22072010 O dia em que a poesia morreu...
O céu enegreceu ante o semblante do teu breu...
A voz embargou-se, soluçou-se e silenciou-se,
escondendo as vogais na arrecadação da ilusão...
Hoje, a poesia morreu.
Vitima de pneumonia atípica ou fatídica,
nem sei...
Tossiu a noite toda, cheia de febre,
com os pulmões infectados de amor,
num delírio constante chamava por nós...
Mas não existia nós, apenas Tu
e apenas eu...
E uma dor imensa que nasceu em mim
e a contagiou...
No fim ela pediu para me aproximar,
queria que eu cumprisse as suas ultimas vontades...
E eu nem tinha coragem para chorar,
quanto mais para cumprir promessas...
Permanecia no quanto do quarto,
a olhar para ela deitada na cama,
amarelada, as letras dos cabelos sem brilho,
as estrofes das faces sem viço,
as metáforas do corpo escanzeladas...
E ainda assim era bela...
Uma moribunda profundamente bela,
sem medo nos olhos ante o rosto da morte...
Morria de pneumonia e de desgosto,
mas morria sem medo...
Pediu-me para lhe dar a mão
e nem isso consegui fazer,
porque estava demasiado ocupada a sofrer...
Inês Dunas
Libris Scripta Est
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1116 reads
Add comment
other contents of Librisscriptaest
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Está a chover, leva chapéu... | 9 | 1.072 | 07/13/2010 - 15:29 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | (In)pressão.. | 3 | 1.111 | 07/11/2010 - 21:40 | Portuguese | |
Prosas/Others | Entra a Tucha, puxa o cabelo, levanta a saia, agacha-se e sai... | 4 | 2.258 | 07/11/2010 - 15:30 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Titulo póstumo... | 3 | 1.108 | 07/10/2010 - 22:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | A primeira vez do tempo... | 9 | 1.126 | 07/10/2010 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sonho entorpecido... | 9 | 1.315 | 07/10/2010 - 22:30 | Portuguese | |
Poesia/General | Morfol(h)ogia... | 8 | 1.241 | 07/10/2010 - 22:28 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Maternidade... | 6 | 1.759 | 07/10/2010 - 22:21 | Portuguese | |
Poesia/Love | E o amor acontece... | 5 | 1.028 | 07/10/2010 - 22:16 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | E... Saio... Sobre a cegueira... | 6 | 888 | 07/10/2010 - 21:43 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Lista de supermercado... | 9 | 1.244 | 06/29/2010 - 14:18 | Portuguese | |
Poesia/Love | Words don't come easy... | 7 | 1.111 | 06/26/2010 - 09:31 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Os olhos tristes de Peter Pan... | 7 | 987 | 06/25/2010 - 14:27 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Flores na campa do meu amor... | 8 | 1.642 | 06/16/2010 - 14:32 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Mais um caco caído no chão... | 6 | 1.109 | 06/14/2010 - 22:21 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Pesadelo da mudez... | 6 | 1.008 | 06/11/2010 - 20:40 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Passaste por mim, no outro dia... | 10 | 1.117 | 06/11/2010 - 20:36 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Tango dolor... | 7 | 960 | 06/11/2010 - 15:24 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | O muro... | 4 | 2.324 | 06/08/2010 - 02:12 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Banquetes romanos... | 6 | 1.269 | 05/31/2010 - 16:30 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Recifes de pecados... | 8 | 1.006 | 05/28/2010 - 15:38 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | O principio do fim... | 4 | 1.305 | 05/26/2010 - 15:39 | Portuguese | |
Poesia/Love | Odeio-te... | 2 | 1.257 | 05/24/2010 - 22:59 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Polinização e clorofila.... | 3 | 972 | 05/24/2010 - 22:52 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Meu estranho fado... | 4 | 1.195 | 05/19/2010 - 11:55 | Portuguese |
Comments
Re: 22072010 O dia em que a poesia morreu...
Libris, minha querida,
A poesia só pode morrer em ti por um dia, no máximo, senão empobrece o mundo...
Este é mais um dos teus brilhantes textos, ondes as metáforas andam sózinhas de tão vivas e expressivas!
Parabéns, querida, pela beleza do relato desta morte!
Um grande beijo em ti!!!
Lila.
Re: 22072010 O dia em que a poesia morreu...
Caramba Inês...Olha dou-te uma estrela das minhas, daquelas que tenho guardadas para emergências, podes colocá-la no tecto do teu quarto...brilha durante toda a noite e no dia seguinte faz renascer poesias mortas.
Está fantástico... *
Bj
Nuno
Re: 22072010 O dia em que a poesia morreu...
Que lindo amiga, que lindo mesmo.
Mas não te preocupa, ele ressuscita sempre.
BEIJOS GRANDES.
Absolutamente maravilhoso de ler.
Estou emocionada.
Favoritos.
Re: 22072010 O dia em que a poesia morreu...
Mas que poderoso e intenso poema querida Ines!!!!
Fantastico!
Vou levá-lo, mas não vou colocá-lo no fundo do baú, estará sempre port perto!
Pediu-me para lhe dar a mão
e nem isso consegui fazer,
porque estava demasiado ocupada a sofrer...
Triste mas muito bom!!
beijinhos do arco-íris
rainbowsky
Re: 22072010 O dia em que a poesia morreu...
Hoje, a poesia morreu.
Vitima de pneumonia atípica ou fatídica,
nem sei...
Tossiu a noite toda, cheia de febre,
com os pulmões infectados de amor,
num delírio constante chamava por nós...
Mas não existia nós, apenas Tu
e apenas eu...
INês, ler-te começa a ser um vício bom, para deleite dos meus olhos e alimento da minha alma, quer xdesta ou de outras incorporadas em mim
O que escreves tem a clareza do sol da manhã, e traz-me todo o sentimento do mundo que cai sobre nós a cada passo que damos
Simples, belo, profundo, com tudo o que se pode reter num belo poema.
Adoro-te/Ler
Bjs