Augusta

Augusta

A avenida é paulista
Mas os pedestres
São de todos os lugares
Cruzam-se, debatem-se e ignoram-se
Em buzinas de sirenes de ambulâncias de polícias
E, do alto, a dupla hélice metálica
Dos helicópteros alternam-se e assistem
Ao drama do cotidiano
Cada vida é uma remessa de jornal encalhado
Um relógio adiantado
Em um braço sempre atrasado
Nas esquinas urbanas, afeto é silêncio
E respeito é indiferença
No escritório, a ansiedade
Espera pelo happy hour do dia
“Talvez amanhã, quem sabe...”
Oitenta leões e uma forca
O dinheiro é o marca-passo
E a apatia é conivente com a bravura
No espaço em que a convivência
É um ato de loucura
Há arte no teto
Um painel em tons de cinza
Anuncia qualquer coisa indefinida
Uma chuva ácida de melancolia cosmopolita
Mas não sobra tempo para detalhes
E cada um é só, mais uma triste interrogação
Que tenta ganhar a vida
Em um dia de um segundo
Numa extraordinária correria comum
Enquanto os monumentos observam estáticos
A genérica beleza da arquitetura humana
Projetada e talhada em concreto e carne
Marcando no mapa as luzes esfumaçadas
De uma ilha de calor carcinogênico
No espetáculo diário dos artistas dos semáforos
E na esmola dada por compensação
O progresso que conheces não tem nome
Malmente aprendeu a ler
Mas é pós-doutor em cálculos de estatística
E cedo ou tarde
Inevitavelmente irá subtrair você

Bernardo Almeida
 

Submited by

Monday, February 28, 2011 - 01:33

Poesia :

No votes yet

Bernardo Almeida

Bernardo Almeida's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 9 weeks ago
Joined: 02/08/2011
Posts:
Points: 336

Add comment

Login to post comments

other contents of Bernardo Almeida

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Passion O veneno da saudade - Bernardo Almeida 0 420 02/28/2011 - 02:11 Portuguese
Poesia/Thoughts Cacos espremidos - Bernardo Almeida 0 432 02/28/2011 - 02:10 Portuguese
Poesia/Intervention Imundo 0 575 02/28/2011 - 02:09 Portuguese
Poesia/Joy Aquele 0 390 02/28/2011 - 02:08 Portuguese
Poesia/Love Clichê - Bernardo Almeida 0 416 02/28/2011 - 02:07 Portuguese
Poesia/Passion Castelo abandonado - Bernardo Almeida 0 677 02/28/2011 - 02:07 Portuguese
Poesia/Thoughts Voto nulo - Bernardo Almeida 0 756 02/28/2011 - 02:06 Portuguese
Poesia/Fantasy Contatos noturnos 0 479 02/28/2011 - 02:05 Portuguese
Poesia/Meditation Mesa farta 0 422 02/28/2011 - 02:04 Portuguese
Poesia/Friendship Amigos do entorno 0 529 02/28/2011 - 02:04 Portuguese
Poesia/Love Amor Lumière (Plus belle) 0 338 02/28/2011 - 02:03 Portuguese
Poesia/Love Cela de ouvido 0 485 02/28/2011 - 02:02 Portuguese
Poesia/Passion Devassa 0 617 02/28/2011 - 02:01 Portuguese
Poesia/Disillusion Abalo Sísmico 0 533 02/28/2011 - 02:01 Portuguese
Poesia/Disillusion Amor perdido 0 370 02/28/2011 - 02:00 Portuguese
Poesia/Meditation Observador 0 372 02/28/2011 - 01:59 Portuguese
Poesia/Intervention Institucionalizado 0 503 02/28/2011 - 01:58 Portuguese
Poesia/Thoughts Molho requentado 0 569 02/28/2011 - 01:57 Portuguese
Poesia/Meditation Morfina 1 717 02/28/2011 - 01:56 Portuguese
Poesia/Meditation Deuses e demônios 0 450 02/28/2011 - 01:54 Portuguese
Poesia/Joy Vale-vida 0 448 02/28/2011 - 01:53 Portuguese
Poesia/Thoughts Leito 0 403 02/28/2011 - 01:47 Portuguese
Poesia/Love Retorno 0 483 02/28/2011 - 01:47 Portuguese
Poesia/Fantasy Atemporal 0 534 02/28/2011 - 01:46 Portuguese
Poesia/Thoughts O brinde da moeda humana 0 366 02/28/2011 - 01:46 Portuguese