e é hora de chorar
O leite derramado e ver a terra abrir-se
Para acolhê-lo com a sede mais voraz
Que o flagelo mais temido nessa Era
Que se aproxima tendo em si a água
Que haverá de ser terrível para o mundo”!

Ainda assim, outubro, eu quero agradecer
Porque eu vi o céu e quase o apalpei
Com mãos de um menino, tenro, inocente...

Por que sei o futuro? Não posso mudar
Ao menos um centímetro ao meu favor...

Eu sei que o riso dela envergonha a flor
Que a Primavera quis mostrar como a mais linda!
Eu sei que ela deu uns bons tapas na morte
E ri enquanto lágrimas lavavam face
De bardo alquebrado pela lida dura...

Valeu, outubro, vou ser a grato a ti pra sempre,
Embora o sempre esteja a esvair-se, insano,
E eu fico aqui com nada mais que a lembrança
Enquanto não fechar os olhos e dormir
Para acordar somente quando o Sol vier
E nunca mais deixar a noite se estribar
Dos feitos imperfeitos que tiveram vez
E me venceram só porque amei, de fato,
Sem mesmo ver, tocar, ou ter de volta o amor.

Poeta sangue quente, e alma destemida
Quer fiz chorar por causa da insensatez,
Repare que outubro nos encheu de força
E agora a nós só cabe reverenciar
Esse curtinho tempo que foi favorável
E mesmo com maldade, mal que lhe é latente,
Uniu terra das garças brancas com o fogo
Que alguém botou na Zona Sul de lá do Rio
E se espalhou por causa de Missão dorida
E não mais tarda a extinguir-se, o pobre...

Ronaldo Rhusso

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Friday, December 2, 2011 - 23:45

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