A PITONISA

A Pitonisa

Hoje apeteceu-me ir
Até onde desejara eu o porvir,
Onde o meu ego julga estar,
O êxtase, a paixão, a morar.

Vai daí, os meus olhos encerrei
E devagarinho relaxei.
E leve, senti-me a flutuar
Depois do meu corpo abandonar.

Telhados, terraços e torres sobrevoei!
E numa nuvem alva me balancei!
A aeronave em que se transformou
E pelos céus afora me levou.

Por entre mundos me conduziu
Até que, ao longe uma porta luziu
A entrada numa outra dimensão.
Para as minhas dores, a explicação.

Lá chegada, enchi os pulmões de ar
E lentamente a contar comecei
Um… dois… três…
E com do relâmpago a rapidez
Numa gruta fantástica  achei-me.

Por entre estalactites cintilantes passeei-me
E extasiada de emoção chorei
Até o meu olhar cruzar com o da pitonisa
Momento que o meu coração eterniza.

Na sua frente, reverente, ajoelhei
E que me falasse aguardei
Enlevada no meu sonho acordada
Ouvi-a numa algaraviada
Que não sei como, entendi.

Depois estendeu-me um cofre
Que serenamente abri
Dentro encontro um coração que sofre
Vejo-o amargurado, dilacerado,
A bater sem alento, descompassado.

À pitonisa devo respeito.
Por isso vou cuidar dele direito,
Ajudá-lo a voltar a vibrar
Em ritmo forte e cadenciado,
Fazê-lo sentir-se amado!

Nos meus braços o recolho embevecida
E com toda a meiguice do mundo
Envolvo-o com amor profundo
E liberto-o da minha vida!