Amor?
Amor?
O que afinal é esta quimera que tantos buscam e a tanto faz sofrer. Este "El dorado" dos sentimentos, irracional e precioso que faz com que percamos a razão, que a visão fique distorcida, que nos faz ver uma multidão em um salão vazio, que faz com que se transforme em um bordado um único e parco fio. As vezes a mim parece magia, fantasia, desdobramentos do meu próprio ser que se reflete no espelho imaginado de minha particular realidade. Busco tanto que o crio muitas vezes de uma migalha, para poder passear no fio da navalha alegre como se flutuasse nas nuvens. É uma energia, uma eletricidade que invade as células do corpo em um toque, que fica perpetuada, tatuada na pele pela eternidade. Os dias passam e esta tinta não desbota, fica mais brilhante, mas as dores das agulhas que tatuaram minha alma também tornam-se mais doridas. Porque buscamos tanto e senti-mo-nos tão incompletos por sua ausência? Queria não acreditar mais nele, mas não posso. É mais forte que eu. Já disseram-me que isso é paixão. Mas paixão é diferente, paixão é mais egoísta, mais fugas e material, paixão é mais autocentrada e evanescente, pode-se confundir amor com paixão, creio que muitas vezes o fiz. Mas amor... quanto sentimos ele, quando olhamos nos olhos dele, sabemos, basta-nos um segundo, é algo místico, que transcende a razão. Poucas vezes o senti, senti quando olhei a primeira vez o olhar curioso de meu filho quando há bem pouco havia vislumbrado pela primeira vez a luz, o vi no olhar de minha mãe à beira de meu leito, que acreditava ser o de morte, vi no olhar de meu pai ao ver pela primeira vez o neto, nas mãos trêmulas de meu avô segurando as gélidas mãos de minha avó ao despedir-se da vida. Ali sim, ali havia amor. Hoje alimento-me deste amor, deste amor que ficou tatuado em mim, deste amor que senti quando invadiu-me o fogo do olhar de um serafim que me apareceu em sonho e que busco quiçá um dia encontrar na realidade.
Enquanto isso não acontece espero e escrevo dizendo a todos que ele existe, eu vi! Senti porém vi-o evadir-se em uma ruela escura do destino. Não se desesperem, busquem eles dentro de si, nas tatuagens de afeto que as agulhas da vida marca-nos a alma com as indeléveis tintas da felicidade e da tristeza, profundas e imensuráveis.
Isto é o amor, o amor que circunda todos nós e habita todos os corações.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1233 reads
Add comment
other contents of analyra
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Drama | E não é que ele a perdeu? Enquanto ela perdia a vida... | 0 | 3.152 | 06/27/2010 - 20:37 | Portuguese | |
Poesia/Love | Jóia rara | 5 | 1.163 | 06/27/2010 - 08:08 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Não me tirem o que não podem me dar. | 7 | 1.275 | 06/26/2010 - 22:52 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Sentido da vida | 2 | 2.346 | 06/26/2010 - 17:44 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Simbolismo | 3 | 2.129 | 06/25/2010 - 20:04 | Portuguese | |
Poesia/Love | Romantismo | 6 | 1.408 | 06/25/2010 - 01:58 | Portuguese | |
Poesia/General | Versos livres | 7 | 1.470 | 06/24/2010 - 22:57 | Portuguese | |
Poesia/Love | Oração pelos que não sabem amar. | 2 | 1.694 | 06/24/2010 - 22:15 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | No intuito de sermos o que não somos. | 5 | 825 | 06/23/2010 - 21:37 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Paraíso de mim | 1 | 1.646 | 06/23/2010 - 18:49 | Portuguese | |
Poesia/Love | Conclusão | 4 | 1.278 | 06/23/2010 - 15:45 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Vida moderna | 0 | 2.193 | 06/22/2010 - 03:24 | Portuguese | |
Poesia/General | Aliteração | 7 | 2.485 | 06/21/2010 - 22:29 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Um minuto e nada mais... | 3 | 1.284 | 06/19/2010 - 17:08 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | A luz da vela ao pavio do amor. | 6 | 1.101 | 06/19/2010 - 17:06 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Presente do indicativo, futuro subjuntivo | 2 | 1.648 | 06/19/2010 - 17:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O melhor remédio. | 6 | 1.468 | 06/18/2010 - 08:29 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Paralelo universo no mundo do verso | 4 | 1.405 | 06/17/2010 - 01:38 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Conselho a uma gralha triste | 4 | 2.159 | 06/16/2010 - 21:48 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Ilha de mim | 3 | 1.543 | 06/15/2010 - 14:48 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Caminhada infeliz | 6 | 1.636 | 06/15/2010 - 02:47 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | O melhor da infância o pior para os adultos. | 1 | 2.299 | 06/13/2010 - 22:12 | Portuguese | |
Poesia/Love | Amor? | 1 | 1.233 | 06/13/2010 - 15:25 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Somos? | 4 | 1.295 | 06/13/2010 - 04:18 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Noite no campo de ti. | 3 | 1.638 | 06/12/2010 - 21:31 | Portuguese |
Comments
Re: Amor?
Isto é o amor, o amor que circunda todos nós e habita todos os corações.
Este sentimento controverso, que inunda de risos e lágrimas a nossa existencia...Linda homenagem,palavras escolhidas delicadamente por quem tem sensibilidade. Grande abraço