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A Ministra Librisscriptaest

Era uma vez uma menina. Naquele tempo supunha-se que ela gostava de escrever versos. Toda a gente que passava à sua porta tentava espreitar pela janela do rés-do-chão através do vidro. Nunca ninguém tinha conseguido vislumbrar sequer uma ponta de caneta ou lápis que indiciasse que era verdade. Certo dia alguém espalhou pela aldeia que ela tinha estado a falar sozinha de uma forma estranha. Que tinha estado a falar com as palavras escritas numa folha de papel, junto ao caminho misterioso.
Contava a lenda que quem atravessasse aquele caminho para ir para o outro extremo da aldeia seria atacado por um ser diabólico e que nunca mais regressaria. Os mais corajosos diziam que faziam e aconteciam, mas no último dos momentos desistiam sempre. Nem o facto de a lenda dizer que se tratava de uma mulher os fazia dar o último passo.
Mordiam-se muitas línguas. Tantas que o senhor Dionísio chegava a ir duas vezes por semana à aldeia para levar medicamentos anti-inflamatórios. Uns queixavam-se do preço, outros achavam que era bem feito, para não falarem tantas parvoíces. Estes acabavam por morder a língua também, mais cedo ou mais tarde. O doce amargo e doce das letras que fecundavam os momentos.

A menina cresceu com a cortina fechada. Os seus cabelos alongaram-se e os olhos ganharam um brilho fantástico. Não havia homem que não sucumbisse ao seu sorriso e ela já não escondia que por detrás daquele rosto silencioso que passeava nas ruas existia uma mulher amante de palavras.
Dona Diolinda desconfiava de tudo e de todos. A menina crescida não era excepção. Embirrara desde cedo, quando ela passava junto ao tanque de lavar a roupa de livros na mão. De caminhar tão distraída com os seus pensamentos nem respondia aos "bons dias" que lhe dirigiu inúmeras vezes. Um dia Dona Deolinda fartou-se e decidiu que não ia ao tanque. Por azar naquele dia ela não passou. E voltou a não passar no outro dia... e no outro. E não mais passou.
Ao que parece atrevera-se a passar pelo caminho misterioso. As pessoas afastavam-se dela. Diziam que ela tinha ficado possuída por alguma coisa ao passar por lá.
libri de seu nome, a menina crescido ria às gargalhadas quando chegava a casa e se deitava na sua cama. Por um lado era esquisito, muito mais do que o caminho, que lhe parecia normalíssimo... por outro sentia-se bem no papel assustador de "ministra diabólica", como o Manuel da frutaria lhe colocara como alcunha.
Sempre tivera aquele bichinho pelo lado escuro das coisas. Adorova dizer mal o nome do rainbowsky. Ele ficava furioso (pensava meio mundo), mas ambos sabiam que era apenas uma brincadeira.
Num alucinante pensamento ele decidiu aventurar-se a convidá-la para um jantar ao luar pontuado por mil e uma estrelas. E seria num dos lados do caminho. De certeza não seriam interrompidos por ninguém e poderiam escrever versos sem palavras à vontade. Naquela noite ouviu-se um uivar por detrás dos arbustos, e o vento mais forte abanar as copas das árvores. Os olhos dela brilharam com intensidade tal que ele, assustado, fugiu com o bloco de notas que levava debaixo do braço e só parou quando chegou a casa. Olhou para trás, ofegante, e percebeu o rasto de folhas que tinha deixado pelo caminho. Mas não ousou voltar atrás para apanhá-las.
Entretanto ela disse aos seus amigos do Norte que tinham ido visitá-la para não uivarem mais nem abanarem as árvores, e todos deliraram de tanto rir.

Quando rainbowsky acordou no dia seguinte e abriu a porta de casa viu que tinha todas as folhas num vaso e uma extra que dizia: Se me pagares o pequeno almoço esqueço que me deixaste ontem à noite. Às 9 no café da Gabriela.
Ele olhou para a mensagem, olhou para a carteira, olhou pro céu (não para ver se ia ou não chover), mas rezando aos deuses para que chegasse e lá foi ter com ela.
Ela fez um ar de zangada, faiscando pelas orelhas... ele pagou o pequeno almoço quase sem pestenejar. Desculpou-se apenas dizendo que tinha deixado a lareira acesa...
A menina levantou-se e foi-se embora a rir sem que ele se apercebesse.
Ele ficou a lavar pratos, porque ainda conseguiu perder a carteira pelo caminho. Ela encontrou-a. Ela abriu-a. Ela viu que ele tinha lá dentro um poema escrito para ela. Ela chorou.

Afinal ela era tão fraquinha que quando a viram chorar pelas ruas da aldeia, toda a gente se esqueceu do que diziam do caminho misterioso e foram espalhar a notícia por todo o lado.
A sorte dela é que ficou mesmo como ministra. Ministra da emoção.
Até a dona Deolinda se emocionou com isso. Emocionou-se tanto que foi a casa dela emocionar-se com ela... e tentar perceber da influência que tinha na cidade junto do Senhor Júlio dos electrodomésticos... a ver se lhe arranjava uma máquina de lavar roupa por um preço irrisório.
Rainbowsky não pediu a menina em casamento nem viveram felizes para sempre.
Zangaram-se.Ele diz que só volta a falar com ela quando ela souber soletrar r-a-i-n-b-o-w-s-k-y.
Ela teima em não o fazer. Nesse aspecto continua terrível. Mas acabam por falar sempre.

A grande verdade é que ainda hoje nunca falta o essencial nos versos de ambos.A paixão está lá. Só nunca dará em casamento.O padre da freguesia até costuma dizer: "Deus os livre de tamanha cobiça!" rainbowsky agradece aos céus, libri chora e emociona-se cada vez mais, cheia que está de saudades dele. Sim... de saudades... que ele nunca mais pagou o pequeno almoço. Daquela vez... lembram-se?! Pois... ele partiu metade dos pratos.

Ela não era assim tão ruim. Na aldeia WAF já se sabe que ela é a Ministra.

Corre-lhe nas veias a sílaba, a palavra, o verso, o poema!

Agora... Diabólica?
O tanas!

rainbowsky

(Num momento de inspiração saiu isto. A nossa respeitada Ministra merece).

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segunda-feira, junho 14, 2010 - 23:48

Poesia :

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rainbowsky

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Comentários

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Re: A Ministra Librisscriptaest

Maravilhoso, grande dedicatoria, merecida...fabulosa historia.

e mais amigo levo-a comigo de tanto que gostei

Abraço
Nuno

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Re: A Ministra Librisscriptaest

Uma imaginação prodigiosa, Poeta.
Gostei muito do que li.
A Inês, merece-o.
Parabéns aos dois poetas desta casa e
um beijo para ambos.
Vóny Ferreira

imagem de Librisscriptaest

Re: A Ministra Librisscriptaest

Meu querido Rain, tu és um fofo!!!
Fartei-me de rir e achei enternecedora a tua historia!!!
Prometo q vou aprender a dizer o teu nome direitinho num futuro proximo, vou arranjar uma explicadora!!!
E se algum dia for à tua terra pago-te o pequeno almoço!!
Beijinho grande, grande em ti e um abracinho!
Inês

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