SEM ONDE NEM QUANDO
Temo o poder
da linguagem que amesquinha
o meu ser qualquer coisa senão morro.
Sou corpo amarrado
num sono desnorteado
ao colo de uma insónia intensa,
transformando-me desconhecido
como os mistérios por desmascarar
nas profundezas do oceano por explorar.
Sinto-me eclipse
nas palavras escritas na luz jusante
do meu caminho de sombras agrestes,
aliadas à agonia do meu sorriso perdido
numa ilha qualquer nas minhas visões insanas.
Arrasto-me fantasma
pelos pântanos de um anel de medo
no pânico do meu olhar enforcado nas vozes
dos meus Anjos da guarda salvos pelo meu choro.
Estrangulo o ar que respiro
vezes sem conta a contas com a solidão
no silêncio das bestas que profanam a sepultura
sem onde nem quando no meu cérebro paranóico.
Fecho os olhos
como quem salta de um abismo
neste escuro que me toca a alma de vazio
matando a cor dos corais que restam neste tormento.
Sou filho do tempo
delirando ao vento como um rochedo
desprezado à beira-mar para receber o infatigável
esmurraçar das ondas vivas nesta face esculpida de dor.
Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão.
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1361 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
![]() |
Fotos/Digital Art | Arraial de Sombras … | 0 | 3.372 | 09/01/2012 - 00:16 | Portuguese |
Poesia/Meditation | ARRAIAL DE SOMBRAS … | 0 | 5.183 | 08/31/2012 - 23:35 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | SÓ OS SÁBIOS SABERÃO … | 1 | 1.154 | 08/30/2012 - 20:23 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Music | D.A.D. - Sleeping my day away | 0 | 5.950 | 08/30/2012 - 20:21 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Nature | Vida ... | 0 | 4.551 | 08/30/2012 - 20:15 | Portuguese |
Poesia/Passion | SOB OS PÉS DO TEMPO … | 1 | 3.443 | 08/29/2012 - 10:33 | Portuguese | |
Poesia/Passion | POEIRAS … | 0 | 2.208 | 08/26/2012 - 19:24 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O SILÊNCIO NÃO MATA A PALAVRA … | 1 | 3.380 | 08/26/2012 - 00:37 | Portuguese | |
Poesia/Passion | PEDRA QUE AMOLA O ÂNGULO DAS LÁGRIMAS … | 1 | 3.405 | 08/22/2012 - 13:52 | Portuguese | |
Poesia/Passion | JANELA AOS TOMBOS … | 1 | 3.534 | 08/18/2012 - 19:30 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | PAPEL TONTO … | 0 | 1.846 | 08/16/2012 - 23:50 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | NITESCÊNCIA … | 1 | 3.107 | 08/16/2012 - 20:26 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Nature | BORBOLETA X ... | 0 | 3.564 | 08/15/2012 - 17:10 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Cities | PELAS ESQUINAS DO PORTO ... | 0 | 9.124 | 08/15/2012 - 17:06 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Others | DESTINOS PREMEDITADOS ... | 0 | 4.943 | 08/15/2012 - 17:00 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Art | MEDUSA ... | 0 | 4.374 | 08/15/2012 - 14:35 | Portuguese |
Poesia/Love | VÃO EM TI LONGE OS MEUS OLHOS … | 0 | 2.598 | 08/11/2012 - 23:54 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | ATÉ QUE NADA MAIS FIQUE POR DIZER … | 1 | 5.310 | 08/11/2012 - 22:38 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Landscape | Para lá de tudo ... | 0 | 3.060 | 08/11/2012 - 12:56 | Portuguese |
![]() |
Videos/Music | Nightwish - Wish I Had an Angel | 0 | 5.762 | 08/10/2012 - 23:02 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Bodies | NINHO DE MUSAS | 0 | 5.478 | 08/10/2012 - 22:46 | Portuguese |
![]() |
Videos/Music | Scorpions - Acoustica COMPLETO | 0 | 9.264 | 08/10/2012 - 22:32 | Portuguese |
Poesia/Meditation | CHORO NÃO CHORAR … | 0 | 1.289 | 08/10/2012 - 21:41 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | PENSO PARA ME DESPENSAR … | 0 | 2.135 | 08/02/2012 - 15:46 | Portuguese | |
Anúncios/Miscellaneous - Offers | PcLógica: Clínica Informática | 0 | 9.176 | 08/02/2012 - 00:04 | Portuguese |
Comments
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Intenso, sufocante, derradeiro
Uma ferida do tempo, sem onde nem quando que cicatrize
Poderoso
Abraço
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Cheguei ao fim deste poema sem fôlego...inspirado e sublime numa força que marca a leitura...
Brilhante
Beijos
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Parabéns pelo belo poema.
Gostei.
Um abraço,
REF
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Poema contundente, tristeza profunda, um belo traçado.
Parabens.
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
LINDÍSSIMO POEMA, GOSTEI MUITO!
CHEGUEI ATÉ A TEMER, MAS QUANDO CHEGUEI A FIM FIQUEI FELIZ COM SUA DECISÃO!
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Meus parabéns,
MarneDulinski
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
DESTACO:
"Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão."
PROFUNDO
MT BOM
:-)
Re: SEM ONDE NEM QUANDO
Henrique,
Noite, insônia, passado, tormenta...um coquetel e tanto!! Ainda bem que é um poema onde expressas de forma metafórica toda esta agonia em tristeza sentida. Mas, que não seja o último, pois tua poesia não poderia morrer e do passado só nos resta aprender!
abraço