Sem título II

Era sábado, e chovia. Chovia como se o céu estivesse desabando sobre a menina que andava pela rua. E ela, desatenta, esquecia-se de si. Pela cabeça, iam-se um milhão de pensamentos fugidios, que relampejavam e passavam sem mais mérito. Pisava com força, trilhando o camiho de poças d'água na calçada, como se isso fosse afugentar um ou outro pensamento que não lhe agradava. "...Quero ser chuva..." pensava ela. Mas, como os outros, esse pensamento afastou-se e deu lugar ao que haveria no jantar, pizza, trabalho, e então à percepção de que seus tênis estavam realmente molhados... Pareciam pesar como se feitos de chumbo...

"Não, não é chuva que quero ser. Eu quero ser céu." Céu? Como assim céu? Céu.. Quero ser céu, nuvem, chuva, vento. Quero voar como um pássaro. E assim ia a menina pela rua, com seu passo calmo de quem se nutre da água pura que caia naquela tempestade, a pensar sobre liberdade.