Oráculo (Capítulo III)
Canícula…
Calor…
Ardor…
Arrepio nos acordes das fibras da espinal-medula. Quero-te como a sede procura a água ou o frio procura o calor… És o meu sal, o meu destempero. A regra que foge à excepção e a excepção que busca a regra!
Sei que sou algo tonto, algo imprevisto…algo fora do comum. Ou mesmo ridículo. Mas se não sais aos caminhos do meu encontro e vais a banhos ou aos tinteiros, não faz mal… é a mesma coisa: é com cor mesclada que pinto os teus olhos na minha visão. Campânula de incenso, devota à vida. Cálice de doce alegria e de perfume êxtase.
Não sei bem o que sou, na essência. Vejo-me como forma e presença, contudo não atino com um desígnio evidente. Sei que outra roupa não quero vestir, senão a que costurares; sei que outro sustento não quero ingerir, senão o que confeccionares; sei que outro dogma não quero ousar, senão o que me soprares no querido remanso.
Sei enfim que só sei que tu existes e eu existo, assim, com mais ânimo, esperança e paixão.
Acarinho a vontade de ter-te em mim para sempre e para além do sempre, naquilo que se seguir… Já não te concebo entre a rotina da mortalidade. Abraço-te entre estrelas e na azáfama do cosmos. Dependo do corpo apenas para os rituais; Necessito da alma para a existência dos dias e o prolongamento do nosso querer.
Confesso uma só verdade para remissão da amargura: quero-te mais do que a mim próprio; amo-te e sinto-me perfeitamente agregado a ti... entregue a ti. O meu traço desenha o que te puder dar de melhor; projectar-me em ti e receber a tua luz nos meus recantos mais obscuros.
Confesso uma só vontade para exaltação da felicidade: jamais admito ouvir-te um adeus; refuto qualquer razão que te traga dor… e… procuro o teu SIM em sopinha de letras lançada em prato humilde, de produção, mas grandioso de concepção!
Dás-me o beijo da aliança? Queres subir a um prédio cinzento onde mora a iluminada autoridade da comunhão? Queres assinar o teu pregão, sobre o meu, em civil emaranhar de laços? De cartomante a cartório, ajoelho-me e evoco-te a flor do futuro…
Vem, ninfa da boda…
Andarilhus “(ºvº)”
V : IX : MMVII
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2208 reads
Add comment
other contents of Andarilhus
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | Remos de Vida por Mar Inóspito | 3 | 755 | 07/29/2010 - 01:39 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Derrubar os Nossos Muros | 1 | 697 | 07/29/2010 - 01:38 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Aqueles Que Instigam os Nossos Demónios Cativos | 1 | 901 | 07/16/2010 - 16:58 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | O Drama sem Argumento | 3 | 943 | 05/29/2010 - 16:31 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | O Voar Rastejante | 1 | 660 | 04/25/2010 - 14:09 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | O Uivo da Lua (Um texto comum de MariaTreva e Andarilhus) | 7 | 1.221 | 03/04/2010 - 17:06 | Portuguese | |
Poesia/Love | A Obra do Amor | 4 | 890 | 03/03/2010 - 03:55 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Protege-me com tuas lágrimas | 5 | 647 | 03/03/2010 - 03:51 | Portuguese | |
Poesia/Love | Outra vez... | 6 | 839 | 03/03/2010 - 03:06 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O Tesouro | 4 | 612 | 03/02/2010 - 18:19 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Um Natal Aqui Tão Perto | 4 | 778 | 03/02/2010 - 04:04 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Vestida de Mar (ia) | 4 | 770 | 03/01/2010 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Fado Vadio | 5 | 702 | 03/01/2010 - 16:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Farei de ti um concorrente do Sol | 7 | 852 | 02/28/2010 - 20:45 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Um bom ponto de partida... | 7 | 616 | 02/28/2010 - 20:24 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O Fio Ténue da Marioneta | 5 | 739 | 02/28/2010 - 14:55 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | O Canto Escuro | 7 | 851 | 02/28/2010 - 13:39 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Lições de Vida, Lições de Amor | 5 | 851 | 02/28/2010 - 02:38 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Folha de Outono | 5 | 805 | 02/28/2010 - 02:17 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Guarda-me no teu beijo | 8 | 995 | 02/28/2010 - 01:48 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Coroa de Espinhos | 3 | 811 | 02/27/2010 - 22:07 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | A Pura Dimensão | 3 | 913 | 02/27/2010 - 21:56 | Portuguese | |
Poesia/General | Das Certezas (tomo IV) | 2 | 1.060 | 02/27/2010 - 16:03 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Saída | 3 | 855 | 02/26/2010 - 18:26 | Portuguese | |
Poesia/Love | Obra-prima | 3 | 736 | 02/26/2010 - 18:13 | Portuguese |
Comments
Re: Oráculo (Capítulo III)
Texto bem escrito, boa interpretação das coisas!
:-)