CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Hino à infância
Remotas imagens das moitas
noturnas de quando voltávamos,
meus pais e eu,para a casa de blocos à mostra
que,há mais de quinze anos,
ficara apenas nessa memória
que,embora não queira esquecer-se de nada,
não pode lembrar-se de tudo.
A lua,esquálida como a virgem,
incandesce-nos o caminho de terra
onde,por não enxergarmos com clareza,
pisávamos em pequenos redemoinhos
sujando os nossos pés com a borra
escura do solo úmido.
A ponte que ainda hoje faz a divisiva,
estamentava o mundo de lá,apercebendo-se
cheio de coisas sonhadas,do mundo de cá,
negro como ruas desertas onde se desvanecem
o encanto da criança assustada.
E meu pai ficava ali,ao pé da varanda,
fumando o seu cigarro proibido com
os seus colegas proibidos,
enquanto a minha mãe requentava
a janta no fogão vermelho
que já não existe,com o desvelo
da senhora de casa dedicada
aos cuidados do seu homem
e da sua criança pequena.
Num lapso de memória,como se fosse arrancada
da minha cabeça quando,procurava
nos comodos folgados da casa grande e sem reboco
pelo braço de meu pai,esperando encontrá-lo
para jogarmos a bola que ficara parada
na pequena casinha onde se guardava as velharias
inutilizadas por nós - não o encontrava.
Deixara-me o meu pai de olhos ressequidos,
já não havia lágrimas nem o seu rosto nos meus olhos;
ficara no meu nome um Silva do qual já não mais lembrava,
restara apenas a semente de uma esperança infantil
no meu pequeno coração indefeso e triste,
a bater bola no quintal sozinho,
com as janelas dos dentes abertas
e magermo feito um couriço.
No varandão,avenida de terra batida que ficava
logo em frente a minha casa,perambulava com
os vizinhos peraltas que moravam na residencia dos fundos.
Eu,Paulinho e Dudu,os tres heróis desconhecidos pelo mundo,
procurando os vilões que ainda nem existiam,
fazendo do cabo das vassouras espadas mortíferas
e poderosas,proferindo palavras,tão inocentes,
de uma fúria carinhosa.
De tanto pensar nestes que ficaram,sobra-me lágrimas
ressentidas nos olhos.E ter de ouvir de toda essa gente
grande palavras insolentes que ali não caberiam,
ser ignominiado e malvisto por sempre pegar
esse intinério para dentro que me faz indiferente,
impossibilita-me de ter comunhão com estes
que se destituem de suas memórias.
E pensar que posso morrer nesse fim de mundo
fazendo essa vã literatura que tem me custado a vida...
De que adianta qualquer coisa?
O melhor é olhar pra trás.
Submited by
Ministério da Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 450 leituras
other contents of joaopaulo19
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/Intervenção | O poema subjetivo | 0 | 381 | 11/19/2010 - 19:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Desilusão | Canção para Bia | 0 | 330 | 11/19/2010 - 19:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Da criação | 0 | 399 | 11/19/2010 - 19:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | À la tombée de la nuit | 0 | 364 | 11/19/2010 - 19:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | O poema subjetivo | 0 | 772 | 11/19/2010 - 19:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Meu cachorro Pingo | 0 | 493 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Aforismo | Carta ao exímio monsieur Hélio | 0 | 350 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Aforismo | Hino à infância | 0 | 450 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Depressão | 0 | 438 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Morte no ônibus | 0 | 317 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | O comunista | 0 | 355 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Sem forças para ir adiante | 0 | 318 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Evocação | 0 | 299 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | A verdade | 0 | 394 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Do mistério corpóreo | 0 | 370 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Eu quero triste | 0 | 394 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Adeus | 0 | 376 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | De Leningrado | 0 | 380 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Ninfetinha | 0 | 552 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Iconoclastia | 0 | 371 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Do poeta | 0 | 359 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | À igreja | 0 | 384 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Soneto sem nome | 0 | 438 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Morte diária | 0 | 383 | 11/19/2010 - 19:21 | Português | |
Ministério da Poesia/Intervenção | Olá, Monotonia | 0 | 424 | 11/19/2010 - 19:21 | Português |
Add comment