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Hino à infância

Remotas imagens das moitas
noturnas de quando voltávamos,
meus pais e eu,para a casa de blocos à mostra
que,há mais de quinze anos,
ficara apenas nessa memória
que,embora não queira esquecer-se de nada,
não pode lembrar-se de tudo.

A lua,esquálida como a virgem,
incandesce-nos o caminho de terra
onde,por não enxergarmos com clareza,
pisávamos em pequenos redemoinhos
sujando os nossos pés com a borra
escura do solo úmido.

A ponte que ainda hoje faz a divisiva,
estamentava o mundo de lá,apercebendo-se
cheio de coisas sonhadas,do mundo de cá,
negro como ruas desertas onde se desvanecem
o encanto da criança assustada.

E meu pai ficava ali,ao pé da varanda,
fumando o seu cigarro proibido com
os seus colegas proibidos,
enquanto a minha mãe requentava
a janta no fogão vermelho
que já não existe,com o desvelo
da senhora de casa dedicada
aos cuidados do seu homem
e da sua criança pequena.

Num lapso de memória,como se fosse arrancada
da minha cabeça quando,procurava
nos comodos folgados da casa grande e sem reboco
pelo braço de meu pai,esperando encontrá-lo
para jogarmos a bola que ficara parada
na pequena casinha onde se guardava as velharias
inutilizadas por nós - não o encontrava.

Deixara-me o meu pai de olhos ressequidos,
já não havia lágrimas nem o seu rosto nos meus olhos;
ficara no meu nome um Silva do qual já não mais lembrava,
restara apenas a semente de uma esperança infantil
no meu pequeno coração indefeso e triste,
a bater bola no quintal sozinho,
com as janelas dos dentes abertas
e magermo feito um couriço.

No varandão,avenida de terra batida que ficava
logo em frente a minha casa,perambulava com
os vizinhos peraltas que moravam na residencia dos fundos.
Eu,Paulinho e Dudu,os tres heróis desconhecidos pelo mundo,
procurando os vilões que ainda nem existiam,
fazendo do cabo das vassouras espadas mortíferas
e poderosas,proferindo palavras,tão inocentes,
de uma fúria carinhosa.

De tanto pensar nestes que ficaram,sobra-me lágrimas
ressentidas nos olhos.E ter de ouvir de toda essa gente
grande palavras insolentes que ali não caberiam,
ser ignominiado e malvisto por sempre pegar
esse intinério para dentro que me faz indiferente,
impossibilita-me de ter comunhão com estes
que se destituem de suas memórias.

E pensar que posso morrer nesse fim de mundo
fazendo essa vã literatura que tem me custado a vida...
De que adianta qualquer coisa?
O melhor é olhar pra trás.

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segunda-feira, fevereiro 8, 2010 - 07:02

Ministério da Poesia :

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joaopaulo19

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