...
Uma conversa imaginada com Joan miró
Por causa dos sonhos lembro-me dele, do seu trabalho poético e plástico. A tela á minha frente tem o titulo' um ventre de femêa repleto de estrelas.
- Sente-se á minha mesa! Vejo os seus olhos inquietos e apetece-me perguntar coisas sobre a sua vida. As minhas perguntas mostram interesse em o despir, um homem despido não tem comparação com o céu azul quando olhado num primeiro momento. O grão da terra e o fumo da chaminé tem a novidade que falta ao corpo. - Como se chama? Chamasse Joan .Gosto do seu nome, podia soletrar o seu nome muitas vezes, soletrar para trás e para a frente como um comboio que come o pó da terra e se intromete no destino das espécies. Faz calor, por causa do calor pode dizer-me a que sabem os frutos? O vendedor, esse homem simples, uma parte ilusão outra parte o esplendor. Esse homem fraco que se abriga nos ramos do outono e que grita como se estivesse num ringue a esmurrar o mundo perfeito. Você recorda os cheiros da sua aldeia, o pão no forno, a chuva, o fogo que aquece as mãos do artesão que trás a noite. Não havia mais nada para começar. Os seus dedoscorriam no papel como um barco a traçar linhas na água. - Você é pintor não é? Os peixes pintam sobre a linha de água e isso é a descoberta do mistério. Lembra-se como ondulava o trigo na seara? Quando olho os seus quadros imagino que você dança, os seus braços estendidos parecem as asas de um pássaro. Você regressou e nós estamos longe, nós que olhamos o seu mundo, a sua criação sem limites. Morrer é outra infancia, outro modo de abordar o desespero. - Você acredita nas almas? Que sei a respeito de aviões de papel?! Os aviões são controlados por gestos. As linhas geométricas, o novo formato do universo. Aproximo-me da fogueira, a fogueira gosta dos livros, de engulir o ego das enciclopédias. Quer saber se as almas frias derretem os relógios? Acha que é melhor perguntar ao Dali, sim os homens apaixonados derretem como relógios. Você sabe como seduzir, o desejo dos seus olhos faz crescer as raizes das árvores e as árvores são seres regressados do mundo do carnaval. Foi terrivel esse periodo em que experimentou a fome, com a fome os espectros na parede tinham a forma de constelações. Li que você subscreveu positivamente o manifesto surrealista. Breton é um grande diabo com alma de grande Deus. É assim como Dali e como Bunuel.
Você já viu aquele filme?! o cão andaluz é um poema incoerente.
É verdade que o seu pai não gostava que você fosse pintor, ser pintor não tinha futuro, não garantia pão na mesa e durante algum tempo trabalhou na ourivesaria de seu pai, tratava da contabilidade, isso deixou-o doente, a familia reparou no seu ar pálido e contrariado. Esteve internado alguns meses, o seu quarto de hospital dava para um pomar. Você imaginou fechar os olhos e desenhar os frutos pelo tacto. As crianças fazem os seus jogos de identificação. A arte que se assume toda completa perdeu o sentido da novidade, do espanto, gosto de ver o café a ferver na chaleira, por aqui há o habito do café, costumo sentar-me na esplanada e olhar os turistas, acho-os comicos e aborrecidos. Pergunto-lhe se gosta de café, já vi desenhos seus nesse papel castanho, pessoalmente também gosto desse formato amarrotado, imagino as bailarinas a dançar com uma saia com vincos, parece que passou por ali um gato...
lobo
nota Esta história está em vias de continuação escrevia-a faz algum tempo, depois perdi parte dos rascunhos, perdi interesse por ela. Pode ser que encontre Miró nalguma da minhas viagens e as conversas fiquem em dia.
lobo
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1304 reads
Add comment
other contents of lobo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Gothic | Na sexta chega a besta | 0 | 2.161 | 11/19/2011 - 00:26 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Bebo o chà | 1 | 2.109 | 11/15/2011 - 02:13 | Portuguese | |
Poesia/General | A loucura dos teus olhos | 1 | 2.650 | 11/13/2011 - 21:55 | Portuguese | |
Poesia/Love | Se eu ficar sem amor | 0 | 2.173 | 11/12/2011 - 14:51 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Na casa de Alba | 0 | 2.075 | 11/11/2011 - 18:59 | Portuguese | |
Poesia/Love | Todo o dia eu fico neste pensamento | 1 | 2.156 | 11/10/2011 - 00:34 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Na praça de Maio | 0 | 1.838 | 11/09/2011 - 17:38 | Portuguese | |
Poesia/General | Não vou aceitar mais pedidos de amizade | 1 | 3.091 | 11/09/2011 - 08:39 | Portuguese | |
Poesia/General | Estás inerte | 0 | 2.770 | 11/08/2011 - 21:04 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | pure de batata | 0 | 3.664 | 11/07/2011 - 20:52 | Portuguese | |
Poesia/General | Eu tinha um caso | 1 | 2.299 | 11/07/2011 - 02:20 | Portuguese | |
Poesia/Love | Lembro-me de ti | 0 | 1.441 | 11/06/2011 - 14:04 | Portuguese | |
Poesia/General | Depois da noite completa | 0 | 1.817 | 11/06/2011 - 12:37 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Aquela musica ainda está gravada | 1 | 2.662 | 11/04/2011 - 18:45 | Portuguese | |
Poesia/Song | A casa amarela | 0 | 2.889 | 11/03/2011 - 11:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Fica ai suspensa nos meus olhos | 0 | 2.272 | 11/02/2011 - 21:17 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Agora eu vou tentar | 1 | 2.290 | 11/02/2011 - 05:17 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Eu tenho o corpo ferido | 0 | 2.672 | 11/01/2011 - 21:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Meu amor | 0 | 1.637 | 11/01/2011 - 12:21 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Fazes as malas | 0 | 2.309 | 10/31/2011 - 17:37 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Cai estatelado no caderno | 1 | 2.431 | 10/30/2011 - 21:09 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Vai o fogo | 0 | 1.819 | 10/29/2011 - 19:20 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O copo está frio | 0 | 2.208 | 10/28/2011 - 14:02 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Eu sempre vou pensar em ti | 2 | 2.882 | 10/27/2011 - 21:16 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Dentro de um olhar | 1 | 2.341 | 10/27/2011 - 20:35 | Portuguese |
Comments
Re: ...
Bom poema, gostei de ler! :-)
Re: ...
"Morrer é outra infancia, outro modo de abordar o desespero. - Você acredita nas almas? Que sei a respeito de aviões de papel?! Os aviões são controlados por gestos. As linhas geométricas, o novo formato do universo. "
LÁGRIMA...