Aos vivos que ficam ou Epitáfio II

Aos vivos, que ficam, deixo aqui o meu consolo:
Nós vamos todos morrer,
- todos nós já sabemos disso -
mas esquecemos que isso nos torna afortunados!
Isso sim é uma dádiva!
A maioria das pessoas nunca vai morrer,
porque nunca vai nascer!
As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar ou no seu,
mas que jamais verão a luz do dia,
e jamais sentirão o calor do sol
e o frescor dos ventos e das chuvas,
são mais numerosas que os grãos de areia do mundo!
Certamente, esses fantasmas não nascidos incluem
poetas maiores do que Shakespeare,
cientistas maiores do que Newton e Einstein!
Sabemos disso hoje porque
o conjunto das pessoas possíveis permitidas pelo nosso DNA
excede em muito o conjunto de pessoas reais que existem e já existiram.
E apesar de todas essas probabilidades assombrosas,
somos eu e você,
com toda a nossa idiotice e nossa banalidade estúpida,
que aqui estamos...
E nós - uns poucos privilegiados que ganharam na loteria do nascimento,
contrariando todas as probabilidades - como podemos nos atrever a choramingar
por causa de um retorno inevitável àquele estado anterior
do qual tão poucos saíram e a infinita maioria jamais saiu ou sairá?

Submited by

Tuesday, October 9, 2018 - 13:39

Poesia :

  • Login to post comments
  • 1817 reads
Your rating: None (6 votes)

MaynardoAlves

MaynardoAlves's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 5 weeks 6 days ago
Joined: 05/02/2010
Posts:
Points: 597

Comments

MaynardoAlves's picture

Aos vivos que ficam ou Epitáfio II

Submitted by MaynardoAlves on Tue, 10/09/2018 - 13:41.

Trata-se de mais uma reflexão sobre a morte, talvez um segundo epitáfio.

Add comment

Login to post comments

other contents of MaynardoAlves

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Song Mil torrentes III (A liberdade de escolha) 1 631 09/29/2016 - 15:35 Portuguese
Poesia/Song Mil torrentes IV (A fé dos nautas) 3 593 09/29/2016 - 15:41 Portuguese
Poesia/Song Mil torrentes V (A razão do viajante) 1 879 09/29/2016 - 15:45 Portuguese
Poesia/Fantasy Milagre 1 612 09/29/2016 - 15:49 Portuguese
Poesia/Thoughts Árvore 1 702 09/29/2016 - 15:52 Portuguese
Poesia/Sonnet O tempo e o vento 1 793 09/29/2016 - 15:57 Portuguese
Poesia/Thoughts Da dor e amor de escrever: um metapoema 1 886 09/29/2016 - 16:01 Portuguese
Poesia/Sadness Sopa de poemas (e as ruas da cidade) 1 685 09/29/2016 - 16:14 Portuguese
Poesia/Thoughts Das mazelas que o tempo impõe ao pensamento 3 882 09/29/2016 - 16:17 Portuguese
Poesia/Thoughts Das mazelas que o tempo impõe ao corpo 1 583 09/29/2016 - 16:19 Portuguese
Poesia/Intervention Ao romper da nova aurora ou Ao cair as verdades arbitrárias 1 1.214 09/29/2016 - 16:24 Portuguese
Poesia/Dedicated Epitáfio 3 521 09/29/2016 - 16:27 Portuguese
Poesia/Meditation Bom dia, ateu 5 1.023 09/29/2016 - 16:29 Portuguese
Poesia/Acrostic Diógenes de Sínope 1 1.290 09/29/2016 - 16:36 Portuguese
Poesia/General A sala de reunião 1 551 09/29/2016 - 16:38 Portuguese
Poesia/Meditation A busca 1 660 09/29/2016 - 16:41 Portuguese
Poesia/Meditation Ápeiron 1 1.796 09/29/2016 - 16:44 Portuguese
Poesia/Aphorism Beda ou Fracasso 1 1.423 09/29/2016 - 17:21 Portuguese
Poesia/Aphorism Hillel 1 1.970 09/29/2016 - 17:28 Portuguese
Poesia/General Calendário 1 943 09/29/2016 - 17:37 Portuguese
Musica/Other Dúvida... 1 10.434 09/29/2016 - 17:38 Portuguese
Prosas/Ficção Cientifica Um fascinante trecho do livro “Fahrenheit 451” (de 1953) - do escritor Ray Bradbury 1 4.719 09/29/2016 - 17:40 Portuguese
Poesia/Thoughts O cínico 1 962 10/10/2016 - 20:30 Portuguese
Poesia/Sadness O desilusionista 1 961 10/11/2016 - 15:17 Portuguese
Poesia/Meditation Evolução? 2 890 10/12/2016 - 13:34 Portuguese