O cavaleiro, a morte e o demônio

O cavalgar lento agora do equino contrasta com sua fúria de minutos atrás
E possibilita ver algumas flores entre as rochas das montanhas
O caminho é íngreme e traiçoeiro
E pode sentir ainda na nuca o bafo quente da sua perseguidora
Silenciosamente ela sorri entre as sombras
Deixando transparecer que ela sabe exatamente em qual encruzilhada
Ele chegará em seu destino final.
Em seu ombro um pequeno ser crava suas garras cada vez mais forte
E sussurra palavras em seus ouvidos:
"Você não é nada, diz o pequeno gênio com voz embargada,
Não passa de mais uma marionete nas mãos dos poderosos"
"Você acreditou nas palavras de um imbecil
E acreditou mesmo que pudesse chegar ao paraíso por isso?:
"Tolos! Todos vocês são tolos em acreditar nessas coisas"
Em sua memória vem o olhar de sua linda esposa
Deixada sozinha a mais de dez anos
Enquanto ele saia para conquistar bravamente a sua liberdade
A espada ainda jorra o sangue
E não consegue dormir por causa dos gritos de horrores
Das vidas que tirou ao fio da espada.
Seu cavalo parece ler seus pensamentos
E pode ver, em meio a escuridão, a foice brilhar
Nas mãos daquela que está sempre a acompanhá-los.
Em sua perseverante perseguição
Ela espreita em cada folha das poucas árvores existentes
Está atrás das grandes pedras
E voa com as nuvens que cobrem a luz da lua.
"Você abandonou a sua esposa e nem sabia que ela estava grávida,
O demônio sussurra em seus ouvidos e suas palavras são como adagas afiadas
Cravam seu coração e o sangra.
"Se realmente fiz isso, pensa consigo mesmo, mereço a morte mais horrível
Entrego-me a você que espreita-me pelo caminho".
Nunca a viu sorrir, mas sabe que ela está triunfante
Sua hora chegou e lamenta não saber ter feito as escolhas certas
Poderia ter sido feliz ao lado de sua donzela
Quem sabe teria visto as crianças correrem pelo cercado
Teria vivido uma vida simples em uma pequena cabana nas montanhas
Mas preferiu a ambição da conquista militar
Afinal era um cavaleiro precisava ter honra.
Sente um vento frio percorrer a sua espinha
Quando ouve o som impetuoso de uma flecha que rompe o silêncio
Apenas sente a sua ponta afiada penetrar sua armadura
Em fração de segundos toda sua vida passa diante de seus olhos
O demônio bate as suas asas e se distancia dele
Enquanto a morte sorri levemente sabendo que venceu mais uma vez
Seus olhos se fecham lentamente e agora só resta um silêncio mortal.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

www.odairpoetacacerense.blogspot.com

Submited by

Saturday, November 27, 2021 - 11:26

Poesia :

No votes yet

Odairjsilva

Odairjsilva's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 2 days 13 hours ago
Joined: 04/07/2009
Posts:
Points: 20755

Add comment

Login to post comments

other contents of Odairjsilva

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts Vivos no hoje que não existe 7 85 12/18/2025 - 12:42 Portuguese
Poesia/Love As delícias do seu amor 7 102 12/18/2025 - 12:38 Portuguese
Poesia/Meditation Ver é um ato de vontade 7 102 12/18/2025 - 12:34 Portuguese
Poesia/Disillusion Digo que é o vento 10 233 12/18/2025 - 12:30 Portuguese
Poesia/Dedicated Ode ao Marco do Jauru 7 303 11/01/2025 - 12:33 Portuguese
Poesia/Disillusion Libertação 7 322 11/01/2025 - 12:32 Portuguese
Poesia/Meditation Os inúteis 7 437 11/01/2025 - 12:30 Portuguese
Poesia/Meditation Caminhar entre pedras 7 302 10/30/2025 - 21:50 Portuguese
Poesia/Thoughts O fardo da vida adulta 7 269 10/30/2025 - 21:49 Portuguese
Poesia/Meditation O incômodo da poesia 7 209 10/30/2025 - 21:47 Portuguese
Poesia/Thoughts Nos bancos escolares 7 404 10/29/2025 - 21:55 Portuguese
Poesia/Meditation Até o limite do silêncio 8 240 10/29/2025 - 21:54 Portuguese
Poesia/Disillusion No vazio 7 289 10/29/2025 - 21:53 Portuguese
Poesia/Meditation O conhecimento 28 424 10/29/2025 - 21:52 Portuguese
Poesia/Passion Toque ardente 7 235 10/28/2025 - 21:04 Portuguese
Poesia/Meditation Não faço barulho 7 350 10/28/2025 - 21:02 Portuguese
Poesia/Disillusion O sonho não realizado 7 272 10/27/2025 - 19:02 Portuguese
Poesia/Intervention Luta cotidiana 7 437 10/27/2025 - 18:57 Portuguese
Poesia/Love Jardins de silêncio 7 442 10/27/2025 - 18:54 Portuguese
Poesia/Thoughts O mal está na letra P 7 402 09/07/2025 - 13:07 Portuguese
Poesia/Passion Desejos que ardem em silêncio 7 367 09/06/2025 - 23:02 Portuguese
Poesia/Thoughts Somos feitos de histórias 7 536 09/06/2025 - 12:54 Portuguese
Poesia/Disillusion Resposta 7 491 09/05/2025 - 18:08 Portuguese
Poesia/Passion Um coração indeciso 7 442 09/04/2025 - 17:50 Portuguese
Poesia/Meditation Mistérios 7 396 09/03/2025 - 18:48 Portuguese