Nos olhos de Irina
Nos olhos de Irina…
Frio transiberiano que espelham azuis no mármore dos prédios da avenida.
Irina é um aceno, um silêncio que diz sim com saberes engenheiros na fusão detergente que lava escadas a dias.
Irina é uma vénia coitada, um perdão assentido por incursão imigrante.
Não sabe que a olho á hora do almoço sentada no jardim…
Há um restaurante em frente com iscas á portuguesas e um cigarro á porta.
Cá estou…nos olhos de Irina.
Nos confins, a decifrar ventos dos Urais nos longos cabelos loiros vindos da neve e do mistério.
Irina é um anjo de corpo operário que me faz correr cinemas a procurá-la nos cartazes.
Mas não…
Irina importa ao chão é mais baixa que um degrau indiferente como um cão.
Ninguém a vê…chamam-lhe nomes.
Falam em monossílabos velhas escangalhadas com brincos e pó de arroz…Oh menina limpe aqui, Oh menina olhe o chichi, Oh menina olhe o degrau, Irina acede, não diz não.
Vão passando mulheres…a dias.
Lisboa é uma luz vermelha com bandeiras de desprezo.
Por estas noites sós, embarco num bar de vodkas de “paga copo”, paga corpo.
O varão é um cinema com mulheres de um dia á noite com cara de Irina detergente.
Lá está ela, actriz ilusão que lava escadas a dias, agarrada ao esfregão.
Empreiteiros adiposos desfraldados pela braguilha jorram champanhe dos porcos numa baba doentia.
Irina, dança, dançam as irmãs de Irina, dançam os Montes Urais, dança neve da Sibéria, dança o corpo da miséria, dança a alma traficada, corpo de pétala violada, dança Irina dança.
Irina é uma vénia coitada, um perdão assentido por incursão imigrante.
De onde há iscas e hienas rir com nome de restaurante que empratam os chacais…
No recorte dos prédios altos com mármores polidos a dias…
Ali no jardim, estão os olhos de Irina.
São belos, muito belos, daquela beleza que inspira á paixão repentista e poética.
Daqueles imaginares que contam fadas nas histórias borralheiras e pronunciam finais de magia no cume de um beijo…
Teus olhos Irina…
Atravesso a rua e sento-me á sua frente.
Desgraço o olhar para o redor de um vazio fingido pelo canto do olho onde ela mora…
Tudo em muito silêncio, com muito calar, para não doer, para não violar, para não ser balde, esfregona, para não ter de limpar…
O corpo da baba empreiteira regurgitada num vómito nojento, limpa Irina,
o olhar que ejacula pelo cabelo frio como neve, limpa Irina, os cobres de nada que cobrem nada na luta do pão, esfrega Irina, a saudade do tão longe daqui, corre Irina, com tuas irmãs pela mão, com balde esfregão, limpa o corpo vendido, o olhar pervertido, o Oh menina…
Irina é um anjo de corpo operário que me faz correr cinemas a procurá-la nos cartazes.
Engenheira de mármores de pés indiferentes.
Nos olhos de Irina…
Frio transiberiano que espelham azuis no mármore dos prédios da avenida.
Os olhos de Irina espalham mulheres pelas ruas da história…
Mulheres da noite, mulheres a dias…
Mulheres dos dias.
Nos olhos de Irina.
Nos olhos de Irina.
Nos olhos de Irina.
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Re: Nos olhos de Irina
Irina é um aceno, um silêncio que diz sim com saberes engenheiros na fusão detergente que lava escadas a dias.
Irina é um anjo de corpo operário que me faz correr cinemas a procurá-la nos cartazes.
Engenheira de mármores de pés indiferentes.
Espectacular!!!
:-)
Re: Nos olhos de Irina
Nos olhos de Irina…
Frio transiberiano que espelham azuis no mármore dos prédios da avenida.
Os olhos de Irina espalham mulheres pelas ruas da história…
Mulheres da noite, mulheres a dias…
Mulheres dos dias.
Nos olhos de Irina.
Nos olhos de Irina.
Nos olhos de Irina.
Eu leio... a cada leitura, leio sempre como se fosse a última, sempre com o maior admiração para admirar tudo como se fosse a última vez, sempre com o maior sentimento, como se estivesse a sentir pela última vez, como se fosse a última leitura...ainda bem que não é!!
Obrigado!
Um abraço
Nuno
Re: Nos olhos de Irina
E este meu caro Lapis, fez-me cair uma lagrima... Esta tão belo... Pudessem todas as Irinas ver-se retratadas com este respeito, esta dor, esta solidariedade tão pura e tão intima...
Vou-lhe dar favoritos, mas o poema merecia mais, merecia ser escrito nas paredes das ruas, merecia ser declamado em surdina aos ouvidos das pessoas, q se julgam mais pessoas q as Irinas...
Este poema, meu querido Lapis, merecia as leituras todas do mundo q se esquece das Irinas e q as torna do tamanho dos degraus...
Um beijinho grande, muito grande em ti!
E obrigada!
Inês