SEM ONDE NEM QUANDO
Temo o poder
da linguagem que amesquinha
o meu ser qualquer coisa senão morro.
Sou corpo amarrado
num sono desnorteado
ao colo de uma insónia intensa,
transformando-me desconhecido
como os mistérios por desmascarar
nas profundezas do oceano por explorar.
Sinto-me eclipse
nas palavras escritas na luz jusante
do meu caminho de sombras agrestes,
aliadas à agonia do meu sorriso perdido
numa ilha qualquer nas minhas visões insanas.
Arrasto-me fantasma
pelos pântanos de um anel de medo
no pânico do meu olhar enforcado nas vozes
dos meus Anjos da guarda salvos pelo meu choro.
Estrangulo o ar que respiro
vezes sem conta a contas com a solidão
no silêncio das bestas que profanam a sepultura
sem onde nem quando no meu cérebro paranóico.
Fecho os olhos
como quem salta de um abismo
neste escuro que me toca a alma de vazio
matando a cor dos corais que restam neste tormento.
Sou filho do tempo
delirando ao vento como um rochedo
desprezado à beira-mar para receber o infatigável
esmurraçar das ondas vivas nesta face esculpida de dor.
Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão.
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1375 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Thoughts | DICÇÃO TRUNCADA … | 1 | 2.413 | 06/04/2012 - 21:14 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | IMPULSO ONDE OS LÁBIOS NADA ENCONTRAM … | 1 | 4.720 | 06/03/2012 - 08:33 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | INFINITO PARALELO … | 0 | 5.599 | 05/31/2012 - 00:26 | Portuguese | |
Poesia/Passion | VAMOS SER LOUCOS … | 0 | 3.375 | 05/28/2012 - 20:10 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | PELA PELE DA MINHA PESSOALIDADE … | 0 | 881 | 05/28/2012 - 02:20 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Music | Nightwish - Sacrament of Wilderness | 0 | 5.883 | 05/26/2012 - 02:08 | Portuguese |
Poesia/Disillusion | GRITO QUE FLAMA A BOCA … | 0 | 1.251 | 05/26/2012 - 01:50 | Portuguese | |
Poesia/Love | CRESCER EM TI | 4 | 3.098 | 05/25/2012 - 02:38 | Portuguese | |
Poesia/Passion | EM TI ESCUTO O MEU SORRIR | 3 | 2.080 | 05/25/2012 - 02:33 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | VERTIGEM INSPIRADA DE MORTE | 5 | 3.871 | 05/25/2012 - 02:30 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | INSPIRO-ME DE FRIO | 4 | 5.045 | 05/25/2012 - 02:22 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | SEM SOMBRA NEM SOL | 3 | 2.148 | 05/25/2012 - 02:21 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | ISENTO DE TENTAÇÕES | 2 | 5.817 | 05/25/2012 - 02:07 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | RECHEIO INCOMPLETO | 7 | 4.635 | 05/25/2012 - 01:52 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | SOU PECADO | 5 | 1.685 | 05/25/2012 - 01:49 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | PRECISAR É PERIGOSO ... | 1 | 2.206 | 05/25/2012 - 01:34 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | MIOLO ABSINTO … | 2 | 2.584 | 05/24/2012 - 21:19 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | IMPERFEITO | 2 | 7.493 | 05/24/2012 - 19:52 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | ENTRE AMAR E MORRER VENHA O DIABO E ESCOLHA | 6 | 4.560 | 05/24/2012 - 19:50 | Portuguese | |
Poesia/Passion | ENCONTRO DOS NOSSOS COLOS | 4 | 2.518 | 05/24/2012 - 19:49 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | ORGASMO INFINITO | 5 | 6.629 | 05/24/2012 - 16:27 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | DURAÇÃO DOS DIAS | 2 | 6.976 | 05/24/2012 - 16:24 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | SOMBRAS DO EGO | 6 | 2.899 | 05/24/2012 - 16:23 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | IGNÓBIL DOS SENTIMENTOS | 3 | 1.416 | 05/24/2012 - 16:22 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | SOBRA DA DOR QUE DEIXASTE | 4 | 2.271 | 05/24/2012 - 16:21 | Portuguese |
Comments
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Intenso, sufocante, derradeiro
Uma ferida do tempo, sem onde nem quando que cicatrize
Poderoso
Abraço
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Cheguei ao fim deste poema sem fôlego...inspirado e sublime numa força que marca a leitura...
Brilhante
Beijos
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Parabéns pelo belo poema.
Gostei.
Um abraço,
REF
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Poema contundente, tristeza profunda, um belo traçado.
Parabens.
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
LINDÍSSIMO POEMA, GOSTEI MUITO!
CHEGUEI ATÉ A TEMER, MAS QUANDO CHEGUEI A FIM FIQUEI FELIZ COM SUA DECISÃO!
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Meus parabéns,
MarneDulinski
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
DESTACO:
"Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão."
PROFUNDO
MT BOM
:-)
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Henrique,
Noite, insônia, passado, tormenta...um coquetel e tanto!! Ainda bem que é um poema onde expressas de forma metafórica toda esta agonia em tristeza sentida. Mas, que não seja o último, pois tua poesia não poderia morrer e do passado só nos resta aprender!
abraço